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04/10/2020 às 18h29min - Atualizada em 04/10/2020 às 18h25min

Enola Holmes: o espelho do passado para o nosso presente

Millie Bobby Brown prova que é mais do que apenas a Eleven

Ricardo Accioly Filho - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Netflix / Reprodução: BBC
Quem nunca ouviu falar ou leu algo sobre Sherlock Holmes? As histórias do detetive mais famoso da literatura ganharam as telas em duas versões mais recentes e famosas. Uma para os cinemas, vivido por Robert Downey Jr., e outra na TV, interpretado por Benedict Cumberbatch. Ironias à parte, os dois atores fazem parte do Universo Cinematográfico da Marvel.

Acontece que agora o streaming Netflix volta a explorar o universo das histórias do investigador criado por Sir Arthur Conan Doyle com um longa-metragem de peso. No entanto, o foco não é mais Sherlock e, sim, a sua irmã caçula, Enola Holmes, brilhantemente interpretada por Millie Bobby Brown, a Eleven da série Stranger Things.

Na história, Bobby Brown é um menina que está prestes a completar 16 anos quando descobre que sua mãe sumiu. Dessa forma, Enola Holmes foge de seus irmãos mais velhos, Sherlock e Mycroft, que tentam colocá-la no internato, para encontrar a mãe. No caminho, ela se depara com as barreiras da sociedade vitoriana que busca impedir uma reforma social.




No entanto, se engana quem pensa que Enola Holmes é criação de Conan Doyle, pois, falecido em 1930, o autor nunca fez menção a personagem. Sua primeira aparição foi no livro O caso do marquês desaparecido, de criação de Nancy Springer, em 2006, que inclusive foi utilizado como base para o roteiro do filme.

Devido a isso, a Netflix vem travando uma batalha judicial por violação de direitos autorais em relação a personalidade de Sherlock Holmes. Pois, enquanto que outros aspectos do detetive já caíram em domínio púbico, o comportamento mais humanizado visto no filme e no livro de Springer ainda encontra-se em poder dos herdeiros do autor, que reclamam de plágio.

Apesar disso, retornando para o filme em si, não pense que Sherlock  tem grande tempo de fita, pois aqui o protagonismo é todo de Enola Holmes em uma aventura que mistura fantasia, suspense e mistério, típicos das boas histórias da literatura britânica. A começar pela direção de arte, fotografia e figurino que, bem trabalhados, contextualizam a época vitoriana com perfeição. Além disso, o tom mais informal dado aos seus personagens e a quebra da quarta parede tiram o peso emocional e dão ares de entretenimento a obra.

Algo evidenciado também pela escolha de seus atores. No filme, Sherlock Holmes é vivido por Henry Cavill, o último Superman dos cinemas, e Enola Holmes, como já dito, interpretada pela promissora atriz Millie Bobby Brown, que também é uma das produtoras do longa-metragem.

A atriz, inclusive, é um caso a parte na obra. Seu carisma e presença de tela dominam cada cena em que está presente. Além disso, consegue transmitir o dilema da ausência da mãe no psicológico da personagem com maestria. Ainda a superação das barreiras sociais é realizada de forma natural e gera empatia pelo espectador.



Na jornada de Enola Holmes, a quebra da quarta parede se justifica por um recurso de falar com a plateia quando, na trama, não há mais uma figura próxima como a mãe para isso. E é, justamente, a partir dessa solidão, aliada a um ensino oposto ao padrão da época, que o filme usa a personagem para tratar questões da sociedade patriarcal.

Inserindo temas feministas na narrativa, a obra traz o irmão Mycroft Holmes como a personificação do conservadorismo de época, ainda um tanto presente atualmente, com perfil autoritário e que funciona como um antagonista natural diante da perspectiva do filme através dos olhos de Enola.

Além disso, a sociedade vitoriana é uma “vilã” da obra ao impor barreiras e lutar contra a reforma social que daria maior presença feminina na tomada de decisões. Algo que é bem desconstruído ao longo do roteiro de Jack Thorne, uma das mentes por trás da peça teatral Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, e reforçado pelo exemplo de punitivismo da personagem de Fiona Shaw.

No entanto, suas duas horas de projeção acabam sendo longas demais, que faz o filme ter barriga durante a projeção. Algo que poderia ter sido resolvido com uma transição mais dinâmica entre os atos e uma busca mais frenética pelas pistas e impulsionamentos de Enola.

Em alguns momentos passando a impressão de atos episódicos, Enola Holmes é uma grata surpresa em uma época em que se reclama, e com motivos, maior protagonismo feminino nas produções. Contrapor a sociedade da época com a sagacidade e liderança da personagem é um prato cheio para uma obra que reflete e entretém ao mesmo tempo.

REFERÊNCIAS:

Enola Holmes | Filme 2020. ADORO CINEMA. Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-261721/> Acesso em: 28 de setembro de 2020.
Redação. Enola Holmes: tudo sobre a história da irmã caçula de Sherlock Holmes. EXÍTOINA. 28 de set. de 2020. Disponível em: <https://exitoina.uol.com.br/noticias/viral/enola-holmes-tudo-sobre-historia-da-irma-cacula-de-sherlock-holmes.phtml> Acesso em: 28 de setembro de 2020
FIORATTI, C.. Conheça Enola Holmes, irmã de Sherlock que rendeu processo para a Netflix. SUPER INTERESSANTE. 25 de set. de 2020. Disponível em: <https://super.abril.com.br/cultura/conheca-enola-holmes-irma-de-sherlock-que-rendeu-processo-para-a-netflix/> Acesso em: 28 de setembro de 2020
TALARICO, F. Sherlock Holmes tinha uma irmã ou não? Entenda como surgiu Enola Holmes. JOVEM NERD. 24 de set. de 2020. Disponível em: <https://jovemnerd.com.br/direto-do-bunker/quem-e-enola-holmes/> Acesso em: 28 de setembro de 2020
STRAZZA, P. "Enola Holmes" injeta temas feministas em narrativa para a família. B9. 22 de set. de 2020. Disponível em: <https://www.b9.com.br/132293/enola-holmes-critica-review/> Acesso em: 28 de setembro de 2020.
NETFLIX BRASIL. Enola Holmes | Trailer oficial | Netflix. YOUTUBE. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rcV1I-397Wg>. Acesso em: 4 de out. de 2020.

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