Capa do filme "Mignonnes" (Foto: Reprodução/ Netflix)O longa-metragem francês "Mignonnes" ou "Lindinhas" no Brasil, estreou na França no dia 19 de agosto de 2020 e a repercurssão negativa sobre o filme foi tamanha, gerando uma enorme polêmica nas mídias. Dirigido pela cineasta Maïmouna Doucouré, o drama aborda a trajetória de Amy (Fatia Youssouf), uma menina muçulmana de origem senegalesa que aos 11 anos se sente instigada pela atratividade e o choque de cultura vivido na nova escola. A personagem conhece um grupo de dança formado por meninas da sua idade, que desperta a sua curiosidade e a faz rebelar-se contra as rígidas tradições de sua família.
A intenção da diretora era chamar atenção para o amadurecimento e sexualização precoce gerado sobre as meninas pela mídia, ainda na infância. Porém a obra foi mal interpretada, o que ocasionou numa onda de pedidos de “cancelamento” ao serviço de streaming e até mesmo a censura do filme.
Um alvoroço foi iniciado nas redes sociais, antes mesmo do lançamento do longa. Os internautas afirmavam que a obra é um prato cheio para os pedófilos, pois algumas cenas mostram as crianças dançando de forma explicitamente sexualizada. Dessa forma, tanto a equipe da ministra Damares Alves, quanto a organização religiosa Templo Planeta do Senhor entraram com pedidos na justiça para que o filme fosse censurado, entretanto os pedidos foram negados.
“Crianças e adolescentes são o bem mais precioso da nação e o mais vulnerável. É interesse de todos nós botarmos freio em conteúdos que coloquem as crianças em risco ou as exponham à erotização precoce. O governo do presidente Jair Bolsonaro não vai ficar parado nessa luta. Vamos tomar todas as medidas judiciais cabíveis. A nossa luta é para direitos humanos para todas as crianças do Brasil”, afirmou a ministra Damares em nota.
A netflix explica: “Mignonnes é um comentário social contra a sexualização de crianças. É um filme premiado e uma história poderosa sobre a pressão que jovens meninas enfrentam nas redes sociais e também da sociedade. Nós encorajaríamos qualquer pessoa que se preocupa com essas questões importantes a assistir ao filme”.
A diretora afirma que a ideia do filme surgiu a partir de histórias reais. Primeiramente de garotas entre 10 e 11 anos que ela entrevistou durante um ano e meio. Além de embasar, em partes, com a sua própria história de vida! Pois, assim como a protagonista, Doucouré também vem de uma família franco-senegalesa e teve que lidar com o choque entre a cultura da família conservadora com a francesa. A cineasta acrescenta que no filme não há nudez infantil e foi aprovado pelas autoridades de proteção à criança do governo da França.
"Eu queria abrir os olhos das pessoas para o que realmente está acontecendo nas escolas e nas redes sociais, forçando-as a confrontar imagens de meninas maquiadas, vestidas e dançando sugestivamente para imitar seu ícone pop favorito. Eu queria que os adultos passassem 96 minutos vendo o mundo pelos olhos de uma menina de 11 anos, que vive 24 horas por dia. Essas cenas podem ser difíceis de assistir, mas não são menos verdadeiras como resultado", defendeu Doucouré, no artigo publicado pela Washington Post.
A polêmica segue em alta e os internautas ainda discutem e se dividem entre os que defendem o posicionamento da diretora e aqueles que acreditam que a obra incita a pedofilia. Para a estudante de Administração, 22, Andressa Caetano “não precisa ter uma criança nua para chamar a atenção de um pedófilo, só com o jeito que elas dançam e se vestem pode ser suficiente, é impróprio, é uma exposição muito grande para essas meninas”.
De certo modo, “Mignonnes” chama a atenção para um problema real que vem crescendo entre crianças e adolescentes, já que desde cedo, estão sendo inclusas nesse universo da internet e as redes sociais; um ambiente onde elas são inspiradas por mulheres adultas que se sexualizam para gerar engajamento. Com isso, acabam seguindo a tendência de copiá-las, expondo-se de maneira inapropriada para a idade e deixando de lado a inocência da infância.
Confira a seguir o trailer do longa:
