Com o passar dos anos e com novas produções chegando, outros estúdios seguiram o exemplo e começaram a fazer suas adaptações dando outras opções para os fãs de entretenimento. E quem conseguiu fazer um ótimo trabalho foi a Amazon Prime, com as adaptações de The Boys e Invincible. Totalmente diferente do que estávamos acostumados a assistir, The Boys chegou como uma sátira dos heróis, mostrando que nem todo herói é 100% bom, além de usar muito do gore (subgênero cinematográfico dos filmes de horror, que é caracterizado pela presença de cenas extremamente violentas, com muito sangue, vísceras e restos mortais de humanos ou animais). Com Invencible não foi diferente, e não é à toa que as duas produções têm classificação para maiores de 18 anos.
Com sua primeira edição lançada em 2013, Mark Millar e Frank Quitely, quiseram voltar com as histórias em uma época em que os heróis ainda eram um símbolo de esperança, justiça e benevolência e não havia apelação com histórias super violentas, cheias de sangue e com personagens assassinando brutalmente os vilões, que é o que mais vemos hoje em dia.
Antes de falar sobre a adaptação, é importante ressaltar para que não haja confusão, que a série possui duas linhas do tempo e que durante os episódios vai alternando entre a atualidade e o passado, quando os heróis ainda não possuíam seus poderes e como eles conseguiram. Muitas produções adotaram essa estratégia, mas, nos primeiros episódios isso acontece de forma confusa e repetitiva. Esses flashbacks aparecem em vários momentos e com um ritmo lento dos acontecimentos, o que pode acabar fazendo com que quem está assistindo acabe desistindo da série por não entender. O que é ruim porque depois dos quatro primeiros episódios elas começam a fazer sentido e as peças vão se encaixando de forma mais rápida.
Com uma aparência mais velha, Utópico/Sheldon agora tem que lidar também com os problemas familiares. Casado com a Lady Liberdade/Grace, eles têm dois filhos, Brandon (Andrew Horton) que atende pelo codinome Magnético, seguindo os passos do pai como super herói e Chloe (Elena Kampouris) que não se importa com o legado da família e usa seus poderes para benefício próprio.
Como toda história de heróis precisa de um drama, aqui não é diferente. Sheldon apesar de ser um super herói, tem um péssimo relacionamento com os filhos, o que fez com que Chloe se afastasse e magoasse ainda mais Brandon que só quer se espelhar nos pais e continuar o seu legado. Embora seja um enredo já conhecido de outras produções, a Netflix parece ter perdido a mão porque criou diálogos fracos com uma atuação bem fraca também, fazendo com que o telespectador ficasse com tédio e com a sensação de que tudo não passa de uma novela mexicana que poderia ter sido resolvida em uma terapia em família.
Outro motivo da série ser tediosa é que na maioria das cenas a sensação que temos é que já assistimos tudo isso em outro lugar. É como se os roteiristas tivessem pegado referências de outros filmes e colocado na trama. Quem não se lembrou do Professor Charles Xavier quando o Fitz Small apareceu de cadeira de rodas? ou a cena da luta dos heróis com o clone do Estrela Negra (Tyler Mane) e não ter lembrado dos Vingadores: Guerra Infinita, quando eles tentam tirar a manopla do titã Thanos? Todos esses detalhes fizeram a série parecer tosca e algo de baixo orçamento de tudo o que já vimos no cinema, o que é triste, já que ao passar os episódios a trama fica interessante apesar disso.
As discussões e dilemas que O Legado de Júpiter traz, deixou uma série de perguntas no ar. Será que nos acostumamos com a barbárie? O que aconteceu com a imagem do super herói justo, que se importava com as pessoas e que matar nunca era uma opção viável? Estamos tão acostumados em ver heróis partindo seus inimigos no meio e banhados em sangue que não percebemos como normalizamos isso. Isso diz muito sobre nós como sociedade, mesmo sendo algo ficcional. Atualmente, quem deixa seus inimigos vivos é visto negativamente, pois ele pode voltar e fazer tudo de novo, então o mais fácil é matar logo e resolver o problema de uma vez. E é por isso que Millar criou a história, para voltar essas discussões desses personagens que hoje são super violentos.
Ao final da série, embora muitos pontos ficaram abertos, eles conseguiram fazer algo que tivesse fôlego para uma continuação. Mesmo não sendo um final grandioso, nos deixou com muita curiosidade do que realmente aconteceu com a União e sobre o que realmente aconteceu com o Skyfox, que pelo jeito não era o vilão. Caso a série seja renovada, pode se tornar uma grande franquia, se eles mantiverem o ritmo dos últimos episódios. Entre muitos erros e poucos acertos, não dá pra negar que é uma boa série e que a Netflix acertou em cheio, abrindo possibilidade até para um spin-off.