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10/04/2023 às 14h26min - Atualizada em 10/04/2023 às 14h11min

Literatura erótica ainda é um tabu na atualidade

Livros eróticos ganham espaço após lançamento da trilogia '50 tons de cinza' fanfic da saga crepúsculo

Letícia Vitória Nunes - Revisado por Thainá Souza
Cena do filme '365 dias" (Reprodução: Netflix Brasil - Internet)

Em 2012, chegava ao Brasil o primeiro livro da trilogia '50 tons de cinza'. O romance erótico escrito por E. L. James, pseudônimo da inglesa Erika Leonard James, ultrapassou a marca de 100 000 exemplares vendidos no Brasil, em apenas duas semanas. Na época víamos mulheres de todas as idades lendo o livro no ônibus, metrô, em diversos lugares públicos. Antes livros como esse eram vendidos em bancas, lidos as escondidas. Após o lançamento da trilogia 50 tons, muitas mulheres tomaram coragem para escreverem e publicarem seus livros 'hot', apesar das críticas.

A autora paulista Priscila Veiga, contou como foi para ela escrever seu primeiro livro erótico "Foi diferente, porque o meu primeiro livro erótico também era o primeiro livro que escrevi na vida, então foi um desafio escrever ele".

A autora A. C Nunes (pseudônimo), também contou como foi para ela "Foi uma experiência diferente, meio libertadora, apesar de todos os meus receios. Até então, eu tinha lido alguns bons livros no gênero, nacionais, logo quando se tornou popular, e tudo o que escrevi de cena de sexo eram mais suavizadas, apesar de explícitas."

Atualmente os romances eróticos contam com muitas escritoras e leitoras, pois as mulheres tem perdido a vergonha de lerem tais livros, apesar disso a categoria não deixa de sofrer preconceito. Na plataforma Amazon, onde muitas autoras publicam seus livros, existe a categoria romance erótico, porém quando coloca o mesmo na categoria erótico não entra no ranking e muita das vezes pode prejudicar a venda e divulgação do livro.

Sexo é um tabu?

Carla Freitas, que é leitora afirma que para a maioria ainda é: Sexo ainda é um tabu para a maioria, fazer sexo é fácil para todos, mas falar sobre torna o interlocutor em pervertido e se for uma mulher, aí que fica mais difícil ainda, as mentes ainda não conseguiram evoluir como deveria.

Para Nunes, sexo já foi um tabu "Em especial na adolescência. Deixou de ser depois que me livrei de algumas amarras." Já para Veiga também foi "Sempre morri de vergonha dessas coisas, do meu corpo principalmente. falava sobre esse assunto com ninguém, hoje já é mais tranquilo pra mim falar sobre sexo".

 

Críticas aos livros

A.C conta como lida com tais comentários "Eu já liguei muito para críticas, hoje, eu conto a história como ela precisa ser contada e não me importo mais tanto com a opinião alheia. É claro que tomo certos cuidados e não sou irresponsável. Não é porque eu não ligo para o que vão dizer, que vou romantizar pedofilia, por exemplo. A questão é que eu não me prendo mais ao "será que as leitoras vão gostar disso, daquilo, daquilo outro?". Eu simplesmente escrevo a história, conto como ela precisa ser contada. Se eu noto que uma crítica pode me ajudar a melhorar, eu absorvo aquilo para mim e aplico nos próximos livros. Se é uma crítica vazia, muitas vezes só uma questão pessoal do leitor — tipo, não gostar que o casal não teve filhos — eu simplesmente ignoro. Não vou colocar um casal com filhos só porque agrada um ou outro. Se na história cabe um casal com filhos no final, eu coloco. Se não cabe, não vou colocar apenas para agradar porque alguém um dia reclamou disso." 

Assim como existem críticas ruins, existem as boas e Priscila fala sobre "Críticas construtivas refletem em melhoras nos meus livros, tento sempre melhorar e evoluir como escritora e os meus livros refletem isso." 
Na plataforma Amazon, é possível você fazer uma avaliação do livro que leu, lá você pode dar quantas estrelas acha que o livro merece e ainda pode deixar um comentário sobre o mesmo. Lá é possível ver as mais diversas opiniões sobre um livro, de pessoas que gostaram ou que não gostaram, muitas das vezes nos comentários os leitores explicam o porquê de uma avaliação baixa, pontuando o que não gostou, mas mesmo no mundo literário existem os famosos haters.

Vergonha do gênero erótico

Nunes afirma que já sentiu vergonha no início "Já, mais no começo. Hoje em dia nem tanto. Enquanto eu estiver do outro lado de uma tela. Pessoalmente, ainda fico meio receosa em dizer para a pessoa que escrevo livro erótico." Já Veiga conta que do gênero não sente vergonha "Do gênero não, mas toda cena hot é um parto pra escrever". Algumas escritoras sentem vergonha do que escrevem, pois como já foi pontuado sexo ainda é um tabu então ler e escrever cenas sobre o ato também se torna um tabu.

Preconceito

Ao ser questionada se já ouviu algum cometário maldoso sobre seu gênero de escrita Priscila contou que sim "Que o que escrevo não é literatura, também tem o clássico que escrevo putaria e que por isso sou safada ou sei lá o que". Já A.C, fala que nunca recebeu direcionados a ela, mas sim no geral "Desde que literatura erótica não é literatura, a pessoas comparando com pornografia. Além daqueles que se acham no direito de te assediar porque acham que só porque você lê/escreve erótico, você está aberta a assédio. No geral, acho que o pior comentário é comparar literatura erótica com pornografia."

Comentários maldosos não são direcionado apenas as autoras das obras, mas as leitoras de livros eróticos também, como já ocorreu com Carla "Já tive que apagar comentários preconceituosos em divulgação que fiz de livro erótico, como se eu estivesse cometendo um crime contra a moral e bons costumes". Carla, além de leitora assídua é também assessora literária.


O que significa ser uma escritora de livros eróticos na atualidade? 

Para A.C é "É uma forma de arte como todas as outras. Significa explorar ideias, sexualidade, libertar mentes e quebrar tabus". Para Priscila "Significa contar histórias de casais contemporâneos, se conhecendo e descobrindo o corpo um do outro. O sexo faz parte da vida, no livro erótico só é mais detalhado do que “se amaram a noite toda”. 
O gênero sofre muito preconceito, mas aos poucos vamos conseguir ultrapassar essas barreiras."
A literatura erótica é algo libertador para quem consome e vem ganhando espaço no mercado mesmo com todo o preconceito que ocorre.


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