Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
13/06/2019 às 12h59min - Atualizada em 13/06/2019 às 12h59min

Devaneios e relatos sobre escrita

Nessa primeira parte desse trajeto um tanto quanto pessoal, unimos as conversas com a criadora do blog Eu s2 Escrever, Andresa Rocha e a com escritora Paula Santos sobre seus primeiros passos dentro do mundo da escrita

Carolina Rodrigues - Editado por Bárbara Miranda
MONTAGEM: Carolina Rodrigues

Esta é a primeira parte de uma grande reportagem sobre escrita. Nela, iremos explorar juntos os caminhos percorridos por quem está envolvido nessa área desde meados de 2010 por influência do digital, quando a internet se expandia em possibilidades, abrindo espaço para qualquer um que desejasse escrever, ganhar reconhecimento por seus trabalhos e quem sabe, publicar um livro físico.
 

Comecei a me aventurar na literatura a partir dos meus 12 anos, quando o Orkut ainda era a rede social do momento. Com meu perfil fake, acessava as mais variadas comunidades, atrás de novas amizades e uma segunda família – vergonhoso, eu sei. Foi explorando, durante as tardes depois da aula, comunidades como Balada Fake 24 horas e Agências de Adoção (SOCORRO! Mais embaraçoso ainda, alguém segura essa criança) que me peguei lendo pela primeira vez histórias originais.

Na próxima cena que consigo recordar, me vejo sentada com meu notebook apoiado sobre as pernas, na sala de casa, enquanto meu pai se distraia no computador e minha mãe preparava a janta, ou seja, o momento perfeito para fazer o que quisesse na internet.

Era isto: escreveria minha própria história com a ideia perfeita para torná-la o próximo best-seller brasileiro! Hoje eu não lembro muito bem o incrível enredo dessa web (como eram chamadas as histórias naquela época), mas me recordo que eu mesma fiz o banner de apresentação que ficava na primeira página do fórum; o nome era “Fireflies” por causa da música do Owl City e tratava sobre ano da formatura. Uma menina num internato, os pais haviam morrido num acidente de carro, sem querer o amor acontece entre dois estudantes que se odiavam. Revolucionário, não?
 
Casualmente, procurando entre minha pasta com todos os arquivos de escrita que tenho – sou virginiana, acho que isso explica o porquê da minha organização excessiva –, lá está o arquivo nomeado como “F I R E F L I E S”. Criada em 27 de junho de 2011, o documento sobreviveu a três trocas de computador e foi abandonado no meio do caminho por falta de “ups” – os maiores incentivadores de postagem naquela época.


FONTE: GIPHY
 
A partir daí, nunca mais parei de ler webs e fanfics, mas deixei de lado a ideia de escrever alguma coisa. Quando o Orkut foi extinto, migrei para o Tumblr. Foi lá que encontrei o blog Eu s2 Escrever e mais histórias, que fizeram aquela pequena chama da escrita reascender no meu peito.

O blog foi criado pela geminiana Andresa Rocha, escritora do “Enigma dos Schneider”, um dos pioneiros no Tumblr, junto ao blog de escrita, e bastante aclamado por quem conseguiu ler. A ideia do blog surgiu a partir da necessidade de encontrar um canal em português que reunisse informações importantes sobre escrita. Tudo fluiu de maneira natural.

“O gosto pela leitura só surgiu lá pelos 12 anos... Na época, passava uma novela no SBT chamada Lalola e eu simplesmente era MUITO fã! Participava de uma comunidade no falecido Orkut sobre a novela e nos fóruns aprendi o que era fanfic. Comecei a acompanhar algumas do tema e me viciei”, Andresa conta sobre o seu primeiro contato com o mundo da escrita. Foi com o lançamento da Saga Crepúsculo que o hábito da leitura se intensificou, tanto que aos 14 anos Andresa lançou sua primeira fanfic relacionada a Crepúsculo, publicada no Nyah! Fanfiction, e aos 15 anos, escreveu seu primeiro livro original “O Enigma dos Schneider”.

A partir dele, a baiana resolveu se jogar de cabeça. “Por ter o desejo de, quem sabe, publicar o livro um dia por alguma editora, comecei a pesquisar mais sobre o mundo editorial, como tudo funcionava, a estrutura de um livro... Enfim, como profissionalizar meu trabalho! Devido a bagagem que conquistei nesse período, surgiu a vontade de compartilhar meu conhecimento com o mundo”. Em consequência, surge o blog Eu s2 Escrever no Tumblr.
 
FONTE: Print screen

Foi um sucesso. Eu mesma já enviei inúmeras perguntas e sempre fui respondida com muita profissionalidade. “Quando criei o antigo Eu s2 Escrever, não tinha ideia da dimensão que ele tomaria e que tantas pessoas se interessariam pelo assunto. Foi graças as asks que fui ainda mais a fundo em minhas pesquisas, procurei conteúdos gringos, já que a literatura brasileira era bastante limitada nesse quesito. Várias coisas eu também aprendi na interação com o público mesmo”, avalia.

Eu lembro que nessa época, outras pessoas começaram a abrir blogs sobre escrita também. Eu fui uma delas, mas basicamente repostava conteúdos importantes para amadurecer minhas ideias. O Eu s2 Escrever foi muito importante nesse quesito. Nesse mesmo período, consegui finalizar minha primeira história original. Dessa vez, a investigadora Francesca é chamada para resolver algum caso em algum lugar. Para chegar lá, ela precisa pegar um trem. Mas, o que era para ser uma viagem tranquila junto ao namorado até o próximo caso, se transforma numa confusão após o assassinato de uma das passageiras.

Seguindo o processo de criação e ascensão de novas mídias, o Tumblr começou a decair, até se tornar mais uma rede entre outras melhores. Para Dezza, como ficou conhecida através do blog, a literatura resistiu dentro do Tumblr tanto quanto a própria plataforma. “À medida que as pessoas migraram para outras redes sociais (o Wattpad tem dedo nisso), ele começou a morrer naturalmente. Não vejo mais o site como potencial para nada, continuo por lá somente pela nostalgia”. Hoje em dia, Dezza remodelou o antigo blog para o atual, e ainda ativo, “Eu Amo Escrever”.

Mas espere um pouco, nossa jornada ainda tem outro ponto de parada antes de chegarmos ao Wattpad.
 

Conforme o Tumblr era levado para a UTI, registrei meu primeiro arroba num site mais saudável chamado Twitter. Não lembro muito bem o passo a passo dessa história, mas quando dei por mim, estava dentro de um fandom de viners (pessoas que postavam vídeos curtos numa rede social chamada Vine, semelhante ao TikTok, mas naquela época parecia muito mais legal do que esse) composto por 12 meninos apaixonantes. Eles eram a sensação da internet e eu, junto com mais algumas amigas, pirávamos quando eles postavam vídeos novos. Foi o auge da adolescência.

Ao contrário da Dezza, que postou sua primeira história no Nyah! Fanfiction, que pelo o que parece era muito mais badalado para postagem de fanfics, fui direto para um site chamado Anime Spirit.

Naquela época, havia dezenas de fanfictions sendo postadas todos os dias na categoria “Magcon”. No dia 18 de junho de 2014 uma daquelas dezenas de histórias era minha. Agora a sortuda da vez era Sierra Alano, selecionada, entre milhares de adolescentes inscritas no programa Don’t Kiss Me, para participar, junto com os meninos da Magcon!


Fases... | FONTE: Tenor

Não foi um sucesso estrondoso, mas consegui conquistar leitores, favoritos e recebi muitos comentários que me motivaram a continuar. Tanto é que um ano depois, ressurgi com uma nova fanfiction, ainda relacionada a Magcon – inclusive, esta é meu xodó até hoje, por mais que tenha vários furos e precise de reformulações.

Nela, acompanhamos a aventura da filhinha de pais superprotetores, chamada Bailey Levrori, ao se hospedar (totalmente contra a sua vontade) na casa do vizinho maconheiro, porque havia um assassino de virgens à solta. Soa um pouco bizarro, mas até que faz sentido.

Essa história revolucionou minha vida em 2015. Me sentia muito feliz com os favoritos e comentários e cada vez mais incentivada a perseguir o sonho de ser escritora de verdade.

As fãs de Magcon viviam recomendando minha história no Twitter ou me pedindo novos capítulos. Inclusive, pude conhecer outras escritoras de fanfics, como a ex-magcult (em referência ao nome do grupo) Paula Santos. Compartilhávamos os mesmos sonhos e lembro de ter lido a fanfic dela na época.

Ao contrário de mim e assim como Dezza, Paula encontrou primeiro o Nyah! Fanfiction por causa das fanfics de Crepúsculo. A ideia de publicar uma história veio depois das histórias sobre Bella, Edward e Jacob, com o incentivo de um amigo. “O primeiro livro que postei foi sobre zumbis no Wattpad. Na época eu desisti de continuar postando e acabei escrevendo só para mim”. Depois dessa fase, foi quando nos encontramos pela primeira vez.

Foi pelo Twitter que ela conheceu a Magcon e pensou “por que não escrever sobre eles?”. No Anime Spirit havia muito mais espaço do que no Nyah (focado em animes e Crepúsculo), por isso ela redirecionou seus esforços para a outra plataforma.

Depois de muito suor para ganhar leitores, os feedbacks finalmente apareceram e firmaram fãs. “Os primeiros comentários e favoritos me tiraram de órbita, fiquei tão feliz por ver que havia pessoas gostando do que eu escrevia. Me sentia nas nuvens”. A positividade a incentivou a escrever fanfics e persistir no sonho.

Enquanto o Tumblr respirava por aparelhos, o Anime Spirit começava a dar sinais de que algo ia mal, principalmente para as magcults, algum tempo depois da separação dos meninos da Magcon.

Os favoritos foram estagnando, a mesma medida em que os comentários iam diminuindo e outra plataforma tomava ares mais interessantes para publicação de histórias. Tanto é que mais ou menos na mesma época, After começava a deslanchar como a fanfic mais acessada.

Aquele era o momento de migrar, outra vez, para uma nova rede social promissora. Aí vamos nós, Wattpad!
 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »