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18/11/2019 às 19h06min - Atualizada em 18/11/2019 às 19h06min

Mayans MC e o retrato da realidade latino-americana

"Lidamos com essa realidade e fazemos referência a ela. O clube faz referência a ela. Mas nunca comentamos sobre o governo", diz Sutter ao Deadline

Gustavo Martins - Editado por Bárbara Miranda

FONTE : FX.
 
A série Mayans M.C., spin-off de Sons of Anarchy, escrita por Kurt Sutter e lançada pelo canal FX em setembro do ano passado, apresenta o cotidiano de Ezekiel ‘’EZ’’ Reyes (J.D. Pardo) e dos membros do moto clube que dá nome à obra, sediado na fictícia cidade fronteiriça de Santo Padre – referência à mexicana Santa Madre. Sutter aborda um pouco da realidade latino-americana, inclusive dos inocentes em meio à violência. Dentro do enredo está inserida uma disputa entre o cartel de narcotraficantes da família Galindo, comandado por Miguel (Danny Pino) e os rebeldes liderados por Adelita (Carla Baratta) - na teoria, em favor da liberdade do povo, ainda que por meios violentos, com a prerrogativa de ‘’os fins justificam os meios’’.
 
A começar pelo próprio personagem central, EZ costumava ser um jovem estudante dedicado aos esportes e à universidade, até que sua mãe é morta e ele sente a necessidade de vingá-la. Nisso, Reyes acaba por assassinar um policial de forma não intencional. Na prisão, o protagonista firma um acordo com a FBI para se infiltrar no Mayans M.C., o que acaba transformando sua personalidade ao longo do show, conforme vai se envolvendo com o clube e criando laços, principalmente por causa de seu irmão, Angel (Clayton Cardenas), que o apadrinha como ‘’prospect’’ (iniciados que estão em período de avaliação para se tornarem membros definitivos). A partir disso, os diretores mostram como a violência é capaz de causar um ciclo vicioso em que a vítima passa a fazer vítimas – o que pode ser a realidade de muitas pessoas, principalmente em países subdesenvolvidos, cujos índices de criminalidade costumam ser bem altos.


FONTE : EZ e os membros do clube/Reprodução : Mayans M.C./FX.

A divisão entre os povos

Na trama, o tão famoso muro separatista, citado em diversas ocasiões pelo presidente estadunidense Donald Trump, está construído, dificultando a passagem de imigrantes mexicanos para o lado dos EUA. E, aparentemente, o próprio México precisou arcar com parte dos custos, como é dito por Emily (Sarah Bolger) no episódio ‘’Xaman-Ek’, da segunda temporada: ‘’a cidade está escassa de recursos, enquanto um muro de bilhões de dólares está sendo construído a metros daqui’’. Essa conta prejudicou a economia do local, contribuindo para que as forças paralelas, como o próprio Galindo, que possui grande riqueza, pudessem ter chance de chegar a uma situação de poder (claramente de maneira considerada legal, ao menos oficialmente).


FONTE : Primeira versão do muro separatista sendo pichado por garotos/ Reprodução : Mayans M.C./FX. 

As raízes latino-americanas e as inspirações

Kurt Sutter contou com sua vivência na cultura do motociclismo, além de sua experiência escrevendo Sons of Anarchy. Apesar de todo esse conhecimento, o produtor reconhece ao Times Colonist: "Sei que um homem branco de Jersey não deveria escrever sozinho um programa sobre pessoas de cor’’. Dessa forma, ele optou por chamar o cineasta Elgin James para participar da produção. James é descendente de irlandeses, afro-americanos e dominicanos. Ele cumpriu pena por atividades ilegais enquanto era membro da Friends Stand United (FSU), considerada pelo governo americano como uma gangue de rua. James também conta ao portal que queria usar da sua trajetória no crime para dar maior autenticidade à narrativa. Além do cineasta, alguns atores como Richard Cabral (que interpreta Coco) e Joseph Lucero (dá vida ao Creeper) também já foram encarcerados e viveram à margem da sociedade.
 
Em determinados momentos os personagens falam em espanhol, o que contribui para reforçar as raízes da trama. A equipe faz questão de sempre ressaltar os problemas sociais que rodeia a realidade, incluindo essa questão na letra da música de abertura da série, que faz alusão ao modo como os imigrantes são tratados.


FONTE: Kurt Sutter e Elgin James, os showrunners/Reprodução : FX.  

Mais paralelos com a realidade

Apesar de não ser diretamente apresentado, o cotidiano do povo mexicano é retratado. Em entrevista ao The Wrap no ano passado, Sutter diz, referindo-se à abordagem política: ‘’Nunca nos pronunciamos em relação a isso de forma direta, mas para o show ser autêntico, precisamos citar, porque está bem na nossa cara’’. A série mostra essas questões da fronteira que não costumam ser abertamente discutidas, dando uma maior visibilidade ao povo que vive por lá. "Eles lidam com os problemas que enfrentam diariamente em termos de legalidades, e você conhece a pressão e a dificuldade de ir e vir - como se tudo isso fosse real", comenta o showrunner sobre a carga emocional passada pela ficção.
 
O futuro da produção

Kurt Sutter, criador da obra, foi demitido da equipe por desavenças com a Disney, que adquiriu os direitos do grupo FX. Com isso, o co-criador, Elgin James, passará assumir o seu lugar. A terceira temporada de Mayans M.C. já foi confirmada.

 

FONTE : FX. 


 
REFERÊNCIAS
 
CONTRERAS, R. Small Screen: Mayans M.C. tackles violence on Mexico border. Times Colonist, 02 de set. de 2018. Disponível em: <https://www.timescolonist.com/entertainment/television/small-screen-mayans-m-c-tackles-violence-on-mexico-border-1.23419881> .
Acesso: 13 de nov. de 2019.
 
BOUCHER, A. ‘Mayans MC’ Will Address Border Issues ‘Because It’s Right in Our Face’. The Wrap, 4 de ago. de 2018. Disponível em: <https://www.thewrap.com/mayans-mc-border-wall-kurt-sutter/>
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