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23/10/2019 às 22h45min - Atualizada em 25/10/2019 às 20h00min

A história dos mangás

Do seu nascimento até os dias de hoje

Jonathan Rosa - Editado por Milena Iannantuoni
Fonte: Crunchyroll
Embora as primeiras manifestações dos quadrinhos japoneses são datadas no século XI, com caricaturas cômicas de animais chamadas “chôjûngiga”, foram necessários 600 anos para que o termo mangá efetivamente surgisse.
 
É difícil dizer com toda certeza quando foi utilizado o nome de “mangá” pela primeira vez, pois até mesmo os historiadores especialistas na área têm dúvidas quanto a isso. Mas há um claro consenso entre pesquisadores de que certamente um dos primeiros com certeza foi o pintor Katsushika Hokusai em 1814 que lançou o primeiro encadernado contendo uma coleção de histórias com desenhos sequências.

A série que teve 15 volumes, foi batizada de “Hokusai Mangá”. Porém, há especulações de que o termo surgiu mesmo em 1798, no livro de figuras “Shiji no Yukikai”, de Santõ Kyõden. Mas, o mais importante é que essa denominação seria consolidada de vez, somente no Japão pós-guerra, com as obras de Osamu Tezuka.


Ukiyo-e do artista japonês Hiroshige (1797-1858). Representações de paisagens eram um tema comum a eles. (Fonte: Reprodução/ Eu desenho)
 
A obra de Osamu Tezuka definiu as características do mangá moderno, influenciado pelos cartoons ocidentais e de quadrinhos clássicos da obra de Walt Disney. Tezuka criou seu primeiro mangá “Diary of Ma-Chan” em 1946 um ano após o final da guerra quando tinha apenas 17 anos. Shin Takarajima (A Nova Ilha do Tesouro), de 1947 foi o primeiro a ser publicado em formato de Tankōbon 
–  termo japonês para um livro único que não faz parte de uma série –  livro independente/ autônomo.

Osamu também é tido como o idealizador do estilo de desenho do mangá com expressões faciais exageradas, elementos metalinguísticos (linhas de velocidade, grandes onomatopeias etc.) e enquadramentos cinematográficos para aumentar o impacto emocional das cenas. O artista foi tão influente que é conhecido como o Deus Mangá.

Na animação, apesar de haver desenhos anteriores produzidos no Japão, Osamu é considerado o fundador da indústria com obras que marcaram a cultura nipônica. Astroboy (1963), foi a primeira série animada da TV japonesa com cronologia contínua e personagens recorrentes além de ser o primeiro anime da história a ter 25 minutos de duração. Outros trabalhos do autor, como Kimba, o Leão Branco e A Princesa e o Cavaleiro, ajudariam a definir em técnicas narrativas e de animação o que hoje é tão reconhecido nos animes.
 
Osamu Tezuka faleceu em 1989 aos 60 anos, vítima de um câncer.

O QUE É MANGÁ E COMO SÃO PUBLICADOS  


Fonte: Omake Gif Anime
 
Mangá é nome dado a todos os quadrinhos no oriente, independentemente de local do mundo onde ele seja escrito, já no ocidente consideramos mangá somente às HQs orientais.
 
A palavra surgiu da junção de dois vocábulos: “man” (involuntário) e “gá” (desenho, imagem). Ou seja, significa “desenhos involuntários”. Não obstante a tradução pode ser vista como “desenhos irreverentes”, pode ser ainda interpretado como “rascunhos livres”. O leitor pode ficar com a que lhe agradar mais.
 
No Japão o hábito de ler quadrinhos é comum, abrangendo públicos de todas as idades. Não é difícil encontrar senhores de idade avançada lendo as histórias. Diferentemente da maioria dos outros países onde os mangás são consumidos geralmente por crianças e adolescentes.


Fonte: Web Japan 

Primeiro os editores dos grandes almanaques japoneses, estudam a preferência dos seus leitores para garantir a variedade de material. Esse retorno é medido por meio de cupons de pesquisa que vem anexados nas revistas. Então, editor e autor definem os rumos da história. Após isso, é feito uma prévia do roteiro e rascunhos das páginas, e assim que são aprovados o material começa a ser produzido.

Muitos artistas criam mais de 20 páginas por semana e só conseguem porque contam com vários assistentes, que fazem arte-final, inserem retículas (que dão sombra e volume aos desenhos), cenários e balões de fala.

As histórias costumam ser publicadas capítulo a capítulo, em almanaques de até 500 páginas, com cerca de 20 séries diferentes e periodicidade semanal ou mensal. Além disso os mangás são feitos em preto e branco e impressos em papel reciclável, o que torna seu preço mais barato e de fácil acesso a todos, depois de lidos, são geralmente jogados no lixo pelos japoneses.

As séries mais populares ganham destaque na capa e nas primeiras páginas. Depois que vários capítulos são publicados, a trama é republicada em edições colecionáveis conhecidas como Tankōbon, é neste formato que os mangás chegam ao Brasil.

É difícil precisar a produção dessas revistass, mas sabe-se que os quadrinhos representam cerca de 40% do que é impresso no Japão e estima que movimenta mais de 4 bilhões de dólares ao ano com cerca de 750 milhões de exemplares vendidos. Fora do Japão os maiores mercados são os EUA, França e Alemanha.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS 


Fonte: Folha Patoense

Os japoneses têm uma longa tradição de humor baseada em caretas e outras expressões engraçadas, juntando isso com a herança que receberam das caricaturas, os mangás e animes desenvolveram uma linguagem própria para as expressões dos personagens. Confira algumas:

Screentone: são adesivos visuais, com padrões específicos usado no fundo das cenas para representar emoções.

Speedlines: riscos transversais nós quadrinhos em cenas de ação, para dar uma noção maior de velocidade e movimento.

Gotinha escorrendo na testa: significa constrangimento, muitas vezes por causa de alguma coisa bizarra ou constrangedora que outro personagem faz.

Olhos brilhando, bochechas coradas: encantamento e sentimento de grande alegria.

Veia saltando: indica a fúria de alguém.

Nariz sangrando: é um sinal utilizado para mostrar que o personagem está excitado.

Fora estes existem mais dezenas de iconografias feita para expressar sentimentos.

ESTILOS DE MANGÁS

Um dos segredos do sucesso desse estilo é a segmentação. Há histórias para meninos, meninas, adultos e jovens, para donas de casa e senhores da terceira idade. E para cada um desses públicos existem vários gêneros: terror, suspense, erótico, ação, aventura entre inúmeros outros segmentos. Nenhum mercado do planeta tem tantas ramificações.

Alguns dos estilos mais populares no Japão e no mundo são:

KODOMO


 Capa de Hamtaro. (Fonte: Tumblr Ham Ham Paradise)

Histórias feitas meninos e meninas de 6 a 11 anos. Ensinam o leitor a se comportar, ajudar e respeitar o próximo, além de ser cuidadoso com os mais velhos. Dão lição de morar e valorizam a importância da família e dos amigos. A arte costuma ser leve, simples e com traços mais arredondados.  
ASTRO BOY, de Osamu Tezuka • DORAEMON, de Fujico Fujio • HAMTARO, de Ritsuki Kawai.

SHONEN


Fonte: Comic Vine

Aventuras com pitadas de humor para meninos de 8 a 18 anos, com um protagonista geralmente com algum poder especial. Ele derrota inimigos com disciplina e força de vontade, e corre atrás de seus objetivos. Tem traços simples, com ênfase no movimento.

NARUTO, de Masashi Kishimoto • DRAGON BALL, de Akira Toriyama • ONE PIECE, de Eiichiro Oda

JOSEI


Fonte: Right Stuf anime

Para mulheres entre 18 e 30 anos, ainda sobre relacionamentos, romances e drama, porém menos idealizados e mais realistas. Nem sempre a história traz um final feliz. Neste mostram garotas entrando no mercado de trabalho ou começando a vida como dona de casa.

NODAME CONTABILE, de Tomoko Ninomiya • NANA, de Ai Yazawa • HONEY & CLOVER, de Chica Umino

SEINEN


Fonte. Good Reads 

Voltados para homens de 18 a 30 anos, com mais violência e apelo sexual. É uma versão adulta do Shonen, o protagonista é trabalhador ou universitário na maioria das vezes, mas também pode ser um cara falido que não sabe o que fazer da vida. Aborda dramas e contextos mais políticos.

BERSERK, de Kantaro Miura • AKIRA, de Katsuhiro Otomo • AFRO SAMURAI, de Takashi Okazaki   
   
SHOUJO


Foto: Capas Sailor Moon. (
Fonte: Yatta Tachi)

Voltando para garotas na adolescência, mostra romances e dramas além de histórias de paixões não correspondidas e a descoberta do amor. Alguns títulos mesclam isso com ação e fantasia. Conta com uma arte delicada e de traços finos.

CARDCAPTOR SAKURA, de Clamp • FRUITS BASKET, de Natsuki Takaya • SAILOR MOON, de Naoko Takeuchi

HENTAI


Fonte:Inion leitor/ Foto. Capa love junkies

Histórias eróticas voltadas exclusivamente para o público adulto. Podem ser de ação, comédia, romance, terror ou qualquer outro subgênero, porém em algum momento do enredo haverá senas de sexo explícito.

COSPLAY KANOJO, de Hiroshi Itaba • FUTARI H, de Katsu Aki • LOVE JUNKIES, de Kyo Hatsuki

YAOI


Fonte: NewPop Shop

Destinado para várias idades, este mangá surgiu de uma vertente do Shoujo, cheio de dramas, paixões incompreendidas e decisões difíceis. Com uma diferenciação: o foco está nos relacionamentos homossexuais entre garotos ou garotas.

LOVELESS, de Yun Kouga • NO. 6, de Atsuko Asano e Hinoko Kino

YURI


Foto: Capa Utena - Uma aventura Mágica (Fonte: Blibioteca Brasileira de Mangás)

Seguindo a mesma linha narrativa do Yaoi, mas exclusivamente com personagens femininas. As histórias têm uma conexão emocional mais intensa, um romance entre duas mulheres que podem ou não chegar às vias de fato. Traz comédia, aventuras, romance e drama.

GIRL FRIENDS, de Morinaga Milk • UTENA – UMA AVENTURA MÁGICA, de Chico Saito e BePapas

GEKIGÁ


Fonte: Cortex Cultural

Apresentando enredos maduros e quase cinematográficos, esse estilo de mangá traz um termo criado em 1950 para diferenciar mangás mais adultos, pois, até então todos eram vistos como infantis. Trazem um traço firme e muito mais realistas que qualquer outro gênero de mangá.

LOBO SOLITÁRIO, de Kazuo Koike e Goseki Kojima • VAGABOND, de Takehiko Inoue

COMO LER UM MANGÁ


Fonte: Wattpad

Para um leitor que lerá um mangá pela primeira vez, é bom saber que existem algumas peculiaridades importantes para se saber acerca do mesmo. Ao contrário dos Gibis ocidentais que são lidos da esquerda para a direita, os Mangás devem ser consumidos totalmente da direita para a esquerda.
 
Quando o primeiro mangá foi lançado no Brasil, em 1988, pela editora Cedibra com o título Lobo Solitário, ele foi adaptado para a leitura ocidental. Isso invertia as artes originais e quase todos os personagens viravam canhotos na obra. Só quando a editora Conrad lançou Dragon Ball, em 2000, os mangás passaram a sair no seu formato original, e lidos “de trás pra frente”.
 
O QUE É, E COMO SE TORNAR UM MANGAKÁ


Fonte: Mangaká - Jamieism

Mangaká é o termo usado para definir uma pessoa que faz, desenha ou cria histórias para mangás. No ocidente o correto é defini-los como desenhista, ilustrador e roteirista, mas com a cultura japonesa em forte crescendo nos últimos anos, o termo passou a ser usado com frequência.

No Japão são tratados como verdadeiras celebridades. Isso ocorre porque durante anos após a segunda guerra, esse braço da cultura Pop foi o mais importante na reconstrução do país, juntamente com os animes.

Na terra do sol nascente, aprender a desenhar é antes de tudo saber compreender toda essa bagagem cultural de décadas. Tanto que escolas de arte e universidades oferecem cursos de Mangá. A duração pode chegar a quatro anos, e algumas destas instituições levam o trabalho dos alunos que mais se destacam diretamente aos maiores estúdios.

Apesar disso é muito difícil um Mangaká iniciante conseguir publicar logo na primeira tentativa. Muitos passam anos tentando e vários desistem antes mesmo de conseguir. Mas existe outra forma de ter o trabalho lançado, é participando de concursos de mangás. A editora Shueisha, que é a maior do Japão tem Golden e Silver Tiara Prize Grand Prix, para suas revistas femininas, e o Jump Tressure, para as masculinas. Além destes existem inúmeros outras competições de outras editoras, em todos os casos são oferecidos prêmios em dinheiro, além é claro, da publicação da história campeã.

Foi em uma destas jornadas para a tão sonhada publicação que surgiu o Mangá Bakuman, lançado no Brasil pela JBC, escrito por Tsugumi Ohba e ilustrado por Takeshi Obata (os mesmos que criaram Death Note), ele conta justamente a trajetória de jovens garotos que buscam ser Mangakás.  

DOUJINSHI


Fonte: Sonhos de Mangaká Brasileiro

O termo doujinshi pode ser traduzido como: publicações feitas de pessoas com o mesmo interesse, ou seja, trabalho de fã. No Brasil é popularmente conhecido como fanzine.
 
As histórias podem ser tanto originais quanto baseadas em obras já existentes. Muitos artistas trabalham com enredos e personagens próprios, mas no Japão o que mais faz sucesso são os doujinshis  baseados em obras famosas. Por ter toda essa cultura do quadrinho, os fãs criam histórias não oficiais na versão mangá, então eles escrevem, desenham e até imprimem para vender seus contos com finais diferentes. 
 
Os autores e editoras não se incomodam com os fanzines, pois suas tiragens de centenas de exemplares não ameaçam as vendas milionárias dos mangás. Vários autores de sucesso começaram como fanzineiros, para depois serem descobertos pelos caçadores de talentos das editoras.
 
LIGHT NOVELS


Fonte: TV Wakai

São como livros ilustrados, geralmente cada Light Novel tem de 10 a 15 ilustrações internas, algumas coloridas outras não e trazem uma linguagem jovial e simples. Em sua grande maioria são livros de bolso com 300 páginas cada. Os gêneros mais comuns de Light Novels são: comédia roomântica e aventura e ação, que podem ou não conter Ecchi (termo dado para Fanservice).
 
As Light Novels geralmente ganham uma adaptação de suas obras para Mangá quando atingem a venda entre 5 e 10 mil unidades por volume e um Anime de 10 a 30 mil unidades por volume (vale salientar que esses números apesar de pequenos são representativos já que Light Novels chegam a ser consumidas 5x menos que Mangás). O anime é geralmente é baseado nas nelas, e tanto ele quanto o Mangá servem para impulsionar as vendas da obra original, por isso muitos deles não passam deles não tem continuação.
 
Novels
 
São livros que só tem ilustração na capa e uma linguagem mais rebuscada.
 
Web Novels
 
São praticamente Light Novels, só que publicadas gratuitamente por autores amadores na internet, quando a obra ganha fama alguma editora pode se interessar por ela e publicá-la no formato de Light Novel.

Mahouka, Re:Zero E Sword Art Online são exemplos deste caso.
 
 
REFERÊNCIAS:
 

Ei, Nerd, Almanaque/ Ei, Nerd. 2017, Editora Universo dos Livros. São Paulo.
 
Mundo estranho. 2017, editora Abril. São Paulo, abril 2017. Mangás e Animes

Mundo Estranho. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quando-surgiram-os-primeiros-mangas-e-animes/> Acesso em 18 de
outubro de 2019
 
É só um Desenho. Disponível em: <https://esoumdesenho.wordpress.com/2014/09/26/historia-a-historia-dos-mangas/> Acesso em 18 de
outubro de 2019
 
Intoxi Anime. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wD6A-ifnoRA> Acesso em 18 de outubro de 2019
 
Start Uol. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=zUhtA8fPYM4> Acesso em 18 de
outubro de 2019

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