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22/01/2021 às 20h58min - Atualizada em 22/01/2021 às 20h51min

Pole Dance: a arte por trás do preconceito

A prática alcança novas modalidades e busca legitimação e respeito

Jéssica Natacha - Revisado por Mário Cypriano
(Foto: arquivo pessoal/ Marina Dall´Acqua)

O pole dance é uma arte que vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade. Além de fortalecer a autoestima, a atividade traz bons resultados para a mente e para o corpo. A prática é uma mistura de dança e ginástica que se expressa através de movimentos corporais em volta de uma barra vertical de metal. Os primeiros registros da dança ocorreram em meados dos anos 80 nos clubes de strip-tease da Inglaterra, no Reino Unido. 

Naquela época, o pole era especificamente rotulado ao erótico e promíscuo, já que o público-alvo eram as casas noturnas e clubes de stripper. De uns anos para cá, a prática assumiu novas vertentes, sendo elas: Pole Sport, Pole Exotic, Pole Art etc.

Por conta disso, o preconceito das pessoas sobre este universo vem carregado de estereótipos. As mulheres são caracterizadas como objetos sexuais e os homens são automaticamente questionados sobre sua masculinidade. As pessoas ainda não enxergam o pole como uma arte ou esporte. 

A instrutora de flexibilidade e pole dance Marina Dall´Acqua, 28, conta que o incômodo não é a opinião alheia que taxa a dança como algo vulgar, mas sim a crença de que alguém tenha o direito de disseminar o ódio contra a prática. “As pessoas associam muito o sensual como algo ruim, como algo errado e é isso que me incomoda. Eu gosto muito do pole dance sensual, não acho que para a arte ser respeitada tem que deixar de ser sensual. Acredito que tudo merece respeito” finaliza.

A comunidade de pole dancers é unida, acolhedora e a competição entre eles é nula! Cada um comemora a conquista do outro. Marina explica que antes de se profissionalizar, entrou na aula de dança sem nenhuma pretensão, aos 22 anos. Logo no início, se apaixonou pelo espaço, ambiente e pelas pessoas. 

Ela conta que, durante as aulas, observava as pessoas mais avançadas ficarem de cabeça para baixo, presas apenas pelos pés, e nunca se imaginou fazendo aquilo. Porém, começou a evoluir na barra e se sentir mais encantada.  Com o passar dos anos, Dall´Acqua se aperfeiçoou na dança e fez um curso profissionalizante de pole. Hoje, dá aulas particulares e em dois estúdios – Maravilhosas Corpo de Baile e Studio Metrópole, ambos em São Paulo. 

A prática do pole dance beneficia os praticantes em diversos aspectos. A ginástica e a dança trazem movimentos que auxiliam na flexibilidade, equilíbrio, fortalecimento muscular e na perda de calorias. A atividade física também traz a sensação de bem-estar e melhorias no sono. 

As técnicas são apresentadas de acordo com a preferência pessoal e no tempo de cada um. O atrito da pele com a barra é imprescindível, por isso, ao praticar os movimentos, o recomendável é usar pouca roupa. No começo as pessoas se sentem tímidas dentro daquele ambiente, mexendo com a autoestima. Os iniciantes preferem roupas mais cobertas, como top ou shorts, o que não é um problema. Tudo é um processo e, aos poucos, os alunos vão se familiarizando com o seu corpo.
 

Instrutora de flexibilidade e pole dance Marina Dall´Acqua - Foto: arquivo pessoal
 

A autoestima é um dos pontos mais satisfatórios desenvolvidos na dança. A arte causa esse tipo de impacto nas pessoas, chega uma hora em que elas se libertam e amam tudo aquilo que estão vendo no espelho. A autoconfiança é fortalecida e eles param de tentar esconder o próprio corpo. O ambiente, a barra e o espelho se torna algo familiar.

"Eu gosto de passar isso para outras pessoas, o quanto foi bom para mim e teve total impacto na minha autoestima e autoconfiança. O pole dance fez eu me apaixonar e querer levar essa sensação de empoderamento para outras pessoas também. Independente de ser profissional ou por diversão”, afirma a instrutora Marina ao contar que a arte transformou sua vida 

O pole dance também pode ser trabalhado no aspecto da transformação pessoal – a relação do próprio ser com o seu corpo – como para o desenvolvimento profissional. Não existe restrição de idade ou orientação sexual para a prática da arte, ela é bem-vinda para todes, seja você mulher cis, homem cis, LGBTQIA+ e pessoas acima de 50 anos. A vida se torna mais leve fazendo o que se gosta. 

O professor de História Renato Mesquita Rodolfo, 31, relata que a atividade física faz parte da sua vida. Antigamente, ele praticava artes marciais, especificamente Muay Thai e Sanda. Atualmente é aluno de pole e está afastado devido a pandemia, mas pretende voltar aos estúdios. Ele conta que entrou na dança por acaso, quando estava em um churrasco na casa de uma amiga que lhe passou as instruções e o incentivou a dançar na barra de metal que ela tinha em casa. Logo na primeira tentativa, o professor conseguiu escalar e completar o processo.

A partir da experiência, Renato foi atrás de academias de pole para iniciar as aulas, relatando que “é um lugar super acolhedor e maravilhoso. Nele existem pessoas que tem ideais que eu acredito muito, como o empoderamento e a relação com o próprio corpo. Digo sem sombra de dúvida que foi a melhor coisa no sentido de exercício para o meu corpo e minha mente, foi a melhor coisa que eu já fiz até agora”, finalizando com um adendo – "apesar de ser uma atividade em crescente na área, as aulas tem um custo alto e infelizmente ainda é um pouco elitizada",
 

Renato durante as aulas de pole donce no estúdio - Foto: arquivo pessoal


O professor explicou que, ao frequentar o estúdio, tinha receio de causar desconforto para as mulheres que ali estavam, muitas vezes expostas com roupas curtas naquele “ambiente seguro”, não querendo se tornar um “invasor”. Contudo, disse com certo alívio que na academia que dançava existia a naturalização em relação ao corpo e, por mais que o corpo esteja ali exposto, ele não está exposto para ninguém.

A modalidade já é praticada em várias academias dentro e fora do Brasil, sendo necessário que o tabu em relação ao pole dance seja desmistificado. O projeto Instrutor está há dez anos no mercado e foi criado pelo instrutor de pole dance Julio Peixoto – o primeiro campeão mundial de pole, por dois anos seguidos na categoria masculina: 2010 e 2011. Com aulas e workshops ministradas por todo o país, o intuito é levar a arte para todos os públicos, tornando a experiência prazerosa. 

No Brasil, a Federação Brasileira de Pole Dance – FBPOLE é responsável pela criação do código de regras e arbitragem, contendo todos os movimentos existentes e executados em competições e suas devidas pontuações, seja no Brasil ou Exterior. Atualmente, a FBPOLE filiada à POSA (International Pole Sports and Arts Federation), assim como outras federações, lutam para a legitimação da prática. 

A dança também é uma opção para quem deseja fazer uma atividade física, mas não é fã da academia de musculação. E acredite, as pessoas que entram no pole não querem mais sair. A comunidade é uma inspiração até para os que acompanham a prática de longe.  


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