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01/07/2024 às 16h05min - Atualizada em 01/07/2024 às 16h05min

Crônicas Olímpicas: A explosiva rivalidade entre Cuba e Brasil em 96

Com receio de derrota e vaidosas por triunfos recentes, caribenhas partiram para provocações que descambaram em violência na semifinal do vôlei feminino

Paulo Octavio
Ana Moser discute na rede com as provocativas cubanas. Foto: Reprodução/TV Globo
Os jogos olímpicos têm o poder de consagrar a união dos povos através do esporte, mas, às vezes, as coisas saem do controle. A rivalidade e a busca pela sonhada medalha de ouro fazem com que muitas atletas abandonem o decoro. Esse desrespeito ao espírito olímpico chegou ao ápice em 1996, durante a semifinal do vôlei feminino entre Brasil e Cuba, em Atlanta.

Jogadoras dos dois times, literalmente, saíram na mão depois de um confronto cheio de provocações. Curiosamente, no começo dos anos 90, as atletas das duas seleções nutriam amizade após a realização de amistosos.

Mas a vaidade cubana, devido à sua hegemonia e vários triunfos por três sets a zero, mexia até com a aparência física. Na final do Mundial de 94, em São Paulo, as jogadoras de Cuba estavam de bobs no cabelo para voltar ao país arrumadas. Isso foi revelado recentemente em matéria do Esporte Espetacular do último domingo (30).

Além disso, havia dinheiro em jogo. Com os triunfos das cubanas, 90% dos ganhos ficavam com o governo e apenas 10% para as jogadoras, como afirmou Virna para o PodcastPod Vip.

Ciente da diferença entre os times, o técnico Bernardinho resolveu pesquisar detalhes sobre as rivais e mudar o treinamento das atletas, incluindo musculação mais intensa. Deu certo. As cubanas sofreram pressão devido à má campanha na fase de grupos, incluindo uma derrota para o Brasil. O triunfo na semifinal era uma forma de responder e conseguir uma vaga no pódio. 

Apesar de Ana Moser afirmar que os berros das cubanas eram uma estratégia do técnico, Bell disse que não foi nada combinado e que as comemorações foram feitas para desconcentrar as rivais. A declaração foi feita em uma matéria do Sportv, que promoveu o reencontro entre Bell, na época jogando pelo São Caetano, e Moser.

Segundo Ana, Regla Torres e Mireya Luis eram as mais exaltadas. “Elas passaram o tempo inteiro nos enchendo a paciência e, quando acabou o jogo, elas continuaram. Então fui pedir respeito pelo nosso esforço, nossa luta e o nosso luto por ter perdido a semifinal”, afirmou ao Globo Esporte. A atacante enfrentou as adversárias na rede por mais respeito. Essa imagem foi uma das marcas desses jogos.

A confusão explodiu devido à incompetência da organização, como descreveu o repórter Marcos Uchoa, na época na TV Globo. A organização proibiu a saída das atletas, pois não sabia quem iria ao antidoping. Além disso, os dois times se encontraram na porta do vestiário. Na entrada, dois seguranças não conseguiram conter a confusão. Ana Paula foi agredida por trás, Márcia Fu e Filó sofreram arranhões, e Ana Moser machucou o pé.

Anos mais tarde, Regla rechaçou as agressões. “Se eu tivesse batido em Ana Paula nas costas, ela não ia poder mais jogar vôlei”, afirmou em um documentário.
Após o tumulto, o Brasil se refez e ganhou o bronze contra a Rússia, que anos depois imporia um trauma para a seleção.

Mas o destino quis que houvesse um novo episódio de conflito. Dois meses depois do confronto na semifinal, as duas seleções voltaram a se enfrentar pelo Grand Prix na China. Após o triunfo brasileiro, Ana Paula Henkel quis devolver as agressões. Ela deu um tapa na rede e saiu correndo. Regla Torres quis revidar e foi interceptada por um membro da comissão técnica que a empurrou.

Devido à agressão, Ana Paula e Filó foram suspensas pela Federação Internacional de Vôlei da última rodada do quadrangular. Apesar dos desfalques e de ter apenas duas reservas, o Brasil venceu o campeonato.

Após o torneio, as seleções planejaram um acordo de não agressão.

Segundo Virna, um detalhe acabou com a hegemonia cubana. O governo de Fidel Castro só permitia que as jogadoras atuassem por times de um só país. Assim, todas foram para a Itália. No entanto, elas se casaram com europeus e não voltaram para Cuba. Depois desse fato, o país perdeu força. Mesmo assim, Cuba bateu o Brasil na final do Pan de 2007.

O episódio ainda serviu para que a arbitragem ficasse mais atenta às provocações e encaradas na rede, de modo a evitar novos tumultos. Embora o esporte ainda seja marcado por várias provocações. Que diga a Mari. Mas essa é uma outra história.

Jogadoras migraram para outras atividades

Décadas depois, muitas das protagonistas da confusão ganharam destaque na TV. Ana Moser foi campeã do reality O Aprendiz (2014) e, posteriormente, ministra dos esportes nos primeiros meses do terceiro governo Lula.

Ana Paula Henkel tornou-se comentarista política e entrou em polêmica com a Tiffany, pois Ana criticou a presença de transsexuais no esporte feminino.

Já Márcia Fu seguiu seu estilo provocativo durante sua passagem pelo reality A Fazenda. Apesar de não ter sido campeã, foi a rainha dos memes e, junto com a sertaneja Lauana Prado, resgatou o hit Escrito nas Estrelas.

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