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28/03/2020 às 21h39min - Atualizada em 28/03/2020 às 21h39min

Resenha: Minha vida em cor-de-rosa

Filme sobre os desafios de uma criança trans permanece atual mesmo após duas décadas

Antony Isidoro
A protagonista do filme foi interpretada pelo ator Georges Du Fresne / Foto: Reprodução

Uma família acaba de se mudar para um condomínio sofisticado e resolve convidar a vizinhança para um churrasco, na tentativa de cativar os demais habitantes das redondezas.Enquanto o patriarca apresenta um a um seus familiares, o caçula Ludovic, de 7 anos aparece com maquiagem e trajando um vestido, para o espanto dos convidados. Assim se inicia “Minha vida em cor-de-rosa” (Ma vie em rose, no título original em francês), filme de 1997 dirigido por Alain Berliner que retrata o drama vivido por uma criança transgênero, ou seja, que não se identifica com seu sexo biológico, e sim com o gênero oposto.

 

A personagem Ludovic é apresentada como uma menina que nasceu no corpo de um menino, e passa logo cedo a enfrentar preconceitos em cada esfera da vida em sociedade, desde a sala de aula até a própria casa, onde sofre a repressão da família, que tem dificuldades em entender e aceitar o processo pelo qual a criança está passando. 

 

Seus pais muitas vezes confundem a situação como uma questão de sexualidade, e não de identidade de gênero, e tentam convencer aos outros e a si mesmos de que tudo se trata de uma brincadeira infantil, mas que já dura há tempo demais.

 

A preocupação da família com o status parece ser o maior obstáculo diante de Ludovic, que não entende por que é obrigado a viver como um menino sendo que se sente como uma menina. A forma como a situação se desenvolve indica que o comportamento de Ludo até certo ponto era aceito por seus pais, mas deixou de ser quando o que estava em jogo passou a ser a imagem da família diante dos novos vizinhos, o que inclui especialmente o chefe de seu pai.

 

Mesmo mais de vinte anos após a estreia, o filme surpreende ao se mostrar extremamente atual, tanto no assunto como na sua forma de abordagem. Além da falta de conhecimento sobre identidade de gênero e do preconceito contra pessoas trans, “Minha vida em cor-de-rosa” se passa em um cenário onde o machismo e a homofobia são muito marcantes, uma característica que persevera até hoje e conversa com culturas do mundo todo. É por isso que o longa tem um forte caráter quase universal e atemporal de crítica.

 

Chama a atenção o uso intenso feito da fotografia e das cores como recurso para retratar uma sociedade em que os ideais de gênero são muito taxativos. Mesmo no que se refere à identidade da protagonista, há uma linha muito clara que delimita o que é socialmente aceito como sendo do universo masculino e o que é do universo feminino, reflexo do que as pessoas à sua volta entendem sobre cada gênero.

 

O filme contrasta entre o universo infantil que cerca a protagonista, e o peso da cobrança dos adultos à sua volta, que insistem em fazer de Ludovic alguém que ela não é. Elementos lúdicos acompanham a trama do começo ao fim, dando vida aos sonhos e devaneios de Ludo, mas deixando espaço para que a carga dramática cresça gradativamente no decorrer da história.



Editado por Bruna Blankenship

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