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19/12/2022 às 07h18min - Atualizada em 18/12/2022 às 08h55min

Crônica | O Natal curitibano e suas contradições

A capital celebra o retorno das mais de 130 atrações gratuitas após dois anos de pandemia

Madson Lopes - Revisado por Flavia Sousa
Rua XV de Novembro, centro de Curitiba. (Foto: Sandra Nunes/Curitiba Cult).
Árvores com cordões luminosos piscando em diferentes cores simultaneamente. Guirlandas decoradas com estrelas de Davi, pinhas e bolinhas enfeitam faixadas de casas e lojas. Em todos os supermercados tem uma ilha de panetone exposta na entrada dos corredores. A cidade inteira está mais vermelha, mais brilhante e bonita. Então é Natal.

Época de reunir a família, e de trocar presentes com os amigos. Época de comer Peru com azeitonas e uvas passas e depois contar piadas ruins: “tudo passa, até a uva passa”. E, claro, época do bolsonarista rever o petista, ambos tiveram seus desafetos políticos, mas agora os dois fingem maturidade enquanto desconversam.


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O retorno do natal

O Natal curitibano é um dos mais intensos do país. Com o tema Celebre a Vida, as programações tiveram início no dia 22 de novembro e conta com mais de 130 atrações gratuitas que ocorrerão até o dia 23 de dezembro. Entre concertos, óperas, balés, feiras, autos e corais, a capital paranaense celebra o retorno dos eventos após dois anos de pandemia, período em que boa parte das atrações teve que ser canceladas ou apresentadas de forma online.

Este ano, a prefeitura espera que o número de turistas supere o natal de 2019 – ultima edição completa –, quando cerca de 700 mil pessoas participaram dos eventos, destes, 100 mil eram turistas. Nas ruas do centro e nos cartões postais da cidade já é possível perceber o aumento.

 
Tradicional Coral de Natal do Palácio Avenida. (Video: Bruno França/Curitiba Cult).

Diferentes experiências de Natal

O fluxo intenso de pedestres no calçadão da Rua XV seja comprando, turistando e fazendo registros de se mesmos, de decorações e arvores de natal gigante, não são capazes de esconder as consequências dos severos dois anos de pandemia. Pois, se as ruas ganharam mais turistas esse ano, também é verdade que ganharam mais moradores. Sim! O numero de pessoas vivendo em situação de rua cresceu bastante em relação ao ano anterior.

Curitiba é atualmente a capital do sul do país com mais pessoas nesta condição. Dados do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) apontam um aumento de 24%. No mês de julho foram registradas no programa 3.087 pessoas vivendo nas ruas. Mas esse número pode ser o dobro, já que metade dessa população não realiza ou conseguem acessar sua inscrição.



Um crítico de Natal

O que acontece com nós, jornalistas e aspirantes, é algo extremamente angustiante. Isso porque, enquanto aprendemos essa profissão maravilhosa, também somos ensinados a militar por causas e estabelecer uma visão crítica sobre tudo. Eu ando nas ruas com um olhar voltado para as pautas sociais, e acabo por não conseguir apreciar plenamente a magia do Natal que permeia a cidade.

Não reparo a beleza das coisas e das cores, pelo contrário, foco nos possíveis exageros. Todos os anos as festas natalinas saem mais caras e luxuosas, e o objetivo é esse mesmo: superar o ano anterior. Em contra partida, a cada ano mais famílias dormirão nas calçadas e passarão o Natal com as mãos estendidas em direção a pessoas apressadas e indiferentes, e mais crianças não ganharam presentes do papai Noel.

O espirito do Natal

Meu senso crítico apurado, alinhado ao desejo de cumprir o ofício jornalístico – que é denunciar as contradições sociais – não pode ignorar o fato de essa época só existir graças aos seus significados.

Na tradição cristã o Natal representa o nascimento do menino Jesus, que nasceu numa manjedoura, com pais pobres vivendo numa terra seca. Mas aquele menino libertaria, enfim, seu povo da escravidão. Ao longo da história, palavras como esperança traduziram a época. Não por acaso, tendemos a ser mais positivos e criar boas expectativas para o ano novo. É para isso que servem essas épocas.

Sei que famílias passarão o Natal em calçadas, alguns em barracas improvisadas, outros em albergues. Porém, preciso ter um olhar mais positivo e afirmar que estas pessoas são as que melhor aproveitam as luzes e decorações, pois tem ruas e avenidas como casa. Também sei que não faltam ONGs que acolhe essa população. Sei que a maioria deles não nutrem boas expectativas para o próximo ano, mas quem sabe, por sorte ou milagre, este ano eles ganharam de presente um Governo mais competente.

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