Greta Gerwig na vigésima sétima edição de The Gentlewoman. (Foto: Reprodução/ The Gentlewoman) Depois do estrondoso lançamento de
Barbie, no tão esperado 20 de julho de 2023, o nome de Greta Gerwig furou a restrita bolha de cinéfilos; missão de tornar-se uma diretora de filmes de estúdio cumprida. Ainda assim, o nome que levou o filme a ser um sucesso de bilheteria foi o da boneca, ícone problemático que moldou a infância de diversas crianças ao redor do mundo.
O filme de Greta Gerwig (e da Mattel), embora não escape ao estilo da diretora e roteirista, é o seu primeiro
blockbuster – e provavelmente não será o último, vide o já anunciado
próximo projeto da diretora.
Barbie é uma transição importante na carreira de Gerwig, que deseja dedicar a carreira a fazer esses grandes filmes comerciais. Mas este texto não é sobre o filme, e sim sobre a carreira sólida da diretora, roteirista e atriz, que foi construída muito antes de qualquer vislumbre de
Barbie.
Greta Gerwig é um nome respeitado quando se fala em filme independente nos Estados Unidos. A diretora chamou a atenção de Margot Robbie, protagonista e produtora executiva de
Barbie, justamente por fazer cinema indie e filmes centrados em mulheres.
Antes de
Barbie, Gerwig era mais conhecida pelos filmes
Lady Bird e
Little Women, dirigidos por ela, e
Frances Ha, filme de Noah Baumbach, seu esposo, no qual ela estrela e estreia como roteirista.
A experiência de Greta Gerwig no cinema começou em frente às telas, atuando.
Lady Bird (2017), disponível na Netflix, foi o primeiro filme em que Gerwig assumiu a direção solo, lançado mais de dez anos após o seu primeiro trabalho,
LOL.
Tanto em
Lady Bird quanto em
Little Women, adaptação do
romance de Louise May Alcott, a diretora explora o gênero
coming of age por meio de mulheres e meninas que estão no limbo da transição entre fases da vida.
Esse recorte não fica restrito a filmes dirigidos por Greta Gerwig, mas é uma característica comum a obras cujo roteiro tem seu nome envolvido.
Frances Ha e
Mistress America saem da adolescência e infância e retratam a fase adulta. As transições e os questionamentos, afinal, não param de existir só porque passa a ser permitido votar, consumir álcool e responder por si.
Lady Bird é uma menina que renega o próprio nome enquanto sonha em ir embora de Sacramento, cidade onde a própria Greta nasceu, vive seu primeiro namoro e um péssimo relacionamento com a mãe – evento canônico na vida de meninas ao redor do mundo.
Little Women se passa em uma casa cheia de mulheres em diferentes idades e fases da vida, mas centraliza Jo March na história, uma criança que reluta ao fim da infância e sofre ao assistir à irmã mais velha ceder à adolescência e às mudanças impostas pelo tempo.
“Eu não sou uma pessoa de verdade ainda” Em
Frances Ha, Greta Gerwig dá vida à personagem que intitula o filme, uma mulher que está tentando descobrir o que fazer da própria vida, sem conseguir sentir-se sequer uma pessoa completa no mundo. A frase “eu não sou uma pessoa real ainda” circula em contas de Instagram até hoje.
Gerwig consegue imprimir no cinema a sensação universal de se sentir perdido e engolido pelo mundo, embora as questões de amadurecimento da sua obra perpassem a existência feminina em específico e, portanto, o potencial de reconhecimento de si está mais sujeito a mulheres.
Em
Barbie, o desconforto de se tornar humana e a resistência às mudanças, junto da percepção do que significa ser mulher no mundo real, trazem o mesmo tipo de abordagem da diretora. Assim como
Frances Ha, a jornada de
Barbie é descobrir como ser gente.
A diferença entre os filmes é a linguagem poética e sensível que um blockbuster dificilmente consegue alcançar. Para compreender que o cinema de Greta Gerwig atravessa a alma e dialoga com a profundidade de ser, ainda que não abra mão do humor, é preciso voltar algumas casas e entender também sua importância para as mulheres na indústria cinematográfica.
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