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24/01/2022 às 15h43min - Atualizada em 24/01/2022 às 15h24min

Resenha | Que horas ela volta?

Retratos das desigualdades sociais

William Haxel - editado por Larissa Nunes
Regina Casé nos ensaios para a gravação do filme ''Que horas ela volta". (Foto: Reprodução / Filme).

Depois de deixar a família no interior de Pernambuco e passar anos trabalhando como babá e empregada doméstica em São Paulo, Val recebe um telefonema da filha, que quer apoio para ir a cidade prestar vestibular. Quando a garota chega, no entanto, a convivência é difícil. Todos serão atingidos pela autenticidade de sua personalidade, no meio deles, dividida entre a sala e a cozinha, Val terá que achar um novo modo de vida.

Lançado em 2015, em período pós-eleitoral, o longa proporciona discutir sobre a percepção de um país dividido e polarizado. Principalmente, na diferença entre Sudeste e Nordeste. Com quase 2 horas de duração, o público se envolve na história, de comédia e drama.

A narrativa começa com uma perfeita reflexão que faz juz ao nome do filme. Vinda de Recife, Val (Regina Casé) mora há mais de uma década em São Paulo, na casa de Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli), os patrões. Uma de suas principais tarefas é cuidar de Fabinho (Michel Joelsas), o filho do casal. Ela o cria com cuidado e amor, porém, o menino constantemente pergunta sobre a mãe que está no trabalho. “Val, que horas ela volta?”. Do outro lado do país, a filha de Val, Jéssica (Camila Márdila), é criada por parentes e também se questiona sobre a chegada da mãe. Afinal, ela precisou se mudar a São Paulo na busca por trabalho.
 

Trailer oficial novo. (Reprodução: Que Horas Ela Volta / Youtube).


Naquela mansão da classe média, a empregada doméstica é quase “da família”. Contudo, ainda vive de forma segregada, dormindo no quarto dos fundos, comendo em mesa separada e mal tendo atenção dos patrões, quando se é preciso ter uma conversa.

Após Fabinho crescer e entrar na adolescência, a preocupação da vez é com o vestibular. Com uma vida mais "tranquila", a empregada pode aproveitar as horas “fora do trabalho” para assistir filmes ou até mesmo conversar com outros funcionários da mansão. Esta serenidade, por sua vez, acaba quando recebe uma ligação inesperada de Jéssica. 

Certa noite, Val recebe em seu quarto a visita de Fabinho. O jovem angustiado com a pressão pela prova da universidade, deita no colo da empregada e, adormece. Na manhã seguinte, Bárbara acorda e não encontra a mesa servida. Procura a empregada por todos os lugares, mas não encontra ninguém. De nariz virado – como quem nunca fez isso na vida – prepara um suco.

Em instantes, Jéssica chega na cozinha, após acordar. Bárbara, de mal gosto, mostra sua hospitalidade oferecendo alimentos para o café da manhã. A jovem aceita. Não demora muito para Val acordar com os cabelos embaraços e correr em direção a chefe, pedindo desculpas por ter dormido demais, e se prontificando a oferecer todo tipo de ajuda e auxílio necessário. Bárbara finge que está tudo bem e sai da sala contando: “sua filha adorou a geleia”.

Óbvio que nada está bem e aquela geleia não era para o consumo de Jéssica. A anfitriã da casa está incomodada por se sentir cada vez menos “dona” daquele espaço. Aborrecida e frustrada, Val quase tira a força a própria filha da mesa. Onde é que já se viu, filha de empregada sentar na mesa dos patrões?. Sem poder se alimentar direito, Jéssica se retira do ambiente. Com cara de sono, Fabinho chega na cozinha e senta na mesma cadeira em que a filha da empregada estava. Agora, o comportamento de Val muda completamente.  Neste momento, o tom de sua voz é de atenção, amor, preocupação e carinho. 
Esta cena mostra de forma impactante uma série de conflitos e sentimentos daqueles personagens, onde todos estão no limite, e a linha desta demarcação está gritando; aos poucos não dá mais para jogar os sapos engolidos debaixo do tapete.
 

 


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