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30/05/2022 às 21h45min - Atualizada em 30/05/2022 às 16h39min

Malabarismo feminino: desafios da maternidade x mercado de trabalho

“Uma das maiores dificuldades que encontro é a falta de uma rede de apoio para auxiliar nos cuidados desde o nascimento até agora”, disse Nádia Maria ao Lab.

Tassia Gomes - editado por David Cardoso
Mãe ensinando atividade para filha enquanto trabalha. (Foto: Reprodução/Reinaldo Bessa)
Tornar-se mãe é uma decisão desafiadora para toda mulher, pois com ela vem responsabilidades, mudanças na rotina, questionamentos e escolhas e,, muitas dessas escolhas envolve o setor profissional. Não é difícil encontrar uma mulher que após a maternidade tenha adiado o sonho profissional ou abandonado seu emprego para dedicar-se aos filhos e aos serviços domésticos por tempo integral e indeterminado. Existe ainda um pensamento arcaico em relação a divisão de trabalho e maternidade. Homem ainda é visto como provedor da família enquanto as mulheres seguem como donas de casa e mães.
 
Os desafios da maternidade

Quando uma mulher se torna mãe seu mundo muda do dia para a noite. Antes mesmo do bebê nascer já começam as cobranças, as mudanças de hábitos, as preocupações com o que estar por vir, o medo de não conseguir ser uma boa mãe e o preconceito. Em muitos casos o que seria um momento de felicidade e prazer se torna um misto de ansiedade, estresse e medo.
São muitas as cobranças e preconceitos da sociedade em geral e por parte das mulheres para com as mulheres. Não é incomum mães criticarem outras mães por não conseguirem amamentar seus filhos ou amamentar em público, optar por voltar ao mercado de trabalho, estudar, não voltar ao “peso ideal” após darem à luz, depressão pós-parto é frescura, entre outros. “Vivemos em uma sociedade machista isso é fato, mas quando se trata de maternidade o preconceito vem de todos os lados e principalmente por parte das mulheres. Por exemplo, fui criticada por outras mães por não ter conseguido amamentar minha filha, mas o que elas não sabem é que sofri muito com isso você se sente inferior e pensa que não é uma boa mãe. Hoje ela tem cinco anos e optei por voltar a estudar, mas fica o sentimento de culpa em deixa-la nem que seja por algumas horas para ir em busca do meu sonho”, conta Rafaelle que atualmente voltou a universidade


Amamentação.

Amamentação.

(Foto: Divulgação/Escolas do Bem)


O mito de que mãe não erra ou não pode se sentir exausta traz grandes consequências e frustações. Diariamente nas redes sociais somos bombardeados com mães realizadas, lindas e que não possuem dificuldades para conciliar carreira, maternidade e vida pessoal o que causa depressão e desgaste emocional nas mulheres reais. Precisamos enfatizar a maternidade real e o esgotamento físico e psicológico das mulheres após a maternidade. “Tem dias que só consigo tomar banho a noite”, relata Rafaelle que concilia trabalho, estudo e maternidade.
Nádia Maria, mãe da pequena Lorena de cinco anos e casada em um bate papo com o Lab contou os desafios que enfrente no seu dia a dia “uma das maiores dificuldades que encontro é a falta de uma rede de apoio para auxiliar nos cuidados desde o nascimento até agora. E grande parte das responsabilidades em relação ao lar e aos filhos fica com a mulher”.
 
Maternidade x Setor profissional

De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, após 24 meses quase metade das mulheres que tiraram licença maternidade não estão mais inseridas no mercado de trabalho e esse dado é válido para mulheres com maior grau de escolaridade. Já para aquelas quem possui um grau menor de escolaridade essa taxa de desemprego sobe para 51% após 12 meses da licença maternidade. Ou seja, para as mulheres negras e de baixa escolaridade a situação torna-se ainda pior, pois além de ganhar menos em relação as mulheres brancas existe uma defasagem social, como por exemplo: falta de vagas em creches e escolas públicas faltando uma rede de apoio. “Além da falta da rede de apoio que faz uma grande diferença a falta de recursos financeiros para colocar a criança em uma boa escola e assim voltar ao mercado de trabalho” conta Nádia que após o nascimento da sua filha ainda não conseguiu retornar ao mercado de trabalho. “é um ciclo vicioso e estressante. Não podemos trabalhar para cuidar dos nossos filhos, ao mesmo tempo precisamos para dar o mínimo de conforto com uma alimentação adequada”.


(Fonte: Reprodução/RevistaCrescer)

(Fonte: Reprodução/RevistaCrescer)


  
Diante das inúmeras dificuldades para regressar ao mercado de trabalho, preconceito e querer estar mais perto dos filhos as mulheres estão optando pelo empreendedorismo o que não muda muito a jornada de trabalho e o estresse. Cuidar dos filhos, da casa, marido e gerenciar seu próprio negocio é um jogo de malabarismo em uma sociedade que exige mães perfeitas, esposas perfeitas e empreenderas de sucesso. Em outras palavras, é proibido falhar ou assumir cansaço principalmente em relação a maternidade.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) as mulheres demandam oito horas a mais nos serviços domésticos do que os homens e segundo o Pnad Continua (Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios Continua), referente a 2019, as mulheres que trabalham dedicam em média 18,5 horas para afazeres domésticos e cuidados com os filhos. Já os homens empregados dedicam 10,5 horas para as mesmas atividades.
 
Mães Solos

Hoje no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) existe mais de 11 milhões de mães solo, ou seja, mulheres responsáveis por cuidar dos filhos, do lar, trabalhar e da parte financeira sem nenhum apoio. E a realidade para essas mães já não é fácil e durante a pandemia do covid19 a situação ficou ainda pior. Estima-se que 8,5 milhões de mulheres tiveram que deixar o mercado de trabalho em 2020 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Cerca de 61% das mães solo no país são negras o que agrava mais ainda a situação devido a questões de raça. A dificuldade em conseguir emprego é maior e quando isso ocorre a diferença salarial é perceptível em relação a mulher branca. Hoje 63% dos lares chefiados por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza.   
 
 

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