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17/03/2021 às 10h05min - Atualizada em 17/03/2021 às 10h56min

Um Príncipe em Nova York 2 e a importância de artistas negros fora do cenário criminalista

Fernando Lopes - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Amazon Studios/Reprodução: Google
Em 1988, o filme Um Príncipe em Nova York revolucionou o cinema. Há várias imagens estereotipadas da África em Hollywood que foram confrontados pela  direção de arte. O longa teve seu marco como o primeiro filme com o elenco inteiramente negro. Décadas depois, esse marco cultural foi reproduzido com o lançamento de Pantera Negra. O filme deixou seu legado no mundo cinematográfico, carregando uma grande responsabilidade em sua sequência.
 
 
O roteirista de Um príncipe em Nova York 2, Kenya Borris continua a narrativa criada no primeiro filme, estabelecendo uma história que remete a original, mas sem fazer disso uma viagem sem imaginação. Além disso, Kenya Borris evolui vários personagens na trama, trazendo à importância de lidar com atitudes do passado. A  sequência do longa também aproveitou para dar espaço a voz das mulheres, pois no primeiro filme não foi muito explorado e valorizado.
 
 
Um príncipe em Nova York é um dos principais símbolos para a comunidade negra dos Estados Unidos e consequentemente no mundo. O longa é praticamente a primeira e grande produção com maior parte do seu elenco formado por artistas negros. 
 
 
Com isso, abriram várias oportunidades para artistas negros em Hollywood que são importantes nos dias atuais, como Will Smith, Tracy Morgan e os irmãos Wayans, que comandaram a comédia no cinema entre as décadas de 90 e 2010. Eles representam algo difícil de se ver no entretenimento, pessoas negras fora de cenários criminalistas, fora de esteriótipos da imagem negra associada a pobreza, a ruína, ao serviçal e a ameaça. 
 
 
AFINAL, QUAL A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE NEGRA NO CINEMA DE FORMA POSITIVA?   
 
 
No cinema, os artistas negros são quase sempre retratados de forma caricata. Ele é uma criação própria do imaginário da sociedade, que quando estão enraizadas no racismo estrutural, tendem a refletir isso em suas produções. Há dois problemas aos artistas negros nos filmes: a falta de representatividade e a representatividade negativa 
 
 
O fato é que pessoas negras estão ausentes nos espaços de visibilidade. Além disso, o tempo todo isso é reproduzido pela a mídia, que reforça e associa esses corpos a figura criminosa, pobre e entre outros. É importante para as pessoas pretas se verem de forma positiva nos lugares, pois aquele lugar deixa de ser distante, impossível e se torna um lugar com a possibilidade de estar. 
 
 
O racismo fez e faz com que pessoas pretas sejam vistas como feias, com seus traços e corpos desvalorizados e marginalizados. Além disso, filmes, séries, revistas, televisão e a indústria da moda ditou a estética branca como aquilo que  é bonito e belo. A autoestima de jovens e crianças pretas é abalada, que até nos dias atuais, fazem procedimentos capilares e estéticos, como rinoplastia e clareamento de pele, para se aproximar o máximo do referencial de beleza branca, que é reproduzido por filmes e séries de Tv.
 
 
A mídia destruiu a autoestima de pessoas negras com representações negativas, mostrando-os como feios, escravos, exóticos e marginalizados, a representação positiva nesses espaços é um combate contra essa narrativa que existe nesses locais. Um príncipe em Nova York combate esse enredo negativo, mostrando à população negra em um local de  realeza, quebrando com esteriótipos sobre a África, que em sua maioria foram criados pelo cinema Hollywoodiano. A representação positiva é ver que as histórias dessas pessoas estão sendo valorizadas e reconhecidas em algum ponto. É de grande importância que pessoas negras ocupem espaços de “poder” no cinema, televisão, política...Só assim não será o “único negro”
 
 
 
3 ESTERIÓTIPOS RACISTAS DE FILMES AMERICANOS
 
 
• O Negro Mágico 
 

O termo foi popularizado por Spike Lee em uma discussão sobre o filme À Espera de um Milagre, o Negro Mágico é usado para denominar aquele personagem sábio e místico que sempre aparece para salvar o dia do protagonista branco. À Espera de um Milagre (1999), Lendas da Vida (2000), Um Maluco no Golfe Endiabrado, Todo Poderoso e sequências. Basicamente, se o Morgan Freeman estiver no filme, são grandes as chances de você estar assistindo a um Negro Mágico.
 
 
O negro mágico é um personagem de apoio que aparece na ficção usando seus poderes e sabedorias. Ele sempre possui poderes sobrenaturais para ajudar o protagonista branco, sem se preocupar com sua própria situação. ele é um acessório fácil para roteiristas preguiçosos, que se aproveitam dos estereótipos racistas populares de que negros são seres exóticos da mística e misteriosa África para criar soluções fáceis para os seus enredos. 
 
 
 
• MAMMY
 
 
Mammy vem das memórias e diários escritos por brancos no pós guerra civil, onde contavam como foram felizes ao lado da escrava de casa que era “quase da família”. A descrição básica da Mammy gira em torno de uma mulher negra bem gorda, com seios enormes capazes de amamentar todas as crianças brancas do mundo, um lenço pra esconder o cabelo crespo “horroroso” e uma personalidade forte, cheia de garra, mas que só serve pra lutar pela família branca que ela tanto ama.
 
 
Ela é uma doméstica, nasceu pra isso. Cozinha como ninguém e tem as melhores receitas. É leal, é gentil, dá dicas de limpeza, é supersticiosa, religiosa, tá sempre pronta pra aconselhar as donas de casa e suas filhas. Um exemplo clássico de Mammy é personagens de HATTIE MCDANIEL, primeira mulher negra a ganhar o Oscar por seu perfil em “GONE WITH THE WIND”, hattie passou o resto de sua carreira interpretando empregadas domésticas
 
Na televisão brasileira temos figuras como a tia Nastácia. É muito comum também que atrizes negras passem boa parte da carreira interpretando empregadas domésticas ou outros personagens esteriótipados. 
 
 
• O MANDINGO
 
 
 
É o esteriótipo de homem negro sexualizado e conhecido por ter um enorme órgão genital, essa ideia foi inventada pela por senhores do engenho que difundiam a noção de que homens africanos eram selvagens. 
 
 
Essa ideia é muito problemática, pois pinta o homem negro como uma figura selvagem e extremamente sexual, tornando-o como objetivos sexuais desprovidos de emoção e incapazes de criar laços afetivos.
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS: 
 
 
VASCOUTO, Lara. 4 Estereótipos Racistas que Hollywood Precisa Parar de Usar. NO DE OITO, 24 de Nov. 2015. Disponível em < http://nodeoito.com/estereotipos-racistas-hollywood/ > . Acesso em 13 de Mar 2021. 
 
 
CECÍLIA, Garcia. Consciência Negra: 6 filmes para pensar negritude e cinema. MOVIMENTO DE INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO. 19 de Nov 2019. Disponível em <  http://movinovacaonaeducacao.org.br/noticias/consciencia-negra-6-filmes-para-pensar-negritude-e-cinema/ > . Acesso em 10 de Mar 2021.
 
 
VIEIRA, João. Cinema preto: 21 filmes para entender a relação da comunidade negra com sua cultura e com o racismo. HYPENESS, 12 de Dez 2020. Disponível em < https://www.hypeness.com.br/2018/11/cinema-preto-21-filmes-para-entender-a-relacao-da-comunidade-negra-com-sua-cultura-e-com-o-racismo/ > . Acesso em 9 de Mar 2021.
 
 
HYPENESS, 2 de mar 2021. Príncipe em NY’ estreia com elenco original, figurino e penteados incríveis. Disponível em < https://www.hypeness.com.br/2021/03/principe-em-ny-estreia-com-elenco-original-figurino-e-penteados-incriveis/ >. Acesso em 9 de Mar 2021.
 
 
JAIRO, Malta. 'Um Príncipe em Nova York 2' tem gostinho nostálgico dos anos 1990. FOLHA DE SÃO PAULO, 5 de Mar 2021. Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/amp/ilustrada/2021/03/um-principe-em-nova-york-2-tem-gostinho-nostalgico-dos-anos-1990.shtml > . Acesso em 8 de Mar 2021.
 
 
SABBAGA, Julia. Um Príncipe em Nova York 2 une tradição e modernidade com muito carisma. OMELETE, 4 de Mar de 2021. Disponível em < https://www.omelete.com.br/amazon-prime-video/criticas/critica-um-principe-em-nova-york-2 > . Acesso em 8 de Mar 2021.
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