Barbie, uma fashion doll produzida por Ruth Handler no início da fundação de sua empresa Mattel (instituída em 1945), gerou e ainda gera muitas visões, opiniões e perspectivas na atribuição do papel feminino que a boneca propõe às crianças, especialmente meninas. A personagem cresceu na indústria de brinquedos infantis de uma forma tão avassaladora que, com seus 63 anos de existência, conseguiu faturar no ano de 2020, período do “boom” da pandemia de Covid-19, um total de 1,3 bilhão, sozinha, para os caixas da empresa. Barbie é uma boneca vendida a cada três segundos no mundo inteiro.
A linha Barbie delimita alguns os rótulos e ao mesmo tempo quebra outros antes intocados por personagens infantis. Um retrocesso e uma inovação. Um jogo de mensagens produzidas que fazem as pessoas a enxergarem de perspectivas ideológicas diferentes. Dessa forma, as contrariedades presentes nos diversos significados que a boneca possui a tornam uma personagem problemática.
Aspectos negativos propagados pela Barbie
O estereótipo de mulher historicamente desejado e conceituado na sociedade contemporânea é de profunda representação e definição quando se olha para a Barbie: uma mulher magra, de cabelos longos e loiros, olhos azuis, saudável, sempre jovem, sem nenhum tipo de doença ou deficiência física e, nitidamente, heterossexual. A perpetuação desse modelo de como ser uma mulher bela e de sucesso voltada para o público infantil causa um impacto quase irreversível, de forma que quando uma garota olha pra si mesma e para o exemplo de sucesso que a acompanha para onde ela vá, a criança não se reconhece dentro daquele universo cor-de-rosa.
Pertencendo a quase todo momento de sua história como exemplo de estímulo à valorização da estética ideal feminina, ela construiu sua trajetória projetando um modelo irreal que deve ser seguido para obter grandes conquistas e felicidade.
No conjunto de filmes da personagem Barbie é importante destacar que sempre há uma transmissão de valores morais e éticos sobre as regras a seguir conforme o que tivesse sido imposto. O principal ensinamento é a formação de um caráter feminino “ideal”, o qual é expresso pela necessidade constante de seguir ordens e apresentar falas e atitudes dignas do que se convencionou chamar de princesa, operando diretamente na construção das identidades femininas das princesas. Ser uma princesa não é apenas um título de nobreza: é antes uma forma de se constituir enquanto menina/mulher.
Aspectos positivos propagados pela Barbie
Depois de anos expondo as mulheres apenas como corpos perfeitos a serviço constante da moda, com suas trocas de roupas incessantes, a Mattel decidiu longos 56 anos depois do lançamento da boneca Barbie divulgar uma campanha nova, a qual realmente mudaria algumas perspectivas que os consumidores tinham da personagem. Assim, em 2015 a empresa multinacional de brinquedos propagandeou um slogan novo que encorajava as meninas a ocupar todos os espaços profissionais existentes. A novidade foi apresentada pela primeira vez em uma publicidade no canal oficial da Barbie no Youtube. Nele, meninas aparecem desempenhando empregos de professora de universidade, médica veterinária, executiva e técnica de futebol. No final do vídeo é exposta uma frase que admite a evolução que a Barbie se propôs a propagar: “Quando uma garota brinca com uma Barbie ela imagina tudo que pode ser”.
Desde a época do lançamento da campanha “Imagine as possibilidades” a boneca Barbie acumula cerca de 180 profissões vendidas em 150 países. Dentre essas profissões, que começaram a ser comercializadas em 2011, a Barbie já foi engenheira de computação, juíza, astronauta, médica, empresária, dentre outros. Além disso, na luta por igualdade entre gêneros e pela representatividade feminina, a Barbie astronauta foi criada quatro anos antes de o ser humano pisar na lua, e ela mesma foi para o “espaço” no mesmo ano em 1965. Em uma época que as mulheres trabalhavam majoritariamente como professoras e/ou donas de casa, a boneca incentivava as meninas a “saírem de seus lugares” pré-estabelecidos pela sociedade e sonharem alto, especialmente ao propagar a possibilidade de ocupar um espaço que era então ocupado 100% por homens.
Nos moldes das sociedades machistas atuais, e desde muito tempo, a mulher teve que, estritamente, encontrar sua realização na maternidade e no casamento, outro paradigma quebrado pela Barbie, que não têm filhos e não se casou. Assim, a boneca começou a desvencilhar-se aos poucos do padrão de normatização da vida feminina muitos anos após sua criação. Apesar de tudo isso, décadas se passaram até que a boneca Barbie fosse realmente inclusiva e representativa em suas diferentes formas, tamanhos, cores de cabelo, olhos e pele. Apenas em 2016 a empresa resolveu lançar a personagem de plástico em três tipos diferentes de corpos além do original: Petite, Curvy e Tall. Hodiernamente existem Barbies com 7 tons de pele, 22 cores de olhos e 24 penteados. A diversificação de corpos não parou. Alguns anos atrás foram divulgadas bonecas Barbie sem cabelos (fazendo alusão a crianças que passam por quimioterapia), com próteses nas pernas e com vitiligo.