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15/05/2021 às 11h34min - Atualizada em 15/05/2021 às 07h28min

Crítica | O Legado de Júpiter: trama chata e esquecível ou nós que nos acostumamos com enredos violentos?

Série aborda dilemas éticos e familiares além de trazer a Era de Ouro dos heróis

Victória Souza - Editado por Ana Terra
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!

Desde 2008, quando a Marvel decidiu trazer os heróis para o cinema com o primeiro filme do Homem de Ferro, o universo dos quadrinhos não foi mais o mesmo. Antes do estúdio vir com os seus heróis e suas adaptações, o Batman era quem dominava nos cinemas. Mas com o Homem de Ferro e o primeiro filme dos Vingadores, os fãs passaram a ter um novo olhar e foi aí que o boom começou de fato. Depois dos filmes vieram as séries e quando percebemos, esses tipos de produções já estavam estagnado.

Com o grande sucesso das adaptações dos cinemas e principalmente da fórmula que a Marvel criou - que deu muito certo, passamos a usar suas produções como comparação a tudo o que foi surgindo no que diz respeito aos super-heróis. Liga da Justiça é com certeza um dos maiores exemplos, quando o filme chegou aos cinemas, houve chuvas de críticas e comparações de que a DC não sabia fazer adaptações de seus quadrinhos.

Com o passar dos anos e com novas produções chegando, outros estúdios seguiram o exemplo e começaram a fazer suas adaptações dando outras opções para os fãs de entretenimento. E quem conseguiu fazer um ótimo trabalho foi a Amazon Prime, com as adaptações de The Boys e Invincible. Totalmente diferente do que estávamos acostumados a assistir, The Boys chegou como uma sátira dos heróis, mostrando que nem todo herói é 100% bom, além de usar muito do gore (subgênero cinematográfico dos filmes de horror, que é caracterizado pela presença de cenas extremamente violentas, com muito sangue, vísceras e restos mortais de humanos ou animais). Com Invencible não foi diferente, e não é à toa que as duas produções têm classificação para maiores de 18 anos.


Aos que ainda não conhecem a história, O Legado de Júpiter envolve intrigas políticas, dilemas familiares e traições de um grupo de pessoas ao adquirirem super poderes e que resolvem combater o crime sob um código de conduta em que nunca se deve tirar uma vida, por pior que a pessoas seja. Todos esses detalhes trazem um enredo interessante e intrigante para a história, o que a torna bastante original.

 

Com sua primeira edição lançada em 2013, Mark Millar e Frank Quitely, quiseram voltar com as histórias em uma época em que os heróis ainda eram um símbolo de esperança, justiça e benevolência e não havia apelação com histórias super violentas, cheias de sangue e com personagens assassinando brutalmente os vilões, que é o que mais vemos hoje em dia.

Antes de falar sobre a adaptação, é importante ressaltar para que não haja confusão, que a série possui duas linhas do tempo e que durante os episódios vai alternando entre a atualidade e o passado, quando os heróis ainda não possuíam seus poderes e como eles conseguiram. Muitas produções adotaram essa estratégia, mas, nos primeiros episódios isso acontece de forma confusa e repetitiva. Esses flashbacks aparecem em vários momentos e com um ritmo lento dos acontecimentos, o que pode acabar fazendo com que quem está assistindo acabe desistindo da série por não entender. O que é ruim porque depois dos quatro primeiros episódios elas começam a fazer sentido e as peças vão se encaixando de forma mais rápida.


A série acompanha a União - grupo de super heróis com a formação original de Utópico (Josh Duhamel), Lady Liberdade (Leslie Bibb), Onda-Cerebral (Ben Daniels), Skyfox (Matt Lanter), Fitz Small (Mike Wade) e Raio Azul (David Julian Hirsh) mostrando como ele ganharam seus poderes em 1929, com os Estados Unidos em crise e agora nos dias atuais tem que lidar com os seus filhos e com o pensamento ideológico que mudou radicalmente ao longo dos tempos.

Com uma aparência mais velha, Utópico/Sheldon agora tem que lidar também com os problemas familiares. Casado com a Lady Liberdade/Grace, eles têm dois filhos, Brandon (Andrew Horton) que atende pelo codinome Magnético, seguindo os passos do pai como super herói e Chloe (Elena Kampouris) que não se importa com o legado da família e usa seus poderes para benefício próprio.

 

Como toda história de heróis precisa de um drama, aqui não é diferente. Sheldon apesar de ser um super herói, tem um péssimo relacionamento com os filhos, o que fez com que Chloe se afastasse e magoasse ainda mais Brandon que só quer se espelhar nos pais e continuar o seu legado. Embora seja um enredo já conhecido de outras produções, a Netflix parece ter perdido a mão porque criou diálogos fracos com uma atuação bem fraca também, fazendo com que o telespectador ficasse com tédio e com a sensação de que tudo não passa de uma novela mexicana que poderia ter sido resolvida em uma terapia em família.

 

Outro motivo da série ser tediosa é que na maioria das cenas a sensação que temos é que já assistimos tudo isso em outro lugar. É como se os roteiristas tivessem pegado referências de outros filmes e colocado na trama. Quem não se lembrou do Professor Charles Xavier quando o Fitz Small apareceu de cadeira de rodas? ou a cena da luta dos heróis com o clone do Estrela Negra (Tyler Mane) e não ter lembrado dos Vingadores: Guerra Infinita, quando eles tentam tirar a manopla do titã Thanos? Todos esses detalhes fizeram a série parecer tosca e algo de baixo orçamento de tudo o que já vimos no cinema, o que é triste, já que ao passar os episódios a trama fica interessante apesar disso.

 
Mesmo com tudo isso, a série te faz querer continuar assistindo. Talvez por curiosidade, vontade de terminar logo, ou ter motivo para criticar, o fato é que você quer saber até onde eles vão e surpreendentemente, eles começam a deixar o enredo interessante e os flashbacks se tornam a melhor parte. Para quem é fã dessas produções, talvez seja muito difícil assistir uma série lenta, com poucas cenas de luta e com muito drama envolvido, mas nisso a Netflix pode ter acertado, porque atrai um outro tipo de público que a Marvel e DC por exemplo, não conseguiram.
 

As discussões e dilemas que O Legado de Júpiter traz, deixou uma série de perguntas no ar. Será que nos acostumamos com a barbárie? O que aconteceu com a imagem do super herói justo, que se importava com as pessoas e que matar nunca era uma opção viável? Estamos tão acostumados em ver heróis partindo seus inimigos no meio e banhados em sangue que não percebemos como normalizamos isso. Isso diz muito sobre nós como sociedade, mesmo sendo algo ficcional. Atualmente, quem deixa seus inimigos vivos é visto negativamente, pois ele pode voltar e fazer tudo de novo, então o mais fácil é matar logo e resolver o problema de uma vez. E é por isso que Millar criou a história, para voltar essas discussões desses personagens que hoje são super violentos.

 

Ao final da série, embora muitos pontos ficaram abertos, eles conseguiram fazer algo que tivesse fôlego para uma continuação. Mesmo não sendo um final grandioso, nos deixou com muita curiosidade do que realmente aconteceu com a União e sobre o que realmente aconteceu com o Skyfox, que pelo jeito não era o vilão. Caso a série seja renovada, pode se tornar uma grande franquia, se eles mantiverem o ritmo dos últimos episódios. Entre muitos erros e poucos acertos, não dá pra negar que é uma boa série e que a Netflix acertou em cheio, abrindo possibilidade até para um spin-off.


REFERÊNCIAS:
COUTINHO; F: O Legado de Júpiter: série da Netflix falha ao tentar inovar (crítica). TECMUNDO. Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/minha-serie/216927-legado-de-jupiter-critica-serie-netflix.htm>. Acesso em: 11/05/2021.
GARÓFALO; N: O Legado de Júpiter entrega entretenimento esquecível e sem dinamismo das HQs. OMELETE. Disponível em: <https://www.omelete.com.br/netflix/criticas/o-legado-de-jupiter-netflix-critica/>. Acesso em: 11/05/2021.
GIMENES; T: Crítica | O Legado de Júpiter. ESTAÇÃO NERD. Disponível em: <https://estacaonerd.com/critica-o-legado-de-jupiter/>. Acesso em: 11/05/2021. TALARICO; F: O Legado de Júpiter – 1° Temporada | Crítica. JOVEM NERD. Disponível em: <https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/o-legado-de-jupiter-1a-temporada-critica/>. Acesso em: 11/05/2021.
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