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16/04/2019 às 22h56min - Atualizada em 16/04/2019 às 22h56min

Futebol americano no Brasil: o caminho para a profissionalização

O esporte da bola oval conta com um crescimento exponencial no gosto do público brasileiro, porém obstáculos precisam ser superados por quem o pratica por aqui.

Bernardo Nascimento - Editado por Carlos Henrique Correia
Equipe do Vasco entrando em campo pelo BFA, com o seu técnico Bruno Barandas no canto direito da foto - Foto: Divulgação/Vasco da Gama Almirantes
O futebol americano é um dos esportes mais lucrativos no mundo. A final da NFL (National Football League), o Super Bowl, é um dos eventos mais caros no planeta. Com grandes preparativos, comerciais são feitos especialmente para este dia e shows grandiosos são preparados. O jogo decisivo é capaz de atrair, em média, a atenção de 140 milhões de pessoas somente nos Estados Unidos. Astros da música como Beyoncé, Lady Gaga, Coldplay, Red Hot Chilli Peppers e até mesmo o rei do pop, Michael Jackson, já se apresentaram no intervalo da partida. Além dos números que comprovam o sucesso, a popularidade e a quantidade de praticantes aumentou em vários países, incluindo o Brasil.

Por aqui, o interesse, em volta da modalidade, cresceu consideravelmente nos últimos anos. Hoje, contamos com uma liga nacional unificada que agrega times de todas as regiões, a BFA (Brasil Futebol Americano). Porém, diferente do profissionalismo norte-americano, a prática no Brasil conta com os desafios do esporte amador e precisa da paixão dos seus atletas para realizarem os próprios sonhos.
 
Futebol americano no Brasil
 
Muitas das equipes tiveram sua origem na praia, no chamado Beach Football. Somente em 2009 foi criado o Torneio Touchdown, que é considerado o primeiro campeonato brasileiro com equipamentos completos (full pad). Depois, surgiram outros, como a Liga Brasileira e a Superliga. Atualmente a organização é responsabilidade da BFA (Brasil Futebol Americano), que é a liga dos clubes, cuja competição recebe o mesmo nome da entidade. O torneio possui a chancela da CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano) para a sua existência. Diversos atletas que jogam na BFA jogaram nas antigas ligas, como é o caso do Victor Silva, 22 anos, que atua pelo Vasco da Gama Almirantes.
 
“A maioria dos campeonatos que não vingaram foram por falta de profissionalismo e politicagem. O futebol americano sempre teve ligas divididas. Vivi a época do Torneio Touchdown paralelo à Liga da Federação. Hoje em dia a BFA conseguiu unificar os melhores times do país”, declarou Victor.

Assim como o jogador, vários praticantes, treinadores, presidentes de federações, acompanharam essa evolução ao longo dos anos. Bruno Barandas é outro exemplo. Ex-atleta, com 25 anos, parou de jogar por conta das lesões que teve, Bruno hoje é head coach (técnico principal) no Vasco.
 
“Joguei como quarterback na praia, pelo Rio de Janeiro Minotauros e Ipanema Tatuís; e na grama pelo Botafogo Futebol Americano. Em 2015, comecei como técnico de quarterbacks do Vasco. Também já fui coordenador ofensivo e coach na Georgetown University. Após meu retorno no ano passado, voltei ao Vasco, mas como head coach. Hoje o fato de termos um campeonato unificado, e que agora também terá uma divisão de acesso, permite ao público um enfoque maior no cenário do esporte no Brasil. Ao meu ver não foram os campeonatos que falharam sozinhos, a existência de múltiplos ao mesmo tempo por si só foi fator fundamental para a extinção dos mesmos. Obviamente os passaram por grandes controvérsias, mas no fim, foi a busca por parte dos times de um campeonato único e de maior qualidade que deu fim aos anteriores”, acredita Bruno.
 
Os desafios do amadorismo
 
O desejo de trabalhar com aquilo que se gosta passa por diversos obstáculos. O esporte amador impõe um maior número de dificuldades nesse caminho. Atualmente, são poucos os times que podem remunerar, oferecer moradia, bolsas universitárias para os seus atletas. Os treinadores esbarram na falta de material e de investimento para exercerem os seus trabalhos.
 
“No Vasco da Gama Almirantes, os jogadores pagam pelos equipamentos e locomoção para treinos. Uniformes, viagens para jogos como visitante, campo de treino e campo de jogo são fornecidos pelo time”, contou Victor.
 
Além dos empecilhos no campo, existem outras dificuldades, pois os jogadores possuem uma vida dupla, se dividindo entre os seus trabalhos e os treinos da equipe.
 
“Diversas vezes um atleta se vê obrigado a priorizar seu emprego ao esporte por questão de sobrevivência. Além disso, com menos estrutura, os jogadores tem maiores chances de lesão e menores possibilidades de aumento de performance. Um campo esburacado pode gerar uma lesão grave, a ausência de equipamentos adequados também, assim como a ausência de um profissional de educação física e outras áreas da saúde, etc.”, acrescentou Victor.
 
Muitos clubes da bola se oval se apoiam em escudos famosos do nosso tradicional futebol para crescer. Uma das formas de se capitalizar de maneira fácil seria com venda de camisas. Nesse ponto, a imagem do time de futebol americano atrelada ao de futebol ajuda, pois cria uma conexão e uma identificação do torcedor da bola redonda.
 
Outro ponto é a falta de grandes patrocínios. O investidor deseja ter o seu retorno aplicado, e como o futebol americano ainda não é popularmente conhecido no país, esse investimento não vem com facilidade. Esses fatores, entre outros, dificultam a transição do esporte do amador para o profissional nos dias de hoje.
 
“Acho que uma transição total não é algo que podemos esperar de imediato, mas com certeza vai acontecer. Tem muita gente boa e competente batalhando junta pelo desenvolvimento de esporte no país. É claro que não vai ser de um dia pro outro, a profissionalização requer muita organização, trabalho duro, investimento, e, acima de tudo, engajamento do público. A BFA vem fazendo um grande trabalho na direção de profissionalizar o esporte. É uma gestão profissional e inteligente, que vem fazendo o esporte crescer tanto em popularidade, quanto em credibilidade”, elogiou Bruno.
 
A esperança no futuro 
 
Um dos caminhos para o crescimento do esporte é a popularização e isso vem aumentando. A infraestrutura nos estádios ainda atrapalha, mas nos últimos anos, a BFA alcançou média de público no mesmo patamar de grandes ligas profissionais já estabelecidas no Brasil, como a NBB e a Superliga de Vôlei.
 
“O futebol americano já é o esporte que mais cresce no Brasil, o crescimento no número de praticantes é exponencial ano a ano, e somos o maior país consumidor da NFL fora da América do Norte, então estamos sim crescendo, e ainda há muito espaço para crescer, apenas pensando na conversão de consumidores da NFL para o esporte no Brasil”, afirmou Bruno.

Na televisão esses dados são mais expressivos. De acordo com a Global Web Index, o mercado brasileiro (19.7 milhões) é o terceiro maior consumidor de NFL no mundo inteiro, ficando atrás somente dos Estados Unidos (117 milhões) e do México (23.3 milhões).
 
Não há dúvidas de que o futuro é promissor. A dedicação e amor dos atletas e dirigentes, são os principais fatores para se ter a esperança que o futebol americano vai cair nos braços do povo brasileiro.


 

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