Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
03/07/2024 às 12h11min - Atualizada em 03/07/2024 às 12h11min

Crônicas Olímpicas: a superação do vôlei feminino após revés de 2004

Equipe superou crises e derrotas para a Rússia antes das conquistas; jornada rumo ao tricampeonato começa em julho

Paulo Octavio
Brasil celebra bicampeonato olímpico em Londres. Foto: Reprodução/Sportv
"40 anos de conquistas". Esta é a frase em citação a primeira medalha do vôlei -- a prata conquistada pelo time masculino em 1984 -- estampada na manga da camisa que as seleções usarão nos Jogos Olímpicos de 2024. Especificamente, os últimos 20 anos foram intensos para a categoria feminina. A equipe superou um trauma após uma derrota para a Rússia em 2004, conquistou o bicampeonato e agora tem a chance de alcançar o tricampeonato em agosto. Você já leu no Lab sobre a explosiva rivalidade de 1996.

O Brasil participou do vôlei feminino nas Olímpiadas pela primeira vez em 1980. De lá para cá, conseguiu cinco medalhas em dez participações, um dos melhores aproveitamentos do esporte nacional. Foram dois ouros (2008 e 2012), uma prata (2021) e dois bronzes (1996 e 2000).

O "7 a  1" DO VÔLEI

Era a semifinal do vôlei feminino em Atenas, berço dos Jogos Olímpicos, em 2004. A equipe estava vencendo o quarto set por 24 a 19 e tinha sete chances de garantir a vaga na final. Esse placar se transformou em um trauma, assim como o "7 a 1" sofrido pela seleção masculina de futebol na Copa de 2014.

Inexplicavelmente, o time perdeu todos os match points e a partida foi para o tie break. Nele, conseguiu abrir uma boa vantagem, mas novamente o Brasil deixou escapar a oportunidade e ficou fora da decisão. Apesar de Marianne Steinbrecher ter marcado 37 pontos nesse jogo, recaiu sobre ela --  a mais jovem do elenco, com 19 anos a época -- o peso da desclassificação.

"Passei por muitas coisas: assédio, xingamentos, críticas. Enfrentei muitos desafios e até passei por uma cirurgia no ombro logo depois. Disseram que eu não poderia mais voltar a jogar. Mas eu vou ganhar essa Olimpíada", disse para um documentário do Cômite Brasileiro.

CRISE ENTRE MOTTA E JOGADORAS 

Embora muitos lembrem dessa partida, poucos recordam da crise de 2003. Após eliminação dura no Grand Prix e perto do Mundial, o técnico Marco Aurélio Motta pediu demissão para "poupar as atletas de pressão". Mas dias depois afirmou a Folha que foi vítima de um complo capitaneado por Fernanda Venturini, que  criticara o técnico na TV junto com Bernardinho. Motta declarou que a levantadora interferiu em seu trabalho. Já Venturini descartou essa afirmação. Anteriormente, em 2002, o Marco cortou Elisângela do time por problemas disciplinares. Insatisfeitas, outras cinco titulares deixaram a seleção: Érika, Walewska, Raquel, Fofão e Virna.

Foi o capítulo final de uma crise que durou dois anos. Para resolver esses problemas e melhorar os resultados, a Confederação contratou José Roberto Guimarães em 2003.

PRIMEIRO OURO

No ciclo para as Olimpíadas de 2008, houve outro revés. No Mundial de 2006, mais uma derrota para a Rússia, apesar de ter aberto vantagem, não conseguiu superar Gamova, então a melhor do mundo.

Mas a Olimpíada ajudou a curar esse trauma. Com uma campanha avassaladora e com uma derrota em apenas um dos 25 sets jogados, a equipe acumulou vitórias contra Rússia, Itália, Sérvia, e Estados Unidos na final.

Após a decisão, o técnico revelou um sentimento de alívio: "Eu tinha vergonha de sair na rua. Sentia-me culpado por não ter ajudado o time. Nisso, tenho que agradecer à Confederação por ter me apoiado para mais um ciclo", disse à Folha. Mari também se sentiu aliviada com a grande conquista e sua superação após anos de críticas. Porém nas Olímpiadas de 2012 e 2016, ela foi preterida por critérios técnicos. Apesar do Zé ter dito que eles se entenderam, a ponteira pensa diferente: "Não tenho mais relacionamento com ele e não faço a menor questão de ter", afirmou a ex-atleta para Istoé.

Mesmo com título, a Rússia continuou sendo um desafio. Em 2011, houve outra derrota no Mundial. Mas novamente Olimpíadas trariam um resultado diferente.



Canal: Olympics

NOVA REDENÇÃO

O Brasil teve uma má primeira fase com apenas duas vitórias em cinco jogos. A derrota por 3 a 0 para a Coreia do Sul acendeu o alerta vermelho e, após uma reunião interna, a equipe reagiu. Mas precisou de uma vitória dos Estados Unidos sobre a Turquia para avançar para o mata-mata. Devido à má campanha, a seleção teve que enfrentar a forte Rússia. De novo. Em outro jogo tenso, no tie break, o placar apontava 14 a 9 para as russas.

Até que Sheila, remanescente de 2004, teve um estalo. "Eu não quero sentir a dor daquela derrota novamente", disse em uma matéria especial do Esporte Espetacular. No final, a seleção salvou todos os match points e virou a partida.

O resultado foi a injeção de ânimo que o Brasil precisava para conquistar o bicampeonato. Mas não foi fácil. Após derrotar o Japão nas semifinais, enfrentou os Estados Unidos novamente na decisão. As americanas venceram o primeiro set por 25 a 11 e pareciam caminhar rumo ao ouro. Mas a seleção brasileira conseguiu uma virada espetacular e venceu os três sets seguintes.

Foi o fim do fantasma, com nova vitória sobre as americanas e a consagração.



Canal: Olympics

DECEPÇÃO NO RIO E PRATA NO JAPÃO

Nas duas Olimpíadas seguintes, o Brasil não conseguiu o ouro. Foi eliminado nas quartas de final de 2016 pela China. Em 2021, superou a Rússia, mas não repetiu o triunfo de 2012 contra os Estados Unidos e ficou com a prata.

Agora, a seleção vai com moral para Paris. A série invicta na primeira fase da Liga das Nações mostra que o time tem força para brigar pelo título. No entanto, as derrotas contra Japão e Polônia, duas equipes rivais da primeira fase, acenderam o sinal amarelo.

A central Thaisa disse os revéses indicam  um sinal divinino e um propósito maior. Saberemos em julho e agosto o que o futuro nos reserva.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »