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02/08/2019 às 20h05min - Atualizada em 02/08/2019 às 20h05min

Entrevista: o cinema de Maurício Saldanha

Uma reflexão sobre o ser e estar na sétima arte

Gabrièlle de Faria Sarro - Editado por Mário Cypriano
Montagem - Instagram: @mausaldanha

O que te define? Quais foram suas influências? Para Maurício Saldanha (Mau), o cinema e as artes foram e ainda são formadores de caráter, educadores que o ajudam a encontrar significados para a vida. Maurício é natural de Porto Alegre - RS, atualmente mora em São Paulo. O cineasta faz curtas para o instagram com um olhar diferente sobre o cotidiano e mantem o podcast 'O áudio do mau', trazendo criticas e reflexões sobre filmes.

Cresci em uma época onde o cinema nem 100 anos tinha. Minha bisa tinha mais idade que a sétima arte. E se a minha educação fez-me respeitar os mais velhos, minha curiosidade acerca do novi(a)idade sempre foi gigante. Minhas primeiras lembranças são de um tempo onde nem VHS tinha, até porque lembro de quando chegaram as fitas betamax, que logo então abriram o caminho para as VHS. Então para vermos um filme, tinha que esperar passar na tv ou no cinema. E então logo adiante, ter o filme em casa, em uma fita. Isso tudo era muito excitante, ter em mãos aquilo que só se via em uma tela gigante? Dizer ser mágico é pouco. Não sei explicar em palavras. Sei que sempre senti o cinema como alguém, não alguma coisa. Como uma pessoa mesmo”, diz Mau.

Ele era um dos quatro netos, criados pela avó, a Dona Maria que tinha “mais de cinquenta anos e pouca paciência”. Era a década de 80, onde a diversão era na rua, brincando de cinema e de casa assombrada.

Maurício explica o que para muitos é inexplicável. O poder da sétima arte, de estar presente e de ensinar. Como o cinema ganha significado, uma criação feita para criar ideias, pensamentos, sentimentos; e criar pessoas, personagens do mundo.

O cinema não me vigiava. Me cuidava, mas não ficava de olho em mim, entende? Ele dizia: te cuido aqui, você está seguro, e fique você de olho em mim! O cinema me proporcionou um cuidado ao contrário, desconstruiu o termo criação. Que sempre foi esse, e ainda é. De uma vigília constante, onde a linha entre cuidado e aprisionamento é muito fina. Então o cinema me mostrou a liberdade. E com isso ganhou minha pessoa. Me entreguei pois entrega vem com confiança e sempre confiei muito neste que muito me mostrou sem me cobrar nada. Até porque o preço do ingresso nem do meu bolso vinha. Horas na sala de cinema com tão pouca idade, hoje entendo, como horas de terapia.

 E terapia quando criança, desse jeito, livre? Com terapeutas  como Jack Nicholson, Meryl Streep, Marlon Brando, Al Pacino, Meg Ryan, Julia Roberts? E quando eu conheci o cinema fora do cinema norte americano? Entende? Eu fui para a faculdade com 15 anos! Assistir o cinema do Irã, como eu assisti: locando todas as fitas VHS que tinham na época? Isso ensinou-me mais do que qualquer faculdade poderia ensinar quando lá, seguindo o decurso trivial eu entraria com 17, 18 anos.

Tenho hoje 39 anos. E tento de toda maneira mostrar em minha relações em redes sociais em toda e qualquer expressão minha através do instagram que isso que aprendi: o cinema não é uma possibilidade. É uma realidade. O cinema é um retrato. O retrato: nosso. Ele mostra tudo, o que fomos, o que somos, o que queremos ser. Nossas alegrias, angústias, vontades. A prepotência, arrogância, o medo, desejo, tudo, simplesmente tudo. Vida, esse é o gênero de qualquer filme. É de uma necessidade capitalista generalizar, e por isso que sempre tento falar, o quanto não consigo entender o cinema como terror, ficção, comédia. Isso nos limita tanto: generalizar. Isso nos segrega tanto: separar. Isso é tão inumano: catalogar.

Somos audiovisuais. todos tudo. é: audiovisual. cinema é só o nome que se dá para a ação de registrar vida. Cinema é a vida captada em quantos quadros por segundo você determinar. E o jeito que escrevemos nossos filmes, eis a diferença entre realidade e ficção. O nosso ponto de vista que determina se é verdade e/ou não. Seu coração quem diz que o que você assistiu é verdade ou mentira. É tudo interpretação. Somos ensinados via a interpretação que lá atrás começaram a fazer de tudo e assim passaram adiante. Somos então hoje, fomos e sempre seremos uma reinterpretação do que foi-nos interpretados. Salve Marlon Brando que disse estarmos atuando todo tempo. Somos atuantes. Atuar é representar, exercer. Ser. ou não ser: cinema. Eis a questão.

Pra mim é ser. Escolhi ser: cinema. Escolhi entender que não tem escolha, que sou (somos) som e imagem. Escolhi ser todos os gêneros, para não separar, pra ir em confronto ao preconceito, ao racismo, a ignorância. Eu escolhi meus pais e mestres. Minha mãe! Assim, tirei o peso dos que no registro em papel existe de Luiz e Jane. É demais creditar a dois, o ensinamento de tudo. É menos, entende? É tudo menor  e ao mesmo tempo que grandioso. É um só que ensina. É tudo uma coisa só. Vida. Ela é nossa cuidadora e vice versa. É troca. Ou seja, você é vida, a vida é você. A vida te ensina você ensina a vida. Difícil por palavras fazer-me entender o que entendo. Mas é isso. Estamos sozinhos e todos juntos. Estamos em uma imensa e única sala de cinema. Onde só um filme passa. E o nome dele é vida."

Maurício complementa sua reflexão explicando sobre seu perfil no Instagram, esclarecendo ser "um cinema de curtas metragens, de nano metragens. E se falei que somos cinema. Somos hoje, isso. Cinema. Curto. Nano. Não estamos, já passamos. Eu quero estar, mas num lugar onde todos só querem passar. Mas estou. Tentando. Estar.

Para ver um pouco dessa nano metragem, curta metragem e, provavelmente, assistir a todos os IGTV’s em sequência, transformando-os num longa metragem, siga Mau no instagram: @mausaldanha. Você pode encontrá-lo assim em todas as outras mídias.

 

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