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29/07/2019 às 11h20min - Atualizada em 29/07/2019 às 11h20min

Produção audiovisual corre riscos no país

Entenda o papel da Ancine e o porquê do presidente questionar seu funcionamento

Maria Clara Monteiro - Cultura
Agência está no centro de debates políticos e pode sofrer graves mudanças. (Foto: Reprodução/Intternet)
A Agência Nacional do Cinema, Ancine, é um órgão oficial do Governo Federal Brasileiro. Foi fundada em 2001, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o portal da Ancine, o seu objetivo é promover uma participação maior das obras audiovisuais brasileiras no próprio país.

Grandes títulos obtiveram destaque graças aos investimentos da Ancine. É o exemplo de Cidade de Deus, filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund que foi lançado em 2002 e conquistou 66 prêmios, além de indicação a 4 categorias do Oscar. O filme mostra a realidade uma favela do Rio de Janeiro e como a juventude convive com a arte, com a violência e com as drogas. Que Horas Ela Volta? conquistou a quem assistiu. Dirigido por Anna Muylaert, o longa trata de um enredo questionador, que foi estrelado por Regina Casé. No papel de empregada doméstica, ela e sua filha enfrentam as barreiras das classes sociais do país.

A inesquecível história de Tropa de Elite, de José Padilha, recebeu 38 prêmios. Na interpretação de Capitão Nascimento, um oficial do BOPE, Wagner Moura destacou-se por sua atuação e por seus diversos bordões. O estudante Matheus Gomes, 20, destaca a sua relação com o filme. "Eu virei fã porque [o filme] mostrou a violência carioca aos olhos dos policiais. Tudo muito realista. Misturou policiais bons com policiais corruptos, a guerra nos morros, as ONGs e os universitários. Transformou o filme em uma narrativa realista".

Wagner Moura se destacou por sua atuação como Capitão Nascimento. (Foto: Divulgação / Internet)

NOVOS RUMOS

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro manifestou a intenção de impor um 'filtro' cultural para a produção de filmes com o apoio da Ancine. "Pretendemos, sim, mexer [para] deixar de ser uma agência e passar a ser uma secretaria subordinada a nós", declarou o presidente.

Bolsonaro criticou a agência pelo filme feito sobre Bruna Surfistinha, uma ex-garota de programa. Segundo ele, não seria possível fazer filme nessa direção com dinheiro público. "Vai ter filtro sim, já que é um órgão federal. Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine. Privatizaremos ou extinguiremos. Não pode é [usar] dinheiro público para filme pornográfico", afirmou Bolsonaro.

Para a ex-diretora da Agência, Vera Zaverucha, não é possível privatizar a Ancine. "Não é uma empresa. [Bolsonaro] está tentando dar um retorno ao seu eleitorado conservador. Censurar conteúdo é inconstitucional".

O professor de História, Pedro Henrique Teixeira, revela a sua preocupação com essa decisão do presidente da República. "A Ancine foi criada com o intuito de estimular o cinema brasileiro.[...] Essa retomada veio desde os filmes de Walter Salles, com o Central do Brasil. [...] A Ancine foi o motor para [impulsionar] essa produção. [...] Essa perseguição ideológica no âmbito do cinema [revela] que o presidente quer trazer o controle dos roteiros de cinemas para ele, [para, assim] julgar o que é conveniente ou não filmar. [...] É uma ditadura por dentro da lei".

Pedro possui um canal no YouTube, em que debate sobre assuntos filosóficos, questões sociais e o seu amor pela História. Escreveu diversos poemas e é envolvido com o mundo das artes. Por isso, ele descreve quais consequências o cinema brasileiro irá passar, caso a Ancine deixe de funcionar. "Vai ter uma redução muito grande em produções diversificadas, que engloba vários setores e várias maneiras de manifestação cultural. Uma diminuição drástica na produção do cinema brasileiro. A cultura é um papel do Estado, para que esta não fique presa a questões de interesses comerciais. Em uma ideologia neoliberal, isso tende a homogeneizar a cultura. Então, não vai ter diversidade cultural. Se a Ancine for extinta, tendemos a ter um cinema monocromático".

A estudante, Angélica Costa, é uma grande fã dos filmes nacionais. O filme Como Nossos Pais, de Laís Bodansky é o seu favorito. Ela destaca o porquê. "Além do roteiro e o nome do filme terem uma ligação com a música Omonima de Belchior, ele é um drama super realista. [...] O seu real impacto vem na história que o filme quer contar e o conteúdo e reflexão que causa".

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Como os Nossos Pais' também é um destaque do cinema nacional. (Foto: Divulgação / Internet)

Perante a ameaça de extinção da Ancine, ela descreve como se sente. "É um acontecimento deprimente. A cultura nacional segue sempre numa contramão das tendências de bom senso e de senso comum. Um país sem cultura é um país sem história. Um país sem história é um país sem identidade. Calar quem tem o ímpeto de retratar as muitas faces do povo é realmente trágico".

Este é o link de acesso para o canal de Pedro Henrique, para quem ficou interessado em conhecer o seu trabalho: https://www.youtube.com/channel/UCva7zOJzXb71sQl7tD9YPVw.

Editado por Alinne Morais

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