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30/09/2023 às 11h31min - Atualizada em 30/09/2023 às 11h12min

Age of Empires é grande aliado em importante pesquisa científica

Railane Moura - Editado por Marcela Câmara
Que o universo dos jogos tem se tornado um aliado de diversas áreas como, por exemplo, a educação, não é segredo para ninguém. Mas um famoso jogo de estratégia em tempo real foi além disso. Age of Empires II: The Age of Kings foi a ferramenta escolhida por profissionais da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth para a realização de um estudo sobre formigas.
 
A princípio, o objetivo do estudo intitulado “Campos de batalha complexos favorecem soldados fortes em detrimento de grandes exércitos na guerra animal” era determinar que as Leis de Lanchester podem ser aplicadas nas “guerras” entre grupos de formigas, leis essas que inicialmente foram desenvolvidas para descrever os avanços tecnológicos anterior a Primeira Guerra Mundial, principalmente surgimento das aeronaves militares.

Estas leis afirmam que o resultado das batalhas de grupo depende da força de combate individual dos soldados ou unidades e do número de unidades nos exércitos adversários. Em outras palavras, um soldado de infantaria sempre perderá para um cavaleiro, mas se colocarmos 10 cavaleiros contra 100 soldados a situação muda completamente. Todos os jogadores aplicam esse conhecimento de forma intuitiva, e dominá-lo muitas vezes faz a diferença entre ganhar ou perder o jogo.
 
Dentro desse contexto conseguimos entender a escolha dos cientistas no uso do jogo para os testes do estudo, uma vez que é fácil aplicar as Leis de Lanchester em Age of Empire e assim realizar os testes sem utilizar espécimes vivas de formigas. Para assimilar o que diz o estudo basta compreendermos dois existentes no videogame e na colônia de formigas: Os cavaleiros, puro poder e a unidade mais forte do jogo, e os soldados com espadas de duas mãos, que têm o menor poder de combate. 
 
A pesquisa se concentrou em duas espécies de formigas: as formigas carniceiras - nativa da Austrália - conhecida pela sua força, mas que vivem em colônias reduzidas e as formigas argentinas - invasoras da região - que apesar de serem 3% menores do que a espécie anteriormente citada, vivem em colônias populosas. Nesse ponto é possível notar o ponto de comparação utilizado pelos pesquisadores, Os cavaleiros também são claramente superiores à infantaria em combate, isto envolve medir forças absolutas e numéricas para criar modelos que possam ser aplicados a situações animais.
 
É a partir dessas informações que Age Of Empire II entra em cena no estudo, criando um campo de batalha personalizado dentro do jogo, os cientistas propuseram dois cenários: o cenário A se trata de um campo de batalha aberto, enquanto o cenário B é um mapa de três ruas estreitas. Em ambos os casos os resultados obtidos eram que o número de cavaleiros (formigas australianas) derrotado tendia para 100% à medida que aumentava o número de infantaria (formigas argentinas). Entretanto, duas diferenças puderam ser notadas. Em lutas com palcos estreitos foram necessários mais soldados para alcançar a vitória e, além disso, houve mais baixas em suas tropas, ou seja, era uma condição favorável para os cavaleiros.
 

Após a conclusão da simulação no Age of Empires II, um teste semelhante foi realizado com formigas reais e a mesma conclusão foi alcançada. As formigas carniceiras nativas da Austrália também venceram facilmente batalhas contra suas inimigas, as formigas invasoras da Argentina, quando os cenários favoreciam conflitos entre grupos menores. Fizeram isso com poder estatístico suficiente para que o experimento fosse considerado válido e publicado na revista PNAS. Mídia respeitável com técnicas de revisão por pares e membro da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
 
Por fim, o estudo mostra como a interferência humana afeta esses “combates”, uma vez que as espécies invasoras com as formigas argentinas ganham vantagens em solos que foram manipulados pelo homem e acabam se assemelhando ao cenário de campo aberto, onde essas espécies têm mais vantagem. Em situações ideais, onde o solo não foi alterado pelos humanos, os campos de batalha se assemelham muito mais ao cenário das ruas estreitas, dando vantagem às formigas nativas e menos numerosas.
 
Age of Empires não só salvou a vida de milhares de formigas e ajudou a aprofundar as pesquisas sobre esses simpáticos insetos, como se tornou uma grande ferramenta de marketing para o estudo. Não é comum que páginas de videogame se interessem por formigas, mas graças a ferramenta escolhida pelos cientistas, hoje elas têm algum destaque.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, william. [Samagames] Um estudo científico usou o Age of Empires para entender como funciona a guerra entre formigas. E o melhor de tudo é que ele conseguiu. Disponível em: <https://samagame.com/pt/latest/um-estudo-cientifico-usou-o-age-of-empires-para-entender-como-funciona-a-guerra-entre-formigas-e-o-melhor-de-tudo-e-que-ele-conseguiu/>. Acesso: 28 set. 2023.

MATHIAS, Viny. [IGN Brasil] Um dos melhores games de estratégia de todos os tempos também é chave para importante estudo científico. Disponível em: <https://br.ign.com/age-of-empires-ii/113984/news/um-dos-melhores-games-de-estrategia-de-todos-os-tempos-tambem-e-chave-para-importante-estudo-cientif>. Acesso: 28 set. 2023.

 
LYMBERY, S. J.; WEBBER, B. L.; DIDHAM, R. K. Complex battlefields favor strong soldiers over large armies in social animal warfare. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 120, n. 37, 28 ago. 2023. Disponível em: <https://www.pnas.org/doi/epdf/10.1073/pnas.2217973120>. Acesso 29 set. 2023.
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