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02/03/2021 às 12h39min - Atualizada em 02/03/2021 às 12h39min

As mulheres na indústria de mangás

Bárbara Ariza - Editado por Ana Terra
O universo de mangás e animes não está longe de sofrer com o machismo, atualmente vemos cada vez mais obras feitas por mulheres ganhando destaque e mostrando que gênero não significa qualidade. Muitas criações famosas foram e são escritas por mulheres e talvez você nem imagine. Aqui vamos destacar algumas dessas mangakás que são muito importantes para esse nicho:

CLAMP

As quatro integrantes da CLAMP / Reprodução: Anime Expo 2006

As quatro integrantes da CLAMP / Reprodução: Anime Expo 2006


Onze estudantes nos anos 80, todas mulheres mangakás independentes, se reúnem e assim criam a CLAMP. Inicialmente criavam histórias yaoi, que são de relações homoafetivas entre homens, inspiradas em Capitão Tsubasa e Cavaleiros do Zodíaco. Depois da saída de algumas integrantes, começaram a produzir trabalhos originais do grupo. De 1993 até hoje, a CLAMP é composta por quatro dessas mulheres, que são: Mokona, Nanase Ohkawa, Satsuki Igarashi e Tsubaki Nekoi.
O grupo consegue trabalhar com uma enorme versatilidade e divisão, isso traz em suas obras uma facilidade junção entre elas. Elas até brincam e chamam de “Clamp Verse”, já que em muitas obras acabam rolando diversos easter eggs e participação de personagens em outras obras da companhia.  Mokona tem como foco a ilustração principal do CLAMP, Nanase é responsável pelo roteiro dos mangás e por algumas animações baseadas neles, Satsuki cuida da coordenação de produção e assistência no processo de ilustração e Tsubaki cuida da arte-finalista do grupo.
Até hoje suas obras são extremamente famosas, tanto no Japão como pelo mundo, o Brasil inclusive compõe uma parte grande de fãs de seus trabalhos, que são ainda admirados pelos fãs que cresceram acompanhando os mangás e animes lançados. Vale ressaltar que o grupo sempre explorou uma diversidade tanto cultural como na sexualidade dos seus personagens, trazendo uma diversidade e inclusão desde muito cedo na área.
Algumas obras famosas do grupo: Sakura Card Captor, XXHOLIC, Code Geass, Tsubasa: Reservoir Chronicle e Tokyo Babylon.
 
Hiromu Arakawa

Hiromu Arakawa criadora de Fullmetal Alchemist / Reprodução: Amino

Hiromu Arakawa criadora de Fullmetal Alchemist / Reprodução: Amino


É comum mangakás serem muito anônimos e priorizarem sua privacidade, isso só faz pensar como deve ter muitas mulheres trabalhando atrás de obras que são incríveis e dos mais diversos gêneros. Esse é o caso de Hiromi Arakawa, a criadora de Fullmetal Alchemist, uma das maiores obras já feitas, mas por muito tempo usou um pseudônimo masculino, já que o mangá se encaixava em shonen, que é voltado para o público masculino, e também por medo de ser boicotada na indústria e de uma rejeição do público.
Hiromi durante grande parte da sua juventude morou e trabalhou em uma fazenda de sua família, mesmo assim já tinha uma grande apreciação por mangás e era seu grande passatempo. Nos anos 90, ela se mudou para Tóquio, depois de ter chamado atenção de algumas pessoas dessa indústria com seu trabalho, Hiromi vira assistente de Eto Hirouyiki que trabalhava no mangá de Mahojin Guru Guru.
Em 2001, Hiromi Arakawa lança uma das maiores obras já feitas, Fullmetal Alchemist, que conta a história dos irmãos Elric atrás da pedra filosofal. A história mistura muita ação, aventura, alquimia, um desenvolvimento com narrativas envolventes e bem construídos, um dos mais elogiados da história nesse quesito. A obra até hoje é considerada uma das melhores já feitas, e até hoje ocupa a 1° posição do My Anime List com sua popularidade.
Uma das coisas mais legais, é que ela traz muitos elementos pessoais em suas obras, tanto que ela costuma aparecer sendo representada por uma vaca usando óculos, isso faz referência em sua vida na fazenda. Acaba agradando bastante o público, porque apesar da artista preferir ser reservada, isso gera uma aproximação do leitor com ela.
 
Ai Yazawa

Mangá “Nana” / Reprodução: Coxinha Nerd

Mangá “Nana” / Reprodução: Coxinha Nerd


Ai Yazawa antes de se tornar mangaká estudou moda em Osaka, porém depois de um tempo largou os estudos para focar em seu trabalho nos mangás. Começou sua carreira em 1985 e é conhecida por ser mais reservada, utilizando o pseudônimo para assinar todos os seus trabalhos, que é de Ai, significando amor em japonês e Yazawa como referência ao nome do cantor Eikicho Yazawa, do qual é muito fã.
Sempre teve seu foco voltado em josei, que são obras mais direcionadas para o público feminino adulto. Também é muito conhecida por misturar elementos de moda e pop nas suas obras deixando um ar muito característico seu. Entre seus trabalhos mais famosos temos: Nana, Paradise Kiss e Tenshi Nanka Ja Nai. Suas obras já se mantiveram por muito tempo como as mais vendidas no Japão, Nana entre todas foi a de maior sucesso, sendo até os dias de hoje o josei mais vendido no Japão. A obra está em hiatos sem uma conclusão para a história.
Em 2009, a autora deu uma pausa em sua carreira por questões de saúde que até hoje não foram divulgadas oficialmente, os fãs ainda esperam ansiosos a volta da mangaká para finalizar Nana.
 
Naoko Takeuchi

Naoko Takeuchi junto com a patinadora russa Evgenia Medvedeva, depois da jovem homenagear sua obra Sailor Moon em uma apresentação em 2016. / Fonte: Sankei Sports.

Naoko Takeuchi junto com a patinadora russa Evgenia Medvedeva, depois da jovem homenagear sua obra Sailor Moon em uma apresentação em 2016. / Fonte: Sankei Sports.


Desde nova já era envolvida com desenho, até participando do grupo de desenho e astrologia na escola. Antes de se tornar mangaká, Naoko acabou estudando na Universidade de Kyoritsu, formando-se em química, chegou a trabalhar por 6 meses na área, mas enquanto cursava a faculdade lançou seu primeiro mangá intitulado “Love Call”.
O seu grande destaque veio quando publicou a one shot Sailor V, que chamou a atenção da Toei Animation, que buscava algo para colocar em sua grade. Com isso, Naoko rapidamente teve que se preparar para publicar uma obra que fosse baseada em Sailor V, que se tornou uma inspiração para seu maior sucesso, Sailor Moon.
Sailor Moon rendeu diversos prêmios para Naoko Takeuchi, como o Prêmio de Mangá Kodansha como melhor shoujo. Sailor Moon se tornou uma referência pelo mundo todo, sendo amado e admirado até os dias de hoje, sempre ganhando ainda mais fãs. Essa obra se tornou uma das maiores referências em mangás e animes mahou shoujo, que trazem a temática de garotas mágicas. É impossível não dizer que Sailor Moon revolucionou uma das formas de se fazer uma boa história tendo um grupo de garotas heroínas como principais, o que na época era raramente visto em grandes sucessos.
 
Rumiko Takashi

Rumiko Takahashi / Fonte: The Japan Times

Rumiko Takahashi / Fonte: The Japan Times


Uma das mangakás mais respeitadas e ricas do Japão, Rumiko Takashi já fez enormes sucessos como Inuyasha e Ranma ½, ambas obras que já foram transmitidas nas televisões brasileiras. Rumiko começou com seu interesse mais sério por mangás, quando durante a época da faculdade se matriculou em uma escola especializada em mangás, a Gekiga Sonjuku.  Em 1975 começou a finalmente publicar de forma independente alguns de seus trabalhos. A mangaká realmente estourou em 1987, por conta de Ranma ½, que é até hoje um dos seus maiores trabalhos e vendeu no Japão aproximadamente 53 milhões de cópias.
Logo em seguida, Rumiko Takahashi lançou Inuyasha, que foi uma verdadeira febre de sucesso nos anos 90, a obra quando adaptada em anime foi exclusivamente transmitida no Ocidente e reproduzida em cerca de 9 idiomas. A partir disso, duas obras foram conquistando mais ainda o mundo e dando uma visibilidade incrível para o seu trabalho, que é admirado e respeitado até os dias de hoje.
A mangaká coleciona prêmios pelo mundo, como o Inkpot Award, da San Diego Comic Con, destinado aos melhores profissionais de HQ e animação. Ganhou duas vezes o Prêmio de Mangá Shogakukan, o Grande Prêmio de Angoulême, entre outros.
Atualmente Inuyasha ganhou uma continuação intitulada como Yashahime: Princess Half-Demon, que se passa anos depois de Inuyasha focando nas filhas dos personagens principais da primeira obra.
 
REFERÊNCIAS:
MASSAROLLO, Jorge. O espírito feminino nos Mangás: as mangákas e seus personagens. Jornal 140, 2020. Disponível em: <https://jornal140.com/2020/03/19/o-espirito-feminino-nos-mangas-as-mangakas-e-seus-personagens/>. Acesso em: 23/02/2021.
Podcast: Otaminas - EP 10: Hiromu Arakawa. Disponível em: <https://open.spotify.com/episode/09y4YJWU5IJaXM2J6NXvlM?si=MPO4KqYwSq2bqx28-Z_2kA>. Acesso em: 22/02/2021.
Podcast: Otaminas - EP 26: CLAMP. Disponível em: <https://open.spotify.com/episode/2HHSisausc6WeYS6Fiyk9W?si=eje_O-o4TBOgisBfcbsPHw>. Acesso em: 22/02/2021.
Podcast: Otaminas – EP 21: Naoko Takeuchi ft. Letícia Cosmos. Disponível em: <https://open.spotify.com/episode/0AxcD9lbWEVqqtTIiTS7F2?si=zkTStsMlSvSYGvoVvpoEQA>. Acesso em: 24/02/2021.
RODINISTZKY, Rafaella. 10 mulheres mangakás para iniciar o universo dos quadrinhos japoneses. Delirium Nerd, 2020. Disponível em: <https://deliriumnerd.com/2020/01/28/10-mulheres-mangakas-para-conhecer-o-universo-dos-quadrinhos-japoneses/>. Acesso em: 23/02/2021.
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