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20/04/2022 às 15h09min - Atualizada em 21/04/2022 às 15h52min

D.A em outro patamar!

Contrariando as expectativas de Duna, CODA leva o Oscar de 'melhor filme' dando voz a deficiência auditiva

Marina Magalhães Prizan - editado por Larissa Nunes
No Ritmo do Coração. (Foto: Reprodução / Google Imagens / Cinema e Afins)

Eu dessa sociedade, parava de fazer o Will Smith ser o assunto do dia 27 de março. A repercussão do dia 27, deve ser o filme, que fez Duna, só cheirar a penúltima estatueta da noite. CODA (No Ritmo do Coração), levou três prêmios. dentre eles: O de melhor filme, colocando a Deficiência Auditiva no estrelato no palco de um teatro, onde literalmente todo um trabalho de um ano é reconhecido.

Vocês entenderam o peso? Não? Então eu explico! As pessoas com deficiência querem ser vistas comuns a todos os níveis no que se propõe a fazer. PCD’s querem se mostrar parte do mundo, querem mostrar seu trabalho em diversas empreitadas, e como qualquer um, ser visto como pessoa. Sem estereótipos e muitas falas por terem conquistado o que sabem que não é restrito a ninguém, eles sabem onde chegaram, mas se quiserem dar parabéns, dê pela cerimônia do Oscar mesmo. Pois, além de premiar o segundo surdo com a estatueta, a cerimônia teve intérprete para a língua ASL, (Língua Americana de Sinais) para o discurso do elenco, e também para o ator Troy Kotsur, que levou a premiação de Ator Coadjuvante na mesma noite.
    
Desde 1986 que atores s
urdos não sobem ao palco. Este feito primário ficou com a Norte-americana Marlee Beth Matlin. Que finalmente tem companhia para o seu reconhecimento de "Melhor Atriz'' dividindo seu posto, até então único, com Troy, que se tornou o primeiro ator de sua geração a ser reconhecido pelo seu trabalho como ator.

Filipe Londe, 28, diz que a comunidade surda e outros PCD's estão felizes por finalmente poder desfrutar das gradativas mudanças. Mas problemas estruturais de inclusão ainda são enfrentados por parte do audiovisual como um todo.

"
Tem que ter legenda pra geral da comunidade surda, até mesmo pra quem ouve pouco ou de um só ouvido. A maioria que eu conheço utiliza da técnica de leitura labial."

Infelizmente os filmes nacionais não contam com legenda, nos cinemas é bem raro. Até uns filmes infantis não contam com legendas, falta inclusão para crianças surdas também. Eu sempre vejo filmes ou vídeos no YouTube se tiver legendas, mas se não tiver, fica difícil", conta o estudante de Recursos Humanos.

 

Sobre representatividade, Londe, demonstra um orgulho que gostaria de ter sentido e visto mais durante seu amadurecimento.
"É muito bom saber que as coisas estão mudando. É uma sensação de orgulho e felicidade, porque antes não via muito isso. Agora tá crescendo, colocar surdos e língua de libras nos filmes, isso faz meus amigos ouvintes e os não ouvintes, assim como a mim, surtarem junto comigo e torcermos para ver mais."

Ana Stephanie, assim como Filipe, viu poucos filmes onde colocam DA’s ou alguém que pega um papel para ser um Deficiente Auditivo.
Relembrando quais, ela cita o Anime "A Voz do Silêncio", disponível na plataforma da Netflix. Ao ser questionada sobre se a história não entra na listagem de "Estereótipos de PCD’’, ela dá sua visão.

"Passamos por falta de estrutura para se ter acesso ao básico. Ao mínimo que toda uma sociedade oferece. Para se dar um contexto conceitual, faltam em diversas profissões, ou até mesmo, por iniciativa do profissional, a língua fluente em libras. Não só se têm falta de acessibilidade ao cinema. Se começarem a nos dar visibilidade, através dele, contudo, talvez abraçarão a ideia de fazerem o curso, é necessário", explora a supervisora.

Drielly Priscilla Queiroz, também complementa o poder que as produções cinematográficas têm de desmistificar conceitos:

"Um lugar silencioso é um filme que mostra que surdos tem capacidade de tudo, sabe? Pensa, cria estratégia.. etc. No final do filme a menina surda descumpre a estratégia de matar o monstro, porque ela grita, ou seja, servimos até para pregar a vilania", diz Drielly.
Por coincidência, ao ler a fala da Drielly, puxei o filme vencedor. CODA, em determinado momento mostra o pai da protagonista não aprovando a decisão da filha de ir pra faculdade longe do interior de onde moram e a proibiu. Por ser protetor e por ela ser a que mais ajuda a mãe e ele a lidar com as coisas inacessíveis do cotidiano.

Quem trouxe essa reflexão foi Amanda de Oliveira, não dominante na escrita em português, porém dominante em português – libras. Ela pediu entrevista via câmera para que sua intérprete pudesse transmitir minhas perguntas; e assim aceitei o pedido.

LAB DICAS: Existe falta de acessos integrais ao cinema pela falta de legenda ou intérprete. E essa visibilidade de legendas nos vídeos começaram com as lives de música na quarentena, porém pararam devido a volta dos shows de forma presencial. Quando você vê isso acontecendo, o que você tira da forma de pensar sobre as coisas serem momentâneas?

AMANDA DE OLIVEIRA: As coisas não deveriam ser de momento. Em todo o mundo temos nossa língua e forma de se comunicar. Temos que aprender que não podemos ter uma só forma de se falar ou entender as coisas. Existe a fala, a língua, fala por sinais e o audiodescrição. Se deve ter a consciência, de que, acessibilidade e representatividade, não servirá só pra quem tem deficiência, servirá para todos. O filme No Ritimo do Coração trouxe essa realidade, me senti representada... eu até escrevi um roteiro de filme também colocando a ideia de te um elenco ouvinte e não ouvinte para uma história.

 

Troy Kotsur, dedicou seu prêmio ao elenco, a comunidade surda e pcd. E finalmente entendemos que é assim que tem que ser, o lugar deles, é onde eles quiserem; não existe seleção apesar de, como sociedade, estarmos ainda decepcionando.

Deixo aqui, um recado do Filipe para terminar: Além da deficiência, existem outras coisas que deveríamos perceber. Somos pessoas amigas. Uns gostam de conversar mesmo sendo meio tímidos, como eu sou, pode haver uma galera de coração mole, meio sonhadora, desajustadas e pé no chão ao mesmo tempo.

Sejam acessíveis e anti capacitistas!


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