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27/10/2021 às 16h48min - Atualizada em 19/10/2021 às 15h41min

Pobreza menstrual no Brasil

O assunto se tornou alvo nas redes sociais após o veto presidencial ao projeto que prevê a distribuição gratuita de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade

Beatriz Costa Rodriguez - editado por Larissa Nunes
ABC/iStock

A antropóloga Mirian Goldenberg, define pobreza menstrual como a falta de acesso à higiene, informação e ao dinheiro na menstruação. O problema afeta milhares de pessoas (cis, trans e não binárias), cuja autonomia e dignidade são violadas pelas históricas desigualdades.

 

Educação
 

Segundo a PNS 2013, a média de idade da primeira menstruação é de 13 anos e 90% começam entre 11 e 15 anos de idade. Logo, a maioria das meninas passa boa parte de sua vida escolar menstruando, porém com a falta de acesso a absorventes, muitas meninas deixam de ir à escola e, em média, faltam cerca 45 dias por ano letivo, como revela o levantamento “Impacto da Pobreza Menstrual”, da Always e Toluna. 

Giovanna Souza, líder e pesquisadora do projeto Woman for Woman contra a probreza menstrual, diz que o chamado atraso escolar ocorre pelas faltas no período menstrual, perdendo conteúdos importantes do ano letivo, desde o ensino fundamental II, podendo afetar até futuramente no mercado de trabalho.
 

Dados de pobreza menstrual no Brasil - Fonte:ONG TRATA BRASIL- ABC/iStock
 

Faltar a aula por conta da menstruação, a princípio pode não parecer prejudicial, mas ao longo prazo afeta o rendimento escolar. A questão da falta de absorvente é somente “a ponta do iceberg” de um problema que envolve a infraestrutura da escola, pobreza alimentar, gravidez e outros fatores que causam a evasão escolar feminina.

 

Pessoas em situação de rua
 

Vivendo em condições precárias, as pessoas que menstruam procuram o improviso na tentativa de conter a menstruação. A pesquisadora do Woman for Woman, afirma que a pobreza menstrual afeta mulheres em situação de rua, que muitas vezes nem sequer tem roupas íntimas, além de afetar a saúde pública, que quando a higiene não é feita da maneira correta, aumentam-se os riscos de muitas infecções e até DSTS como: candidíase, vaginose bacteriana, vulvovaginite e entre outras.

Pesquisa Sempre Livre - Fonte: Sempre Livre em parceria com os Institutos Kyra e Mosaiclab.


O bem-estar das pessoas em pobreza menstrual é prejudicado, devido ao desconforto, estresse, humilhação e discriminação. Giovanna também diz que a higiene é um dos pilares para a saúde e a dignidade humana e a pobreza menstrual influencia diretamente na vida de mulheres em vulnerabilidade social.

 

Presidiárias 

A jornalista Nana Queiroz em seu livro "Presos que menstruam", explica que providenciam cerca de 8 unidades por detenta, porém o material recebido não dura até o final do mês.

Livro Presos que menstruam - Foto: divulgação grupo editorial Record
 

Giovanna ressalta que Nana se popularizou ao citar que, algumas presas usam miolo de de pão como absorvente interno, no caso das mulheres no sistema penitenciário não há políticas públicas e higiene para voltar ao ciclo menstrual.
 

Veto presidencial
 

No dia 7 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro vetou artigos da lei 14.214/2021 aprovada na Câmara e no Senado, que previa a distribuição de absorventes para pessoas de baixa renda.

Bolsonaro afirmou a apoiadores, que foi "obrigado a vetar", porque a proposta não informava a fonte de custeio para o programa e, caso a sancionasse, poderia ser enquadrado por crime de responsabilidade.

No dia 8 de outubro, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que o veto do presidente é "candidatíssimo" a ser rejeitado pelo Legislativo.
 

Absorventes/Foto:Freepik

 

Giovanna explica que, por mais que sofreu veto do presidente, o poder Lesgislativo/Congresso ainda pode aprovar o projeto de lei, mas caso o veto permaneça uma série de beneficiárias vão ser afetadas. O papel da política pública é investir em saúde, um direito garantido pela constituição, então quem tinha que promover o acesso, não é projeto social, é o governo.

Conforme um levantamento feito pelo Estadão com os governos estaduais, iniciativas começaram a ser anunciadas em maio, algumas são focadas em estudantes e outras incluem mulheres na prisão.

Além disso, São Paulo, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina já têm projetos em andamento sobre o tema.
 

 Imagem ilustrativa de absorvente, coletor menstrual e roupas íntimas/Foto:Freepik

 

Woman for Woman
 

O projeto social surgiu a partir de um TCC, que os oito integrantes no começo do projeto faziam técnico em administração, pensando na problemática que a prefeitura distribuía camisinhas e não absorventes. Hoje no instagram @womanforw, o projeto luta contra a pobreza menstrual na região sul de São Paulo, fazendo a distribuição de itens de higiene básica, promoção de políticas públicas, pesquisas relacionadas à pobreza menstrual e trabalhos voltados para educação menstrual e sexual acessível.


 


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