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30/05/2022 às 09h51min - Atualizada em 17/05/2022 às 23h57min

O legado de Lygia Fagundes Telles

Após um mês de seu falecimento, Lygia Fagundes Telles detém e mantém um legado de prestígio na literatura brasileira

Ana Faely Nobre - editado por David Cardoso
Lygia Fagundes Telles em sua casa. (Fonte: Reprodução/UOL)

Após mais de um mês de seu falecimento devido a causas naturais, a “Dama da Literatura” brasileira conta com inúmeros livros publicados e aclamados. Foram 98 anos de vida dedicados ao ofício que amou: a escrita.

Lygia Fagundes Telles nasceu no dia 19 de abril de 1923 e recebeu em vida a alcunha de “dama da literatura brasileira”. Tornou-se a terceira mulher integrante da ABL (Academia Brasileira de Letras) e narrou em seus escritos histórias de mulheres diversas e independentes. A morte, o amor, o medo e a loucura, além da fantasia, eram temas recorrentes em sua literatura.  

Biografia Literária

Em 1954 publicou seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, livro que se tornou novela na TV Globo quase trinta anos depois de sua publicação. Com o livro Histórias do Desencontro (1958) ganhou o Prêmio do Instituto Nacional do Livro, primeira premiação de sua carreira.

Os anos de 1970 foram os mais prósperos para a escritora, que se tornou nome consagrado da literatura brasileira no período. Foi nesta década que Lygia lançou alguns dos livros mais relevantes para sua carreira como Antes do Baile Verde (1970), ganhador do Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, As Meninas (1973), Seminário dos Ratos (1977) e Filhos Pródigos (1978).

Como já mencionado, em 1985, a paulista foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 16.

(Foto: Reprodução/ABL)

Já em 2005, Lygia recebeu o Prêmio Camões, considerado a maior honraria dentro da literatura de língua portuguesa. Em 2016, aos 92 anos de idade, tornou-se a primeira mulher brasileira a ser indicada ao Prêmio Nobel de Literatura.


Estilística

Vivendo a realidade de uma escritora em um país subdesenvolvido, Lygia considera sua obra de natureza engajada, comprometida com a difícil condição do ser humano em um país de tão frágil educação e saúde, e procura apresentar em seus textos a realidade envolta na sedução do imaginário e da fantasia.

Especialmente em seus romances, as personagens principais tendem a ser mulheres, dotadas de um psicologismo intenso e de comportamentos muito marcantes, como Virgínia, de Ciranda de Pedra, Raíza, de Verão no Aquário e Lorana, Lia e Ana Clara, de As Meninas. Essa recorrência poderia ser interpretada como um evidente engajamento feminista. O choque do desconhecido no cotidiano aparece em vários textos da escritora, o qual provoca um sentimento de dúvida, medo e ambiguidade.

As obras da escritora Lygia Fagundes Telles pertencem à terceira fase do modernismo brasileiro (ou pós-modernismo). Portanto, seus relatos apresentam um caráter intimista, de sondagem interior dos personagens. Dessa forma, os indivíduos da trama estão imersos em conflitos e angústias existenciais.

Retrato de Lygia Fagundes Telles.

Retrato de Lygia Fagundes Telles.

(Foto: Reprodução/ Divulgação)

Consequentemente, o fluxo de consciência é recorrente nas narrativas, o qual coloca em evidência as incertezas com as quais os personagens precisam lidar. Esse caráter psicológico das obras da autora, permite ao narrador estudar mais profundamente aspectos das relações humanas em determinado contexto sociopolítico.

Lygia teve como alguns temas principais a independência das personagens femininas, o envelhecimento e a solidão. A variedade de gêneros publicados possibilitou à autora explorar diferentes personagens e narrativas que traziam críticas sociais, políticas e de gênero.

A obra Lygiana já foi elogiada por renomados escritores da literatura nacional e internacional, os quais se renderam à sua elegante escrita. Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu, José J. Veiga, José Saramago, entre outros, já expuseram opiniões importantes e fizeram parte do público de admiradores da obra da escritora. Segundo o crítico José Castello, ela "é uma escritora que se dedica aos temas universais: a loucura, o amor, a paixão, o medo, a morte".


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