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26/10/2021 às 15h33min - Atualizada em 24/10/2021 às 13h51min

Kátia Borges e o jornalismo cultural no Século XXI

"É compreender as novas estéticas culturais que nascem de uma hibridização", conta Kátia Borges sobre os desafios do Jornalismo Cultural no século XXI

David Cardoso - Revisado por Márcia Nascimento
Jornalista Kátia Borges. (Foto: Reprodução/Acrobata)
O conceito de cultura é muito amplo, do ponto de vista antropológico, podemos defini-la como uma rede de significados que dão sentido ao mundo ao redor de um indivíduo (ou seja, a sociedade). Esta rede contém uma série de aspectos diferentes, como crenças, valores, costumes, leis, moral, linguagem etc.

No jornalismo, você pode escrever textos de cunho imparcial ou críticos, relatar fatos relacionados ao cotidiano cultural ou dar opiniões críticas sobre os mesmos fatos. Mas, afinal, o que é jornalismo cultural e como essa especialização é vista no século XXI? Para responder essas e outras perguntas, entrevistamos a jornalista, escritora, doutora em Literatura e Cultura, professora no curso de jornalismo da Universidade Salvador (Unifacs), Kátia Borges.
 

Quando falamos de jornalismo normalmente as pessoas pensam em diversas áreas como esportes, política, economia, mas nem sempre se pensam em cultura. Afinal, o que é o jornalismo cultural? O jornalismo cultural é aquele que é especializado na cobertura de eventos relacionados as diversas áreas culturais. Então estamos falando de livros, teatro, shows de música, não só shows de música, mas lançamento de obras musicais, seminários, diversos que tem como tema a literatura. A cultura popular com manifestação também, enfim, o jornalismo cultural ele se debruça sobre essas áreas, logicamente você pode pensar apenas numa cobertura superficial. O verdadeiro jornalismo cultural é aquele que se aprofunda, que traz para o leitor ou para o espectador, enfim, aspectos mais esclarecedores da formatação daqueles produtos culturais. Esse é o verdadeiro jornalismo cultural! Aquele que não apenas te apresenta um roteiro, embora esse formato utilitário seja até o mais utilizado. Hoje em dia, mas o ideal não é aquele jornalismo cultural que apenas te apresenta o roteiro, mas aquele jornalismo cultural que te faz entender qual o objetivo de cada obra, de cada produção e de cada autor.
 
Você sempre pensou no Jornalismo cultural como sua linha de pesquisa? Sim, o jornalismo cultural sempre foi o meu campo de atuação e em termos de pesquisa eu sempre trabalhei com jornalismo cultural. Ainda na monografia de TCC eu analisei o modo como os jornais baianos cobriam os espetáculos teatrais, esse foi o meu tema de TCC, foi uma monografia. Em seguida no mestrado eu vou estudar o caderno "A Tarde cultural" que é um caderno literário do Jornal A Tarde. Vou estudar o primeiro ano desse caderno mostrando como ele se constitui em um catalisador do modernismo da Bahia. No meu doutorado eu volto de novo a literatura para pesquisar a geração mapa que é a geração de Glauber RochaFlorisvaldo Matos, João Carlos Teixeira Gomes que é uma geração de adolescentes que revolucionou a arte na Bahia e eu diria até que é arte no Brasil porque influenciou a tropicália, influenciou o teatro de Zé Celso Martinez Corrêa. Então o jornalismo cultural atravessa a minha vida assim desde a minha formatura em jornalismo até hoje. No momento por exemplo eu trabalho com a pesquisa de literatura eletrônica, então, eu continuo atravessada sim por esse tema. É a grande área da minha vida.


Qual é a sua avaliação a respeito do jornalismo cultural praticado atualmente no Brasil? Eu tenho uma visão que não é tão negativa quanto tantas pessoas têm, entendeu? Acho que muitas vezes é mais fácil você generalizar para o mal do que para o bem. Então é muito mais fácil você dizer, olha é tudo ruim e tudo mais, mas na verdade se você parar para observar de verdade você vai ver que existe uma evolução no jornalismo literário e cultural do Brasil. Então você tem hoje revistas muito importantes na área de literatura, por exemplo: a Revista Cult que continua, tem o Suplemento Pernambuco, a revista Quatro Cinco Um, agora a Folha de São Paulo renovando a Ilustríssima. Então você tem sim um jornalismo cultural sendo praticado atualmente no Brasil e eu vejo isso de modo muito positivo. Inclusive, vai ter também o jornalismo independente se dedicando a cultura e vários jornalistas que individualmente vem fazendo um trabalho muito bom em blogs, Instagram e tudo mais. Então não vejo de maneira negativa, vejo de uma maneira bastante positiva, muito embora a crítica literária e a crítica cultural de fato elas não sejam as mais aprofundadas possíveis. Não adianta imaginar que se tem uma crítica profunda, não tem, se tem uma crítica bastante superficial, mas em termos de cobertura, em termos de contemplar os diversos temas, de oferecer visibilidade e tudo mais o jornalismo cultural brasileiro ele está indo muito bem.

Quais os desafios do Jornalismo cultural no século XXI? Eu creio que o desafio maior a meu ver é uma visão muito particular, é compreender as novas estéticas culturais que nascem de uma hibridização, então eu acredito que nós continuamos ainda em certa medida no século passado e até no século XIX mesmo assim, em termos de pensamento sobre o que seria obra de arte. Esse a meu ver é o grande desafio do século XXI. É compreender não mais a reprodutibilidade da obra de arte, mas a sua volatilidade e isso a gente está sendo desafiado o tempo inteiro a entender, o que é hoje uma obra de arte, inclusive no quesito autoria. Você vê os exemplos aí de Banksy e de outros. Então a gente vai ter que repensar a autoria da obra de arte a sua perenidade ou não perenidade, as diversas formas de valoração dessa obra de arte as possibilidades de circulação dessa obra de arte esse é o a meu ver o grande desafio do jornalismo cultural no século XXI.
 
Kátia Borges - um poema. (Reprodução: Villa Olivia Artes – YouTube Br)

Os textos escritos para a editoria de cultura podem trazer reflexões sobre os movimentos culturais, aspectos históricos e características com aprofundamento. Em sua opinião, qual é a importância do jornalismo cultural? Jornalismo cultural é muito importante porque a cultura é a nossa forma de expressão mais subjetiva e mais afirmativa, nossa me refiro à humanidade inteira então só essa só essa perspectiva, essa constatação já nos levam a importância, a relevância do jornalismo cultural. Jornalismo cultural registra essas diversas manifestações do humano, nas suas diversas formas de expressão essa é a sua grande relevância.

Qual é a sua visão sobre a importância do jornalismo cultural para o século XXI? Eu acredito que vai se tornar ainda mais relevante por conta da complexidade das expressões. Com a digitalização e tudo aquilo que ela nos trouxe voltamos a questionar alguns conceitos chave, por exemplo, o conceito de autoria que é mais recente do que nós pensamos. Passamos a questionar também o conceito de perenidade, a velha aura da obra de arte. Hoje conseguimos produzir uma obra de arte inteiramente no computador com efeitos sonoros, com efeitos visuais e essa obra de arte em minutos pode ganhar o mundo. Então acho que precisamos de críticos e de jornalistas culturais que tirem a venda dos olhos e que comecem a enxergar o modo como nós nos relacionamos e nós produzimos arte hoje, não só no Brasil, no mundo inteiro!             

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