SHAMISEN: Canções de um mundo flutuante traz reflexões sobre a vida e a música

Obra de Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa por Pipoca & Nanquim / Foto : acervo pessoal

Não é só no Japão que podemos encontrar obras de extrema qualidade. Com o lançamento de vários títulos estrangeiros, o Brasil acaba sendo esquecido com essa avalanche de conteúdos. Mas, em contrapartida, editoras como o Pipoca & Nanquim fazem o trabalho de dar à luz e à visibilidades que obras nacionais merecem. É o caso de Shamisen: Canções de um mundo flutuante de Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa.

Uma experiência completa de reflexões e belezas
 

A história de Shamisen acompanha Haru, uma musicista que, mesmo cega, aprendeu a tocar o instrumento de corda que dá nome à obra. Chamada de Goze, Haru vive a vida andando de cidade em cidade tocando sua música para ganhar a vida. 

Logo nas primeiras páginas, nos deparamos com lindas ilustrações que já nos dão uma primeira sensação do que podemos esperar. Uma experiência que não para nas páginas, Shamisen tem o diferencial de disponibilizar algumas músicas que embalam a história, e com um QR Code, o leitor pode acessar a playlist de canções. 

Com uma jornada de altos e baixos, Haru enfrenta diferentes situações que causam reflexões, mas sempre com lições que podemos tirar do ficcional e levar para as nossas vidas.

Tudo acontece quando Haru se depara com um kappa, um yokai anfíbio, que a presenteia, por não tratá-lo com desprezo, com uma habilidade de enxergar o véu entre o mundo “normal” e as Divindades, Haru se depara com desafios que a fazem repensar sobre a vida e morte, e como sua música deve ser sentida e não apenas tocada. Em cada encontro, mesmo, em alguns momentos sendo ruins, Haru cresce e amadurece a sua arte. 

A arte estonteante de Shamisen nos faz ver o belo até mesmo nas situações ruins, transmitindo uma beleza poética, para o espectador nas ilustrações, e também nos diálogos, onde podemos sentir Haru, que mesmo não enxergando, consegue ver e lidar com um mundo completamente diferente do nosso.

Shamisen, pág. 63. Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa por Pipoca & Nanquim/ Foto: Acervo pessoal

Com traços inspirados nas obras de Hokusai, as imagens dão uma identidade única ao mangá. Em alguns momentos, as imagens preenchem a página inteira, e a sensação é de estarmos presenciando um quadro.

Shamisen, pág. 46-47. Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa por Pipoca & Nanquim/ Foto: Acervo pessoal

Para completar, no fim do volume ainda tem páginas extras com imagens e curiosidades que contam sobre as inspirações da obra e ajudam a contextualizar tudo o que foi visto. Tudo isso junto simboliza o trabalho fenomenal que os autores tiveram em pesquisa, já que fazer uma história de outro lugar, tempo e cultura pareciam ser um obstáculo. Outra consideração é que os autores poderiam ter feito apenas a história, mas nada do que há no volume é em excesso, tudo é milimetricamente pensado em proporcionar a melhor experiência para o leitor, o levando não somente por uma história que toca, mas o conhecimento sobre uma cultura tão rica.