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02/07/2020 às 22h29min - Atualizada em 02/07/2020 às 21h51min

A representatividade inclusa em She-Ra e As Princesas do Poder

Nova versão traz mais diversidade e empoderamento feminino

Marta Araújo - Editado por Bárbara Miranda

Você conhece a She-Ra, certo? Irmã gêmea do He-Man, personagem bastante popular nos anos 80. Mas não é sobre essa She-Ra que vamos falar hoje, é sobre uma versão diferente dela. A personagem icônica dos anos 80 é pouco percebida na protagonista da animação atual com a mesma premissa: She-Ra e as Princesas do Poder. A série lançada em 2018, desenvolvida para TV pela cartunista Noelle Stevenson (roteirista de “Lego Star Wars” e criadora da série de quadrinhos Lumberjanes) e produzida pela DreamWorks tem o mesmo enredo da série lançada no ano de 1985, mas o desenvolvimento da história, assim como os personagens, não podia ser mais diferente.

É possível que um dos fatores que tenha causado uma reformulação mais perceptível na série, seja o fato de que o roteiro principal foi escrito em sua grande parte por mulheres, diferente da série original que foi escrita por dois homens e tinha como principal objetivo vender bonecas. O desenho conta a história de Adora, uma jovem órfã que foi criada por Hordak, líder da Horda e tirano que governa o planeta Etheria. Ela luta para salvar o mundo em que vivia, mas depois de um acidente, se perde em uma floresta, e encontra a espada mágica que a transforma em She-Ra. Esse é um momento de virada, onde a protagonista é confrontada com outra realidade e descobre que os planos de Hordak não eram pra salvar o mundo, e sim dominá-lo.

A história é a mesma, mas o universo criado nesse reboot de She-Ra é mais inclusivo e tenta quebrar com alguns padrões reproduzidos na série original. Começa pelo nome, em 1985 o nome da animação era: She-Ra: A Princesa do Poder, enquanto na versão atual a série se chama: She-Ra e as Princesas do Poder, o que revela um interesse em dividir o protagonismo entre Adora e as outras princesas.  Falando nelas, uma das coisas que mais repercute em relação a essas personagens é o fato de que não há um mesmo padrão de corpo, todas elas tem os corpos desenhados de um jeito diferente, o que incomodou alguns fãs da série original, que eram acostumados as personagens com características corpóreas mais adultas. A própria She-Ra foi criticada por parecer ‘masculinizada” demais. Esse detalhe é importante porque a série busca mostrar que não há somente um padrão corpóreo e que as mulheres podem vir de várias formas e tamanhos.

 

Além disso, o relacionamento entre essas personagens é fundamentado no amor e amizade, que é o que move o enredo como um todo. A animação traz inclusive casais homoafetivos de forma bastante natural, como por exemplo, entre as princesas Netossa e Spinnerella. A inclusão dessas narrativas chega para causar uma sensação de pertencimento naqueles que acompanham e, principalmente, expor que isso pode ser algo comum em animações que são consideradas para crianças.

Normalmente, esses discursos dificilmente são expostos na superfície, o que obriga o espectador a perceber essa realidade por meio de entrelinhas. Em She-Ra é diferente, ao longo da série, se é apresentado a uma grande variedade de sexualidades e gênero, além das esposas Netossa e Spinnerella, somos apresentados aos pais do Arqueiro: George e Lance e também à Double-Trouble, que é o primeiro personagem não-binário na animação da Netflix. Assumidamente lésbica, Stevenson enfrentou muita resistência do público mais conservador da série original, seja pelo fato de que mudou a estética das personagens, ou porque tentou quebrar com o tabu em relação a presença do protagonismo LGBTQIA+ em uma produção infantil.

Em maio desse ano, a série retornou para a quinta e última temporada com um final que agradou e surpreendeu muitos fãs. Adora, alter ego da She-Ra, inicia um romance com Felina, confirmando que a nova versão era mesmo queer, e que a rivalidade entre as duas vinha de um conflito interno, mas que na verdade era amor. Em meio aos momentos de tensão na batalha final, a Felina revela que é apaixonada pela Adora, que retribui com um beijo.  



REFERÊNCIAS 

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HYPENESS.COM.BR. Netflix redesenha ‘She-Ra’ e recebe críticas por ela não ser sexy o suficiente. Hypeness. Disponível em <https://www.hypeness.com.br/2018/07/netflix-redesenha-she-ra-e-recebe-criticas-por-ela-nao-ser-sexy-o-suficiente/>. Acesso em 30/06/2020.
 
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MAURICE, M. She-Ra and the Princesses of Power: gripping not-just-for-kids cartoon that openly centres queer love. The Guardian.   Disponível em <https://www.theguardian.com/culture/2020/may/28/she-ra-and-the-princesses-of-power-gripping-colourful-escapism-thats-not-just-for-kids>. Acesso em 30/06/2020.
 
NATELINHA.UOL.COM.BR. She-ra tem romance lésbico e beijo gay em nova temporada na Netflix. Na telinha. Disponível em: <https://natelinha.uol.com.br/series/2020/05/21/she-ra-tem-romance-lesbico-e-beijo-gay-em-nova-temporada-na-netflix-145329.php>. Acesso em 30/06/2020.
 
PLASSE, M. Nova she-ra tem final épico lgbtq+. Pipoca Moderna. Disponível em <https://pipocamoderna.com.br/2020/05/nova-she-ra-tem-final-epico-lgbtq/>. Acesso em 30/06/2020.
 
SCHERER, J. Inside the Groundbreaking Queer Reboot of ‘She-Ra’. Rolling Stones. Disponível em < https://www.rollingstone.com/tv/tv-features/she-ra-reboot-netflix-queer-creator-interview-1013623/>. Acesso em 30/06/2020.
 
WHITLEY-BERRY, V. In 'She-Ra And The Princesses Of Power,' True Strength Is In Being Yourself. NPR.org. Disponível em < https://www.npr.org/2020/05/15/854610573/in-she-ra-and-the-princesses-of-power-true-strength-is-in-being-yourself>. Acesso em 30/06/2020.

 
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