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08/06/2021 às 11h23min - Atualizada em 08/06/2021 às 11h12min

Soul Guetto: dança e transformação social

Grupo cultural de Belo Horizonte trabalha a dança como alternativa para crianças e jovens socialmente vulneráveis

Dara Russo - Editado por Ynara Mattos
Ana Paula Fotografia/ anap_fotografias

A arte tem o poder de transformar vidas e a expressão criativa é extremamente importante, especialmente para crianças e jovens. O grupo de dança belo-horizontino Soul Guetto nasceu, há sete anos, a partir dessa ideia. Dando aulas de dança em uma escola municipal no bairro Taquaril, o coreógrafo Everton Leonardo, mais conhecido como Vetinho SG, percebeu que os alunos que se formavam no sexto ano do Ensino Fundamental não tinham um local para continuarem dançando. “É assim que se inicia a história, numa escola e com a vontade de não deixar morrer esse sonho, esse desejo”, afirma o líder do grupo.

Após diversas tentativas de dar início ao projeto, o professor recorda que, com a missão em mente, conversou com alguns pais de alunos que gostavam de dançar e que tinham vontade de seguir com a atividade. Assim, conseguiu uma sala de dança na própria escola e ali recebia os adolescentes após o horário das aulas. “Tenho seis ou sete que dançam comigo desde pequenininhos, de dois anos de idade”, comenta.


Hoje, com cerca de 85 dançarinos, o grupo possui mais de 5 mil seguidores no Instagram e coleciona diversas vitórias em festivais de danças urbanas como street e hip hop. Apesar do sucesso, não possuem nenhuma ajuda governamental ou parceria privada. “Nós vivemos da contribuição que os alunos pagam por mês e de sinal, bombom e rifa”, explica Vetinho. Após anos de ensaios na escola, em praças e espaços emprestados por outros grupos, foi a partir do dinheiro arrecadado dançando em sinais de trânsito e com a venda de bombons e rifas que o Soul Guetto conseguiu alugar sua sede própria há cerca de um ano. “Engraçado que nós sonhávamos em ter e ficou da mesma forma que sonhávamos”, comemora o coreógrafo.

Escola de dança e de empatia

Rafael Bamberg, 18 anos, conheceu o grupo em um acampamento de dança há cerca de um ano. “Acabei fazendo várias aulas junto com a galera do grupo e fiquei encantado mesmo, desde que eu saí desse evento virou um sonho para mim, entrar no Soul Guetto”, conta. Membro oficial do grupo há oito meses, ele afirma que, além de ser seu trabalho, o grupo é sua segunda família: "nós sempre perguntamos como que o outro tá, se tá precisando de alguma coisa, para não deixar o outro sozinho mesmo”. 

 
No último dia 28 de maio, o grupo realizou apresentações em semáforos da capital mineira para arrecadar fundos para um dançarino que estava passando por dificuldades financeiras. “Nós conseguimos 400 reais para ajudar a comprar remédio para mãe dele, foi muito bom, ficamos super grato por conseguir ajudar e ele ficou muito feliz também”, relatou Rafael. Vetinho também reafirma a importância da dança para os integrantes do grupo no âmbito social e pessoal: “eles aprendem muita coisa positiva lá e muitas das vezes eles não são escutados em casa sobre esse desejo, essa vontade, que é isso que gostam de fazer”.

Expressão criativa e senso de comunidade

Um estudo realizado pelo diretor do Laboratório de Psicologia de Dança da Universidade de Hertfordshire, Peter Lovatt, afirmou que a dança ajuda o cérebro a gerar novas rotas de pensamento e novos circuitos neurais. A possibilidade de se expressar criativamente para lidar com questões pessoais foi o motivo de Rafael se envolver com a arte. “Se tornou para mim uma ferramenta de aceitação, de me descobrir mais, me aceitar do jeito que estou me tornando, do jeito que eu sou”, declara. “É onde eles criam vínculo de amizade, é onde eles se descobrem na dança, no próprio grupo”, diz Vetinho

Um dos grandes conflitos enfrentados é o geracional. Muitos pais e responsáveis não entendem a dança como uma profissão ou uma atividade válida. ”Os pais, a galera mais velha não entende que, esses jovens, esses adolescentes, essas crianças de hoje não querem riqueza, elas querem carinho e atenção, e eles não tem mais isso”, aponta o professor. Ele ainda exemplifica a relevância da arte para jovens socialmente vulneráveis, afirmando que alguns de seus alunos eram usuários de drogas e pararam devido às regras e ao senso de comunidade do grupo.


“Você aprende a empreender, a ajudar o próximo, a dividir as coisas, a fazer carinho, a compartilhar. Você aprende a empatia, se colocar no lugar do outro”, reitera Vetinho. “Muita coisa importante você aprende com o vínculo de um grupo, principalmente da dança”, completa. O grupo agora também possui subdivisões por faixa etária: o Soul Guetinho e o Junior, que são portas de entrada para a iniciação das crianças no mundo da dança urbana.

 

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