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25/06/2019 às 16h49min - Atualizada em 25/06/2019 às 16h49min

Afinal, o que é feminismo?

A importância de se saber do que se trata o feminismo é tão grande quanto a de se apoiar o movimento

Pauline Mingati
@Reprodução
 

O feminismo é um movimento de cunho político, social e filosófico, que visa dentre outras coisas, a igualdade de direitos entre homens e mulheres. 

 

Esse movimento, embora muito mais discutido nos dias de hoje, teve seu início ainda no século XIX, quando as mulheres queriam se sentir incluídas e fazer parte de todas as mudanças e os avanços que traria a Revolução Francesa, e a partir dela, outras revoluções.

 

Existem várias vertentes do feminismo e cada uma tem suas particularidades. É importante para o estudo do movimento, que se aprofunde em cada uma delas para uma maior compreensão. Aqui, a abordagem das correntes será mais resumida.

 

Uma das vertentes com maior visibilidade, é a do feminismo liberal. O LibFem,como muitas vezes é chamado, defende que as mulheres sejam livres e que o Estado não interfira na vida delas, uma vez que elas são capazes de se posicionar e se expressar de forma independente, sem necessidade de nenhuma política para esse fim.

 

Já o feminismo Interseccional, defende uma inclusão maior de pautas voltadas para diferentes classes sociais e raças. Sua importância está na busca por dar mais voz às mulheres negras. 

 

O feminismo marxista, é muito influenciado pela análise econômica de Karl Marx. Entende que a causa da ideia de inferioridade das mulheres, é consequência da organização da economia e do âmbito trabalhista. A libertação da mulher se daria, portanto, com o fim da propriedade privada e mudança na divisão sexual do trabalho. 

 

Para o feminismo radical, não é o sistema econômico que oprime as mulheres, mas o sistema de dominação social do sexo. Sendo diferente, portanto, do feminismo liberal e do marxista. Para essa vertente, o reformismo liberal possui uma análise superficial da discriminação das mulheres, e o marxismo é de certa forma machista, por reduzir o problema somente à uma questão de classes e negar a luta autônoma e independente das mulheres.

 

Tatichelle Cristina de Moura Rodrigues é advogada e se considera feminista. Para ela, o feminismo ainda causa certo medo nas pessoas por falta de informação. Ela revela que também já foi machista, por consequência de uma sociedade patriarcal que se impõe desde muito cedo, e acrescenta que uma vez estando no lugar de julgadora, percebe que estar nesse posto de apenas julgar é muito mais fácil do que questionar e lutar por mudanças. 

 

A advogada chama atenção para o fato de que além de quebrar os padrões e incentivar a busca das mulheres por respeito, é preciso saber dar amparo e assistência às meninas para que logo cedo, elas saibam lidar com a liberdade que o feminismo tanto busca. As famílias e as escolas precisam orientá-las para que essa liberdade seja entendida e utilizada de forma responsável. 

 

Ao ser questionada sobre a abordagem da mídia sobre esse assunto, a feminista declara que “É uma visibilidade importante, talvez seja a única forma que algumas mulheres têm de visualizar isso”, mas se atenta ao fato de que ainda são programas que não passam em horários que atinjam uma grande quantidade de pessoas, e que deveria ser mais falado em novelas.

 

Além disso, ressalta que muitas vezes se é falado sobre feminismo e outras pautas, como LGBT’s e racismo, visando audiência de forma estratégica. No entanto, considera que independentemente da motivação das emissoras, o importante é que o debate exista.

 

Tatichelle ainda fala sobre as dificuldades que as mulheres encontram no mercado de trabalho “Nossa competência intelectual ainda é muito questionada”. Ela afirma que na área de advocacia, o machismo está muito presente e nítido. Conta que várias vezes já foi chamada de “mocinha”, “estagiária”, enquanto os homens são “doutores”. Acrescenta também que “alguns acham que advogada mulher é só para direito de família, nunca o direito previdenciário, tributário”.Rodrigues finaliza dizendo: “Eu pago um preço muito alto de ser quem eu sou, mas minha consciência está tranquila”. Tatichelle já foi muitas vezes chamada de “a mocinha” e isso a incomoda.

 

A coordenadora do Centro Integrado da Mulher (CIM) de Uberaba, Juciara Moura Limírio, vê de perto a realidade de mulheres que sofrem de violência doméstica, e afirma que as agressões são decorrentes de uma sociedade patriarcal e machista.

 

Segundo ela, o número de denúncias têm aumentado ultimamente: “Isso é de fase. Nessa mesma época no ano passado, os números eram menores. Está dando uma média de 120, 130 atendimentos por mês”.

 

49% dos casos de agressão são cometidos pelos companheiros, 21% pelos cônjuges, 12% por ex maridos, 5% por ex namorados, 2% por namorados e 11%, outros.

 

Juciara destaca que a discussão sobre feminismo é importante, mas percebe que é preciso haver discernimento na hora de lidar com o empoderamento da mulher. Ela conta que houve alguns casos em que mulheres se aproveitaram da lei Maria da Penha que as protege, e inventaram mentiras. 

 

A coordenadora ainda explica que não basta falar só sobre ter direitos iguais. As mulheres precisam de muito mais que conquistar os mesmos direitos e os mesmos espaços. Ela afirma que é necessário o reconhecimento da sociedade sobre os papéis que as mulheres ocupam, e que muitas vezes são destinados somente à elas, como os trabalhos domésticos, por exemplo, para que haja a divisão dessas tarefas “Do mesmo jeito que os homens são cobrados dentro da empresa, as mulheres também são. Eles terminam a jornada deles às 18h, e as mulheres também saem nesse horário, mas a jornada delas não termina aí. Tem uma série de coisas esperando elas em casa”. Ela ressalta que o dever de cuidar da casa e dos filhos é de ambos. E tanto a mulher quanto o homem precisam ter essa noção.

 

Limírio considera o feminismo importante para esses casos de violência, porque além da violência física, existe a violência psicológica. E muitas vezes, em ambos os casos, as mulheres não denunciam e não se separam, porque a família, a religião ou a sociedade não aceitam e não enxergam com bons olhos, a tomada dessas atitudes. 

 

Muitos ainda pensam que as mulheres precisam dos homens, mesmo que os mesmos as façam sofrer. E acrescenta que no caso da violência psicológica, é muito frequente que não se tenha empatia pela vítima, por ser uma violência velada, da qual somente a mulher tem total conhecimento.

 

O que Juciara espera, é que os debates sejam cada vez mais amplos, de forma que se abranja todos os assuntos que precisam ser levantados, e que, com o tempo, as mulheres se sintam protegidas e encorajadas para denunciar. Desta forma, o ideal seria que o número de denúncias contra agressões aumentem, para no futuro, o número de agressões diminuírem.

 

Embora muito falado, o feminismo é por vezes incompreendido. A desinformação provoca um grande atraso social. O que as feministas querem, independentemente das vertentes, é respeito e equidade, e sonham com o dia em que não precisarão de movimento e tanta luta, para conquistar o que deveria ser delas por direito.



Editado por Bruna Santos

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