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17/06/2019 às 12h44min - Atualizada em 17/06/2019 às 12h44min

Representação feminina nos quadrinhos no século XXI: A evolução que ainda precisa melhorar

Eduarda Oliveira - Editado por Bárbara Miranda

As primeiras raízes dos HQs surgiram ainda nas pinturas rupestres feitas por homens pré-históricos, que na época, serviam para contar de suas aventuras em caças. Quadros de igrejas medievais, também, podem ser considerados histórias em quadrinhos, quando representavam a via-sacra. A diferença dos quadrinhos da época para os modernos é a falta de texto, pois os dos nossos ancestrais exibiam, apenas, tirinhas com imagens e não relatavam fala, assim como os de agora.

A primeira história em quadrinhos moderna foi feita por, Richard Outcaul, artista americano, em 1895. “A linguagem das HQs , com a adoção de uma personagem fixa, ação fragmentada em quadros e balõezinhos de texto, surgiu nos jornais sensacionalistas de Nova York com o Yellow Kid (menino amarelo)”, conta o historiador e também jornalista, Álvaro de Moya, autor do livro ‘História da história em quadrinhos’. A tirinha do Richard foi de grande sucesso, tanto que jornais nova-iorquinos “brigaram”, pois queriam tê-lo junto com o Yellow Kid em sua primeira página. Anos antes dos primeiros trabalhos de HQs, surgiu a interação de balõezinhos com falas contidas, características importantes para o quadrinho.

A história em quadrinhos, normalmente está associada à narração, apresentando texto e imagem que estabelece uma ideia de complementaridade. É um gênero popular com crianças e adolescentes, mas já ficaram por muito tempo a ser classificadas como subgênero. Contudo os gibis tem cada vez mais força e demonstrado popularidade em outras faixas etárias, além de provar que grandes histórias podem ser contadas em tirinhas com balõezinhos.

As mulheres que estão se inserindo ou tentando se inserir no mundo geek cada vez mais, querendo reconhecimento por seu trabalho como ilustradora, roteirista, letrista. Se formos pesquisar o universo de mulheres que criam os quadrinhos, vamo observar um vasto espaço, vários conteúdos sobre, diversos materiais publicados e uma grande período de carreira. O grande problema é se manter nesse lugar tão machista/sexista, que é visto apenas como ambiente masculino.

Geralmente os trabalhos feitos por elas não recebem tanto reconhecimento são encontrados apenas em ambiente online, são pouco vistos, e por isso vivem como produção independente. Roberta Cirne, roteirista e desenhista de HQs de terror ‘Sombras do Recife’ faz todo seu trabalho, cuidando da parte literária e design, ainda fazendo uma busca histórica, um resgate da capital pernambucana. Roberta, que já está há dezenove anos nesse meio, diz que o que salvou seu projeto foi a internet, pois ela nunca conseguiu publicar seu trabalho por meios tradicionais. “Trabalho com quadrinhos já faz um tempo, desde a década de 90. Me formei como arte educadora e passei a dar aulas para me sustentar, mas sempre quis ser dona do meu próprio projeto. Hoje não leciono mais graças ao poder da internet na minha carreira.”

É complicado para nós minorias. Todo mundo finge que aceita, mas na verdade, não quer você ali. Tem aquilo de, nós somos todos iguais, uns mais iguais que outros. Eu conheço no Brasil inteiro as meninas que trabalham com isso. Lá em São Paulo a Germana Viana. Mas quando nos juntamos, vira uma comunidade. Porque, por incrível que pareça, lá fora é uma união onde ninguém desmerece trabalho de ninguém, um levanta o outro. Aqui em Pernambuco é mais cada um por si, e por isso o quadrinho daqui fica estagnado.” Diz Roberta.

A mulher que, geralmente, não é muito admiradora nem leitora de HQs de super-heróis, logo, é deixada de lado na hora da representatividade. Igualmente para quem trabalha nessa esfera, que chega a ter seu trabalho desvalorizado por acharem que de uma mulher não sairá algo produtivo. Foi por isso, que em parceria, várias quadrinistas juntaram-se para fazer o “Gibi de Menininha”, projeto para tirar o estereótipo de que garotas não escrevem histórias de terror, com sangue, nem algo mais sensual. “Gibi de Menininha, criado por Germana Viana de São Paulo, onde envolve a mulher, terror e putaria. Com colaboração de várias quadrinistas. A revista vendeu tanto que já temos a continuação”, disse Roberta Cirne, que também participa dessa colaboração.

A internet veio para revolucionar alguns serviços, nas revistas em quadrinhos não poderia ser diferente, tem muita gente publicando seu trabalho por lá. Existe um avanço de mulheres no ambiente de HQs, mas no mainstream, onde está o dinheiro e reconhecimento que todo quadrinista quer, é muito mais complicado que a mulher chegue lá. A Gabriela Borges, fundou o Mina de HQ, projeto para dar visibilidade a mulher quadrinista, pessoas trans e não-binária. Desde que houve seu lançamento em 2015, mais de 500 projetos foram publicados, de diversos lugares do mundo. É muito difícil que editoras publiquem trabalhos feitos por mulheres, que elas sejam convidadas a eventos geeks, a receber prêmios, até mesmo participar de debates que envolvam esse tema.

“Atualmente a representação feminina vem ganhando destaque nos quadrinhos mesmo sendo devagar, no passado existia poucas heroínas tanto na Marvel como na DC.. Mesmo nesse século com as heroínas ganhando espaço nas HQs e nos Cinemas, tanto o público, como os roteiristas e desenhistas preferem Personagens masculinos para representar "FORÇA, LIDERANÇA E CONFIANÇA". Eu ainda não vi em um HQ uma heroína que comande uma equipe, já que os homens sempre representam isso, provavelmente se aparecer uma heroína que seja "LÍDER" de uma equipe, o público (maioria masculina) não vai querer aceitar porque na imagem deles (mente machista), o homem sempre tem que ser o mais forte e o líder e a mulher mais fraca e dependente dele, mais espero que essa mentalidade na frente mude.” Disse Hugo Cavalcanti, fã de HQ que pesquisa afundo sobre este universo, ao ser questionado sobre como ele enxerga a representação feminina nos quadrinhos diversos.

Em gibis, principalmente, o protagonismo feminino é medido por objetificação da mulher, na forma hipersexualizada que ela é apresentada ao universo ou quando aparece como segundo plano. Quando ocorre ao contrário ela chega a não agradar aqueles que esperavam já por algo padrão. Dandara Palankof, editora e tradutora de quadrinhos da Marvel e DC, diz que isso vai muito do padrão de patriarcado que nós temos. “o mundo e suas relações são norteados por valores patriarcais. Isso obviamente acaba refletido em nossas expressões artísticas - na modernidade e na contemporaneidade, principalmente pela cultura de massa, que reflete visões profundamente enraizadas no senso comum, na moral conservadora. Nos quadrinhos, os gêneros mais atrelado à cultura de massa são as tiras e os gibis de super-heróis. É nesses últimos que vemos uma representação mais ortodoxa de papeis de gênero por serem tramas e personagens desde sempre ligados aos padrões físicos de nossa sociedade.”

Gibi é coisa de menino

Contudo, as últimas décadas viram nascer um sujeito contemporâneo que busca sua identidade nos mais diversos valores e questiona os valores antigos; isso se reflete nos produtos culturais que ele busca consumir, nos quais deseja se ver refletido, e provoca a resposta da indústria que busca satisfazer as necessidades desse novo consumidor. É por isso que vemos hoje um público mais diversificado de leitores (contrariando a máxima de que "gibi é coisa de menino"), que vemos grandes editoras buscando diversificar seu elenco de personagens em gênero, raça e sexualidade, suas funções nas tramas e em seus universos, levando essa diversidade também para seu quadro de funcionários e colaboradores.” Comenta Dandara.

Solidariedade masculina’

“Realmente tive sorte; os outros profissionais da área com o qual lido rotineiramente são muito conscientes sobre os valores e visões machistas entranhados em nossa sociedade; segundo, por trabalhar à distância e ser uma profissional autônoma, sei que sempre sou procurada para algum trabalho independente de meu gênero (para o bem ou para o mal). E também porque a tradução é um trabalho quase anônimo... Contudo, afirmo sempre que essa é a minha experiência e que ela não reflete o panorama geral das relações de trabalho.” 

 


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