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11/07/2022 às 16h06min - Atualizada em 11/07/2022 às 15h20min

Arte e Feminismo – a crescente proeminência das mulheres na história da arte

Entenda como essa arte feminista tem servido como força para expandir a voz daquelas que dificilmente são escutadas

Vitória Barbara - editado por Larissa Nunes
Arte feminista. (Foto: Reprodução / Pinterest)

O movimento feminista é uma luta para acabar com o sexismo historicamente envolto na sociedade. É a constante busca por espaços tomados pelo machismo, trazendo assim, a igualdade de direitos e condições entre homens e mulheres. Logo, o cenário da arte feminista faz parte dessa reivindicação.

A Arte feminista é uma categoria de arte ligada ao feminismo, na qual as primeiras obras são datadas no final dos 60 – 1970. A manifestação artística tem como principal objetivo destacar o sofrimento das mulheres em relação as diferenças políticas e sociais. 

Antes do surgimento do feminismo, as artistas não tinham a visibilidade merecida por suas obras no mercado das artes ou na sociedade em geral. O ganho esperançoso do movimento foi trazer a importância do papel feminino na construção da história da arte, reconhecendo e valorizando novas perspectivas artísticas.

Os meios utilizados são variados – vão desde as formas tradicionais, como a pintura e a escultura, até métodos mais heterodoxos, como a arte performática, conceitual e corporal, o vídeo, o cinema e a arte em fibra. A arte feminista tem sido usada como uma força vital para a inovação e expansão da definição de arte por meio da incorporação de novas mídias.

Antes de 1960, a maioria das obras de arte feitas por mulheres não continha conteúdos feministas, no sentido de que não abordava e nem criticava as condições que as mulheres historicamente enfrentavam. Era mais frequente as mulheres serem os sujeitos da arte em vez de artistas.

Historicamente, o corpo feminino era considerado um objeto de desejo dos homens – um bom exemplo é a obra “a garota pin up” de 1920. Porém, com o tempo, emergiram uma infinidade de obras de arte feminina que se afastaram da tradição de representar as mulheres de uma forma exclusivamente sexualizada.

O período de 1960 foi marcado por artistas como Eva Hesse e Louise Bourgeois, consideradas pré feministas. Em suas obras, já eram vistos aspectos da arte feminista mesmo de forma não explícita e declarada.

Além disso, o final da década de 60 foi caracterizado como um momento de mudanças, influenciado pela segunda onda do feminismo, a guerra do Vietnã, a luta por direitos civis e protestos político-ideológicos que, foram os responsáveis para a Arte Feminista ganhar força e explodir na década seguinte.

Durante a década de 1970, a arte feminista continuou a fornecer um meio de desafiar a posição das mulheres na hierarquia social. Nesse período as artistas criavam e expunham suas obras, intencionalmente, com o objeto de provocar a discussão de temas que evolviam o universo da mulher.

A ausência da representação feminina nas instituições artísticas também foi alvo de debate na década de 70. Muitas mulheres lutaram de frente contra o sistema artístico patriarcal. Já outras criaram organizações que prometia investir o feminino na arte, promovendo exposições, espaços artísticos, livrarias, entre outros recursos.

Com o tempo, mais e mais mulheres começaram a se matricular em academias de arte. Para a maioria das artistas, o objetivo não era pintar como os artistas masculinos tradicionais, mas sim, aprender suas técnicas e manuseá-las de maneira que desafiasse as visões tradicionais das mulheres da época.

Podemos dizer que o final dos 60 – 1970 foram as décadas mais radicais do movimento artístico feminino, que acabou abrindo espaços para a década seguinte, 80.

Os anos de 1980, trouxeram uma perspectiva nova para a arte feminista. As obras estavam mais embasadas pela psicanálise e pela teoria pós moderna, fazendo com as artistas focassem mais no corpo de forma intelectual. Esse posicionamento se difere da década anterior, já que a experiência feminina corporificada foi o foco dos objetos artísticos.

Pode uma obra que não é feita por uma feminista ser considerado parte da arte feminista? Então, toda arte que é feita por uma artista feminista é feminista? As respostas para essas duas perguntas são simples: não. Segundo Lucy R. Lippard (1980), a arte feminista “não era nem um estilo nem um movimento, mas sim um sistema de valores, uma estratégia revolucionária, um modo de vida”. Ou seja, cabe a decisão da artista dedicar ou não a sua obra ao movimento feminista.

Embora a arte feminista seja essencialmente qualquer campo que promova a igualdade entre os gêneros, ela não é uma atividade estática. É um projeto em constante mudança que molda e remodela a relação dos processos das lutas das mulheres. Não é uma plataforma, mas sim uma resposta dinâmica e autocrítica.

Atual arte feminista

Eventualmente, a Arte Feminista passou por várias transformações e atualmente estima uma visão integrativa do conceito de identidade, ponderando em suas obras não apenas a luta feminina, mas também a conexão entre gênero, etnia, sexualidade e classe social.

A crescente proeminência de mulheres artistas na história da arte, assim como a prática da arte contemporânea pode ser atribuída ao feminismo. Alguns dos temas do presente movimento feminista são, na maioria das vezes, excluídos de outros movimentos da arte, bem como as funções biológicas do sexo feminino ou maternidade.

Falar da arte feminista sem mostrar obras feministas que de fato causam impacto naqueles que observam é impossível. Conheça 10 artistas feministas e suas obras que carregam mensagens de grande importância para o movimento:

Helô D'Angelo


Artista Helô D'Angelo: @helodangeloarte.

Artista Helô D'Angelo: @helodangeloarte.

(Foto: Reprodução / Domestika)


Temas sérios com humor e ironia estão presentes em todos os quadrinhos da Helô. Seu trabalho pode ser usado como uma forma de denúncia para temáticas feministas e de outras grandes causas que surgem na sociedade.

Jane Eyre de Charlotte Brontë



Jane Eyre, clássico da literatura inglesa vitoriana, é escrito por Charlotte Brontë, uma das três irmãs que marcaram a literatura inglesa. Como outras autoras na altura, a autora fugiu das expectativas da sociedade e se dedicou a uma profissão com a qual ganhou reconhecimento e rendimentos.
Nesta história, seguimos a personagem que dá nome ao romance e que passou por uma infância solitária com a tia, que a pôs num internato onde suportava péssimas condições. Ao atingir a maioridade, Jane Eyre encontra trabalho como percetora da filha de um aristocrata, Mr. Rochester, e se enxerga pela primeira vez com liberdade para se tornar ela própria. Uma história de empoderamento feminino, que dá voz narrativa à personagem que vemos desenvolver durantes as páginas deste clássico.

Anita Tijoux

A rapper chilena traz um olhar feminista ao hip hop. Filha de exilados da ditadura de Pinochet, Anita é engajada e considera o machismo como sintoma de um sistema capitalista. Na faixa “Antipatriarca”, Anita confronta esse sistema patriarcal:

“Não vou ser aquela que obedece/ porque meu corpo me pertence/eu decido meu tempo, /como e onde quero/Independente, eu nasci/Independente, decidi”.


A Boba, de Anita Malfatti



Pintada entre 1915 e 1916, a tela A Boba faz parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo. Na imagem, vemos uma única personagem vestida de amarelo e quase desfigurada, sentada em uma cadeira com o olhar voltado para cima. O fundo da tela é desfocado, dando protagonismo a mulher que aparenta ser de meia idade e que apenas encara com um ar reflexivo.

Mother Feeding Child (Mãe alimentando a criança), de Mary Cassatt



Mary Cassatt (1844–1926) foi uma pintora norte-americana que, apesar de ter nascido na Pensilvânia, viveu boa parte da sua vida na França. A tela Mother Feeding Child foi pintada em 1898 seguindo uma tendência iniciada em 1893, quando Mary voltou o seu olhar para a relação entre mães e filhos. De modo geral, suas telas ressaltam a vida das mulheres, especialmente em relação ao espaço doméstico e as relações familiares. Mary Cassatt foi considerada um dos grandes nomes do Impressionismo.

Philip Golub Reclinado (1971) de Sylvia Sleigh

Philip Golub Reclinado (1971) de Sylvia Sleigh.

Philip Golub Reclinado (1971) de Sylvia Sleigh.

(Foto: Reprodução / Carcará - Seminário de arte e cultura)


A obra de Sylvia Sleigh, Philip Golub Reclining de 1971, observamos a mudança dos papéis tradicionais de artista e modelo e vemos como uma artista pinta um jovem deitado como se de uma odalisca se tratasse, servindo como crítica ao machismo que só permitia os homens observar a nudez humana, especialmente nas mulheres.
 
Mirror, mirror (1987) de Carrie Mae Weems


Mirror, mirror (1987) de Carrie Mae Weems.

Mirror, mirror (1987) de Carrie Mae Weems.

(Foto: Reprodução / Carcará - Seminário de arte e cultura)


A artista de origem africana Carrie Mae Weems trabalha em torno de temas que estão relacionados aos estereótipos de raça e gênero, como em sua obra Mirror, mirror, de 1987, no qual também aborda o tema da beleza brincando com os estereótipos de mulher branca e mulher negra.

Lela Brandão


Artista Lela Brandão: @lela.brandao.

Artista Lela Brandão: @lela.brandao.

(Foto: Reprodução / Domestika)


Lela é ilustradora, criadora de conteúdo e tem sua própria marca de roupas. Seus desenhos divulgados em sua rede social, mostram a importância de se inspirar em pessoas reais e como a desconstrução feminina é usado como uma revolução individual que induz a transformação coletiva.

Quero pedir desculpa a todas as mulheres de Rupi Kaur

quero pedir desculpas a todas as mulheres
que descrevi como bonitas
antes de dizer inteligentes ou corajosas
fico triste por ter falado como se
algo tão simples como aquilo que nasceu com você
fosse seu maior orgulho quando seu
espírito já despedaçou montanhas
de agora em diante vou dizer coisas como
você é forte ou você é incrível
não porque eu não te ache bonita
mas porque você é muito mais do que isso

Desde novas, as mulheres sempre escutaram elogios relacionados as suas aparência de maneira que fazia parecer ser a única característica digna de comentários. Geralmente, ser "bonita" é visto como uma grande "conquista" e motivo de orgulho. Rupi Kaur destaca nesse poema uma outra visão sobre a beleza, trazendo outras qualidades que podem e devem ser apontadas antes de dizer que uma mulher é simplesmente bonita.

Self Portrait as Saint Catherine of Alexandria (Autorretrato como Santa Catarina de Alexandria), de Artemisia Gentileschi


Self Portrait as Saint Catherine of Alexandria de Artemisia Gentileschi.

Self Portrait as Saint Catherine of Alexandria de Artemisia Gentileschi.

(Foto: Reprodução / Cultura Genial)


O quadro Self Portrait as Saint Catherine of Alexandria foi pintado por volta de 1615 pela artista italiana Artemisia Gentileschi (1593-1653). Embora na tela acima estar em uma postura mais comportada, Artemisia ficou famosa por retratar mulheres fortes, muitas vezes sedutoras e nuas.

A arte feminista, portanto, é uma arte política, que afirma ser feita por mulheres, sobre as mulheres e seus status sociais, abordando questões como estupro, racismo ou condições de trabalho. É uma categoria que veio para revolucionar a história da arte, criando assim, um cenário artístico de inclusão e respeito.

Saiba mais sobre a importância do feminismo clicando aqui.



 


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