Ricardo Accioly Filho - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Sony Pictures / Reprodução: Raquel Bacarat
Na era de ouro do cinema de luta, com Rocky e Rambo como alguns dos expoentes, um dos clássicos juvenis foi sem dúvidas Karatê Kid. A franquia de cinco filmes viveu seu auge com a trilogia de Daniel Larusso e Sr. Miyagi entre os anos de 1984 e 1989. 31 anos depois, a Netflix disponibilizou, em agosto, um spin-off para a saga em formato de série: Cobra Kai.
A obra se passa 30 anos após os eventos de Karatê Kid: A Hora da Verdade, e mostra um bem sucedido Daniel Larusso, dono de uma concessionária de carros, e um Johnny Lawrence ainda refém de seu passado em busca de retomar a vida. No entanto, a rivalidade entre os dois ressurge quando o Cobra Kai decide reabrir o infame dojô.
Produzida pelo YouTube Red, em 2018, a série é a sequência digna do produto clássico, apesar de soar como obra derivada. Com duas temporadas de 10 episódios cada e duração de 30 minutos, em média, Cobra Kai começa exatamente a partir do final do filme original, com algo ainda não visto nas películas posteriores.
Na primeira temporada, o fio condutor é a jornada de ressurgimento de Johnny Lawrence, revivido por William Zabka. E é incrível reinterpretar suas ações a partir do ponto de vista do personagem, que, na série, funciona como um anti-herói. Alguém que nos filmes foi tratado como vilão, mas que ganha várias camadas a cada episódio.
Enquanto que, talvez, e mesmo principalmente, pela perspectiva da série, em alguns momentos, o Daniel LaRusso de Ralph Macchio serve como o vilão natural dessa nova abordagem da história. Apesar de bem-sucedido, o eterno campeão do regional enfrenta desafios para superar a perda de seu mestre, Sr. Miyagi, cujo ator faleceu em 2005.
Além disso, os dois atores estão perfeitos em cada tomada, com a série ganhando força e relevância pelas suas presenças. Eles são um deleite a parte e mais um exemplo de quando a vida se confunde com a arte ao não perder a cara do personagem. Para os adultos-jovens que viveram a década de Karatê Kid, Cobra Kai é pura nostalgia em cada cena, seja no presente dos personagens, seja através de flashbacks. No entanto, para os jovens de agora, é um grande cartão de visitas para visitar a obra clássica, mas que não depende dela para um bom entendimento.
Pois, ao introduzir roupagem e sub-núcleos novos, a série ganha fôlego para não morrer na velha rivalidade entre LaRusso e Lawrence. Agora, mais do que um embate individual, ao se tornarem senseis, eles se preocupam com o que podem deixar para a nova geração e que ela não reproduza os erros de seu passado. É nesse instante que surge a figura de John Kreese, novamente interpretado por Martin Kove. Ele, sim, como o verdadeiro vilão de toda a franquia e motor para os questionamentos de amadurecimento de Johnny Lawrence, como a personificação dos erros experimentados.
Fonte: Sony Pictures / Reprodução: Observatório do Cinema
Na segunda temporada, a linha narrativa é o dilema do personagem em reinserir seu violento sensei, ao permiti-lo uma segunda chance, ou rejeitá-lo, e, por suas escolhas, Lawrence paga caro ao perder aqueles que valoriza ou que começou a valorizar. Apesar de não termos de volta Elizabeth Shue, como a Ali, e Pat Morita, como Sr. Miyagi, que recebe uma honrosa homenagem, o elenco jovem tem os destaques de Xolo Maridueña, como Miguel, e Jacob Bertrand, como Falcão. Além disso, Mary Mouser vive Samantha, a filha de Daniel, e Tanner Buchanan interpreta Robby, filho de Lawrence. Eles oxigenam a série e seus arcos são bem explorados, servindo bem à trama central.
No entanto, talvez, a principal virtude de Cobra Kai é não ser maniqueísta como a trilogia original. Enquanto no cinema, se assistiu a perfis traçados desde a primeira cena e suas ações não fugiram do estereótipo definido, na série os dois protagonistas gravitam entre erros e acertos em uma jornada também de autodescobrimento, inclusive, em relação ao sensei Kreese.
Outro ponto de destaque é atualizar as questões debatidas, como bullying e cyberbullying, especialmente com os personagens de Nichole Brown, a Aisha, e Gianni DeCenzo, o Demetri. Além disso, fazer disso um propulsor para a partir deles extrair o que cada um tem de melhor para superar as dificuldades e ir à luta por seus objetivos.
No fim, Cobra Kai revisita o clássico fazendo jus ao conteúdo original, atualizando-o e acrescentando novas abordagens e histórias que agregam sem fazer fan-service gratuito, sendo um prato cheio para os saudosistas, mas ainda mais um excelente primeiro contato para os mais novos.