O movimento feminista é uma luta para acabar com o sexismo historicamente envolto na sociedade. É a constante busca por espaços tomados pelo machismo, trazendo assim, a igualdade de direitos e condições entre homens e mulheres. Logo, o cenário da arte feminista faz parte dessa reivindicação.
A Arte feminista é uma categoria de arte ligada ao feminismo, na qual as primeiras obras são datadas no final dos 60 – 1970. A manifestação artística tem como principal objetivo destacar o sofrimento das mulheres em relação as diferenças políticas e sociais.
Antes do surgimento do feminismo, as artistas não tinham a visibilidade merecida por suas obras no mercado das artes ou na sociedade em geral. O ganho esperançoso do movimento foi trazer a importância do papel feminino na construção da história da arte, reconhecendo e valorizando novas perspectivas artísticas.
Os meios utilizados são variados – vão desde as formas tradicionais, como a pintura e a escultura, até métodos mais heterodoxos, como a arte performática, conceitual e corporal, o vídeo, o cinema e a arte em fibra. A arte feminista tem sido usada como uma força vital para a inovação e expansão da definição de arte por meio da incorporação de novas mídias.
Antes de 1960, a maioria das obras de arte feitas por mulheres não continha conteúdos feministas, no sentido de que não abordava e nem criticava as condições que as mulheres historicamente enfrentavam. Era mais frequente as mulheres serem os sujeitos da arte em vez de artistas.
Historicamente, o corpo feminino era considerado um objeto de desejo dos homens – um bom exemplo é a obra “a garota pin up” de 1920. Porém, com o tempo, emergiram uma infinidade de obras de arte feminina que se afastaram da tradição de representar as mulheres de uma forma exclusivamente sexualizada.
O período de 1960 foi marcado por artistas como Eva Hesse e Louise Bourgeois, consideradas pré feministas. Em suas obras, já eram vistos aspectos da arte feminista mesmo de forma não explícita e declarada.
Além disso, o final da década de 60 foi caracterizado como um momento de mudanças, influenciado pela segunda onda do feminismo, a guerra do Vietnã, a luta por direitos civis e protestos político-ideológicos que, foram os responsáveis para a Arte Feminista ganhar força e explodir na década seguinte.
Durante a década de 1970, a arte feminista continuou a fornecer um meio de desafiar a posição das mulheres na hierarquia social. Nesse período as artistas criavam e expunham suas obras, intencionalmente, com o objeto de provocar a discussão de temas que evolviam o universo da mulher.
A ausência da representação feminina nas instituições artísticas também foi alvo de debate na década de 70. Muitas mulheres lutaram de frente contra o sistema artístico patriarcal. Já outras criaram organizações que prometia investir o feminino na arte, promovendo exposições, espaços artísticos, livrarias, entre outros recursos.
Com o tempo, mais e mais mulheres começaram a se matricular em academias de arte. Para a maioria das artistas, o objetivo não era pintar como os artistas masculinos tradicionais, mas sim, aprender suas técnicas e manuseá-las de maneira que desafiasse as visões tradicionais das mulheres da época.
Podemos dizer que o final dos 60 – 1970 foram as décadas mais radicais do movimento artístico feminino, que acabou abrindo espaços para a década seguinte, 80.
Os anos de 1980, trouxeram uma perspectiva nova para a arte feminista. As obras estavam mais embasadas pela psicanálise e pela teoria pós moderna, fazendo com as artistas focassem mais no corpo de forma intelectual. Esse posicionamento se difere da década anterior, já que a experiência feminina corporificada foi o foco dos objetos artísticos.
Pode uma obra que não é feita por uma feminista ser considerado parte da arte feminista? Então, toda arte que é feita por uma artista feminista é feminista? As respostas para essas duas perguntas são simples: não. Segundo Lucy R. Lippard (1980), a arte feminista “não era nem um estilo nem um movimento, mas sim um sistema de valores, uma estratégia revolucionária, um modo de vida”. Ou seja, cabe a decisão da artista dedicar ou não a sua obra ao movimento feminista.
Embora a arte feminista seja essencialmente qualquer campo que promova a igualdade entre os gêneros, ela não é uma atividade estática. É um projeto em constante mudança que molda e remodela a relação dos processos das lutas das mulheres. Não é uma plataforma, mas sim uma resposta dinâmica e autocrítica.
Atual arte feminista
Eventualmente, a Arte Feminista passou por várias transformações e atualmente estima uma visão integrativa do conceito de identidade, ponderando em suas obras não apenas a luta feminina, mas também a conexão entre gênero, etnia, sexualidade e classe social.
A crescente proeminência de mulheres artistas na história da arte, assim como a prática da arte contemporânea pode ser atribuída ao feminismo. Alguns dos temas do presente movimento feminista são, na maioria das vezes, excluídos de outros movimentos da arte, bem como as funções biológicas do sexo feminino ou maternidade.
Falar da arte feminista sem mostrar obras feministas que de fato causam impacto naqueles que observam é impossível. Conheça 10 artistas feministas e suas obras que carregam mensagens de grande importância para o movimento:
Helô D'Angelo
“Não vou ser aquela que obedece/ porque meu corpo me pertence/eu decido meu tempo, /como e onde quero/Independente, eu nasci/Independente, decidi”.
A Boba, de Anita Malfatti
Pintada entre 1915 e 1916, a tela A Boba faz parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo. Na imagem, vemos uma única personagem vestida de amarelo e quase desfigurada, sentada em uma cadeira com o olhar voltado para cima. O fundo da tela é desfocado, dando protagonismo a mulher que aparenta ser de meia idade e que apenas encara com um ar reflexivo.
Mother Feeding Child (Mãe alimentando a criança), de Mary Cassatt
Mary Cassatt (1844–1926) foi uma pintora norte-americana que, apesar de ter nascido na Pensilvânia, viveu boa parte da sua vida na França. A tela Mother Feeding Child foi pintada em 1898 seguindo uma tendência iniciada em 1893, quando Mary voltou o seu olhar para a relação entre mães e filhos. De modo geral, suas telas ressaltam a vida das mulheres, especialmente em relação ao espaço doméstico e as relações familiares. Mary Cassatt foi considerada um dos grandes nomes do Impressionismo.
Philip Golub Reclinado (1971) de Sylvia Sleigh
quero pedir desculpas a todas as mulheres
que descrevi como bonitas
antes de dizer inteligentes ou corajosas
fico triste por ter falado como se
algo tão simples como aquilo que nasceu com você
fosse seu maior orgulho quando seu
espírito já despedaçou montanhas
de agora em diante vou dizer coisas como
você é forte ou você é incrível
não porque eu não te ache bonita
mas porque você é muito mais do que isso
Desde novas, as mulheres sempre escutaram elogios relacionados as suas aparência de maneira que fazia parecer ser a única característica digna de comentários. Geralmente, ser "bonita" é visto como uma grande "conquista" e motivo de orgulho. Rupi Kaur destaca nesse poema uma outra visão sobre a beleza, trazendo outras qualidades que podem e devem ser apontadas antes de dizer que uma mulher é simplesmente bonita.
Self Portrait as Saint Catherine of Alexandria (Autorretrato como Santa Catarina de Alexandria), de Artemisia Gentileschi