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20/10/2020 às 05h52min - Atualizada em 21/10/2020 às 07h46min

O místico que não precisa de Super-heróis

Allan Moore revela a sua opinião sobre os heróis da telona

Paulo Pereira - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Alan Moore Divulgação | Reprodução: O Globo
Em recente e rara entrevista O Mago das Histórias em Quadrinhos, Alan Moore, diz que os filmes de super-heróis estão matando a Cultura.
 
O Escritor e Quadrinista Alan Moore, britânico de Northampton, é considerado por muitos (fãs e crítica especializada) o maior escritor vivo de Histórias em Quadrinhos e um dos mais importantes de todos os tempos.
 
A mítica em torno da figura de Moore deve-se em grande parte ao que a chamada “Invasão Britânica” proporcionou ao seu trabalho. Junto a um grupo seleto de conterrâneos escritores/roteirista também iniciantes – Neil Gaiman, Grant Morrison, Jamie Delano, Alan Grant, John Wagner, Dave McKean dentre outros – Moore aceitou a convite da então Editora da DC Comics (e fundadora do selo Vertigo), Karen Berger, e passou a escrever histórias na gigante norte-americana.
 
Assim, das páginas de revistas como as Warrior e 2000AD (ainda nua terra da Rainha), Alan Moore passou a ter nas mãos icônicos personagens como o Batman (com a Piada Mortal), Superman (O que aconteceu com o Homem de Aço?), Lanterna Verde (Tigres) e Monstro do Pântano (A Saga do Monstro do Pântano).   
 
Em paralelo, desenvolveu as suas próprias criações, e todo este conjunto de trabalhos, o catapultaram ao status de gênio, mestre, ou como passaria a ser identificado de modo recorrente, Mago das HQs. O título, deve-se também ao profundo conhecimento místico e filosófico que Alan Moore explora em suas obras autorais, aliado ao seu estilo de se comportar vestir.
 
Entre suas obras mais famosas, figuram V de Vingança, Whatchmen, Miracleman, Do Inferno, Jerusalem, Lost Girls, Promethea e A Liga Extraordinária  - sua última incursão na referida mídia – para ficar em apenas algumas.
 
A profundidade de suas criações, não só ajudaram a transformar as Histórias em Quadrinhos em uma mídia/arte valorizada e consumida pelo público adulto, como fomentaram posicionamentos críticos sobre o mercado editorial de gibis e o “endeusamento dos super-heróis”.
 
Alan Moore sempre foi considerado polêmico em suas declarações. Agora, aposentado da 9ª Arte, continua. Em uma entrevista ao Jornalista Tom Grater da revista online de entretimento norte-americana DEADLINE, o Mago afirmou que os filmes de super-heróis estão destruindo a Cultura.
 
Na sua visão, as HQs foram criadas para um público infantil e posteriormente foram transformadas nas chamadas “novelas gráficas” (Graphic Novels), que conhecemos hoje. A mudança estabeleceu produtos mais sofisticados, com preços compatíveis com a renda de uma classe média. O caráter popularesco dos gibis desapareceu e uma certa elitização desta mídia surgiu.   
 
Para o aclamado autor de Whatchmen – que virou filme e ele nunca quis assistir – as derivações dos Quadrinhos para o Cinema com os filmes de super-heróis também ilustram uma transposição perigosa desta distorção.
 
Ele afirma que o incessante número de produções protagonizadas por personagens de HQs, predominantemente os super-heróis, estão matando a 7ª Arte. Isso porque os filmes baseiam-se em personagens criados para uma faixa estaria específica. Ou seja, na visão de Alan Moore, tais filmes estão infantilizando o público.
 
Embora os filmes de super-heróis sejam um estrondoso sucesso há pouco mais de uma década, o Escritor britânico os enxerga como uma tentativa grotesca de transformar um produto destinado às crianças em entretenimento adulto.
 
O Mago das HQs aprofunda a questão e afirma que a cultura de filmes de super-heróis, ou o empobrecimento intelectual proporcionado pelo seu massivo consumo – vide o “canibalismo destes Blockbusters em particular nas salas de cinema mundo afora –, vai ao encontro dos planos dos governos autoritários da atualidade. Com uma sociedade alheia a questões mais relevantes do que super-heróis, não é difícil, para quem está no comando, conseguir o poder e o controle sobre a cultura que almejam.
 
As Histórias em Quadrinhos não se restringem aos super-heróis. Moore expõe que ele foi mais além com as suas obras. Como o mercado de HQs de hoje, volta-se predominantemente à superficialidade, ele se aposentou. Está agora numa espécie de “migração” da 9ª para a 7ª Artes.
 
Referências:
 
2QUADRINHOS. "OS FILMES DE SUPER-HERÓIS ESTÃO DESTRUINDO A CULTURA", diz Alan Moore. Youtube. 11 out. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iZD73NBGen4. Acesso em: 12 out. 2020.

ARAÚJO, L. 1986-O ano que mudou os quadrinhos. Justiça Geek. 13 out. 2016. Disponível em: https://justicageek.com.br/1986-o-ano-que-mudou-os-quadrinhos/. Acesso em: 12 out. 2020.

OLIVEIRA, M. Alan Moore e seu legado para o Lanterna Verde. O Vício. 8 nov. 2015. Disponível em: https://ovicio.com.br/alan-moore-e-seu-legado-para-o-lanterna-verde/. Acesso em: 12 out. 2020.

REID, C. Karen Berger to Launch Berger Books Imprint at Dark Horse. Publishers Weekly. 17 fev. 2017. Disponível em: https://www.publishersweekly.com/pw/by-topic/industry-news/comics/article/72827-karen-berger-to-launch-berger-books-imprint-at-dark-horse.html. Acesso em: 13 out. 2020.
 

 
 
 

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