Em 28 de dezembro de 1895 aconteceram as primeiras exibições do que consideramos a sétima arte, o cinema. O cinema era exibido totalmente mudo até 1927, quando foi exibido o primeiro som no cinema no filme O Cantor de Jazz, e a primeira frase dita foi “vocês não ouviram nada ainda“, daí o cinema sonoro foi ganhando espaço conforme os anos passavam, e ganhando mais territórios também, mas como levar o cinema com voz a países que falam outros idiomas?
A primeira alternativa é a única que se tinha no momento era a legenda, que não agradou muito, mas gravar o mesmo filme em vários idiomas seria inviável por custos e a variedade de línguas faladas em todo o mundo.
A solução para este problema chegou em 1930,quando os diretores Edwin Hopkins e Jacob Karol lançaram o filme The Flyer com um sistema de sonorização que permitia a anulação do som original, e substituir por outros. Nasceu ali a palavra de origem francesa doublage.
Oito anos depois o brasil fez a primeira dublagem para o cinema no filme Branca de Neve e os Sete Anões de 1937, o compositor João de Barro, o Braguinha foi o responsável pelas adaptações das músicas e Dalva de Oliveira fez a voz da Branca de Neve.
Um marco do início da indústria de dublagem no Brasil, que foi com o tempo se tornando um especialista na dublagem de filmes, séries e principalmente nas animações e filmes de comédia, por conseguir maior aproximação da cultura brasileira.
A exemplo disso está no filme Shek 2, quando o ‘Burro” olha para um arbusto e diz que um arbusto é a cara da Fafa de belém, mas na versão original ele cita a cantora britância Shirley Bassey que para nos brasileira seria uma fala aleatoria já que ela é pouco conhecida por aqui, outro exemplo disso é em As Branquelas quando cita o programa do Ratinho, assim conseguimos associar pela confusão generalizada que é o programa, com o que está acontecendo no filme.
Essa é uma das magias da dublagem, além de levar as produções do mundo todo com acessibilidade para todos os públicos, ele ainda pode e se conecta com a cultura daquele local sem perder a qualidade. Na verdade, acrescentando.
Já que falei do filme As Branquelas, este é um filme que não repercutiu tanto em outros mercados, ele é um fenômeno mesmo no Brasil, e com o que a brilhante equipe de dublagem conseguiu fazer dele. Todo Mundo Odeia o Chris que assistimos por anos na Record e até decoramos falas do seriado, e quando vemos os atores em outras produções associamos logo ao personagem do seriado da vida do Chris.
Todo Mundo Odeia o Chris foi exibida originalmente entre 2006 a 2009, com 4 temporadas e é uma daquelas produções internacionais que qualquer brasileiro já assistiu alguns episódios, e é reconhecida pela ótima dublagem. Até hoje se qualquer ator da obra postar algo vai ter um brasileiro comentando na postagem citando alguma frase do seriado, inclusive o ator Tyler James Williams, até já pediu para os brasileiros pararem com os comentários repetitivos em seus posts.
A dublagem brasileira é muito bem reconhecida e reverenciada no país, e reconhecida no mercado internacional como uma das melhores indústrias de dublagem do mundo, e as vozes acabam marcando a carreira do ator por aqui, e quando é mudado o dublador gera sempre um descontentamento, porque não conseguimos associar aquela voz aquele ator.
Frustração na dublagem
Em Game of Thrones, depois de 5 temporadas, os telespectadores brasileiros que, já estavam acostumados com a dublagem das vozes do personagem por cinco temporadas, tiveram a decepção na mudança de voz dos personagens, na época (2016) a HBO mudou o estúdio de dublagem da série, não importa os motivos que os levaram a decisão, a frustração com as novas vozes pegou todo mundo de surpresa, fazendo a série perder um pouco da magia, até os telespectadores se acostumar com as novas vozes.
Não é sobre os novos dubladores serem ruins, é sobre a construção que a voz tem sobre o personagem, e como o personagem pode ser reconhecido facilmente por sua dublagem.
Os novos dubladores pegaram personagens que já tinham uma voz característica antes, e isso causou rejeição por parte dos telespectadores. Um dos maiores nomes da atualidade da dublagem Guilherme Briggs pediu para não atacar o novo estúdio ou os novos dubladores: “por favor, eu peço encarecidamente. Não podemos julgar precipitadamente estúdios e dubladores ``, completou.
Por que o mercado de dublagem é tão grande no Brasil?
A resposta não é tão difícil, já que o Brasil é um país populoso é o índice de pessoas que falam inglês no país é baixo, e até a alfabetização do portugues ainda enfrenta dificuldades em todo o país, com altos índices de analfabetismo, agravado pela pandemia, que que aumentou para 40% das crianças entre 6 e 7 anos não sabem ler e escrever em 2021, segundo levantamento da ONG Todos Pela Educação.
Esse é um dos motivos que somente a legenda de um filme ou animação não é suficiente no país, e também existem as pessoas que não conseguem prestar atenção na cena e ler a legenda. Acaba perdendo o foco e interpretação do filme.
"Versão Brasileira Herbert Richers"
Com certeza você já assistiu algum filme que dizia logo no começo “ Versão Brasileira Herbert Richers” ou até mesmo tentou reproduzir quando ouvir o ‘Versão brasileira… Cinevideo" e ficou frustrado porque não era o Herbert Richers, normal. Eu já dei boa noite pro Willian Bonner e ele não respondeu.
Richers criou seu próprio estúdio homônimo de dublagem em 1950. A empresa se tornou a maior dubladora da América Latina, chegando a dominar 80% do mercado com seus 10 estúdios funcionando 24h por dia e com mais 500 colaboradores. Além dos filmes, séries e animações, o estúdio de Richers também dublou novelas, como na versão brasileira do clássico A Usurpadora.
Herbert Richers morreu em 2009 com 86 anos, e seu estúdio entrou em falência em 2012, e o prédio dos estúdios Richers pegou fogo em seguida.
Os maiores nomes da dublagem brasileira
São muitos os nomes que poderiam estar nesta lista, mas vou deixar alguns nomes e seus personagens mais famosos.
Guilherme Briggs, voz de; Superman e Buzz Lightyear, Briggs é um dos dubladores mais famosos da atualidade no Brasil.
Alexandre Moreno, voz de; Bilbo Bolseiro (Hobbit) e dos atores Adam Sandler e Ben Stiller.
Flávia Saddy, voz de; Barbie, Lisa Simpson, Mulher Maravilha de Gal Gadot entre outros
Marco Ribeiro, voz de; dos atores Robert Downey Jr, Jim Carrey e Tom Hanks e do Wooldy, de Toy Story.
Márcio Seixas, voz de; Batman, Sr. Incrível e The Tick além de narrar vários filmes.
Wendel Bezerra, voz de; Goku e Bob Esponja, Pain de Naruto e Sanji de One Piece e do ator Robert Pattinson.
Úrsula Bezerra, voz de; Goku e Naruto quando criança, e Gnar em League of Legends. ùrsula é irmã do também dublador, citado acima Wendel Bezerra.
Selma Lopes, voz de; Marge Simpson, Vovó Fa em Mulan, Mama Odie em A Princesa e o Sapo.
Não posso deixar de lembrar dos incríveis Orlando Drummond, dublador do Scooby-Doo, Vingador de Caverna do Dragão, Gato Guerreiro de He-man e Isaac Bardavid, voz característica e marcante dublador do Wolverine. Há também nomes famosos na mídia que já fizeram dublagens icônicas, como Fábio Porchat, dublando Olaf do desenho Frozen.