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25/09/2023 às 15h38min - Atualizada em 11/09/2023 às 15h09min

O Hip Hop tem história

A também modalidade esportiva, e tudo que envolve o nascimento do hip hop, está completando 50 anos de existência. Para valorizar essa forma de expressão, que começou em um encontro de apartamento, em 1973 na cidade de Nova York, trouxemos algumas histórias para vocês comemorarem junto com a gente essa data

Marina Magalhães Prizan - revisado por Anna Sá
Foto: (Acervo pessoal da redatora) Os gêmeos Henrique e Vinícius, no ano de 2008.

No dia 11 de agosto de 2023, o estilo de vida e arte, também musical, cinquentou! E para comemorar, Deixaremos aqui, as nossas felicitações ao movimento artístico e sociopolítico.Através de uma matéria que possa orgulhar a altura
o  Hip Hop mistura arte, música e Breakdance, somando mais forças e pessoas dando abertura para grafiteiros, rappers, MC’S e DJ’S  para viabilizarem seu talento. Mas que talento! Emprestarem sua voz, dentre as variedades comunicacionais, para mudar o mundo e o pensamento.
 

 Portanto, nossos parabéns, e desejos de vida longa!
 
Esse movimento é um encontro de identidades diversas com o objetivo de mudar a realidade social da periferia. Tanto a própria quanto a dos outros, e que também gera a curiosidade de leigos.
O curioso é que muito das histórias de rappers e mc’s começa em ambientes educacionais ou em projetos sociais. Uma visão que para pessoas com pouca informação, que chega a ser estranha. A redação foi atrás de três exemplos muito legais da descoberta dessa parte da vida.

Nossa primeira entrevista foi com o Gabriel. Que hoje faz do rap sua profissão, mas já ministrou aulas através de oficina,  em escolas públicas, mostrando o valor do hip hop.
Ele nos conta que a descoberta do rap e os fundamentos do hip hop, foram em ambiente escolar, assim como a história dos seus alunos: começou na escola, quando um professor de história chamado Wellington Torquato, teve uma ideia de criar um sarau no CEM 09 de Ceilândia. por ver que a gente sempre tava fazendo um som com voz e violão. A partir disso, fundamos um projeto  juntamente com meu incentivador e amigo Ezequiel, e a partir daí não consegui mais parar de pensar em mexer com música profissionalmente. Gabiru se orgulha.   
 
Residente no Distrito Federal, Gabiru, como gosta de ser chamado e é conhecido, nos forneceu suas referências e histórias com as composições de músicas: Naquela época eu já escrevia algumas letras, mas foi em 2017 que eu lancei minha primeira música em colab com o rapper Santana.  A Música intitulada “lado loko”. Ele conta que isso deu um gás nas suas experiências como artista, o fazendo continuar a própria missão: daí para frente eu só pensei cada vez mais em me profissionalizar e aperfeiçoar todo meu trabalho. Hoje tenho vivido coisas incríveis e acredito que tenho consolidado cada vez mais meu nome na música.O cantor lembra o passado para fortificar ainda mais sua história: O rap surgiu muito cedo na minha vida. Quando eu era moleque escutava muito Jamaika, o próprio Álibi, Variosloucos, logo depois, Tribo da Periferia. mas não posso deixar de comentar o quanto Racionais se fez presente também. Relembra o rapper. 

 
 

Como educador, Gabriel, dá sua visão sobre  a expressão artística do hip hop, o feedback que recebe de professores, alunos, e de pessoas que curtem seu trabalho:

Eu fui uma criança criada em periferia, então o nosso dialeto, a maioria das nossas vivencias, tem a mesma raiz. Acredito que esse fator é muito importante. Para que eles tenham um maior convencimento sobre o que estou passando de ideia ali pra eles. Sobre feedback, eu recebo diversas mensagens com uma frequência considerável de pessoas que expõem o que minha arte proporciona e eu fico muito feliz, é uma sensação de dever cumprido.

A minha música graças a Deus tem um poder de atingir um público muito variado. Digo do mais quieto ao mais “flagrante”. E me sinto privilegiado por isso.
O cantor, ao final da entrevista, é curto e grosso, ao ser questionado sobre aquelas pessoas que tem rap, o Hip hop, como coisa de gente que não tem o que fazer, ou de gente "malandra":

Sinto muito. Não ligo. Atura ou surta. Riu o MC Ceilandense, que continuou:

eu sempre tento incluir coisas no meu trabalho com  algo que possa causar identificação entre essa rapaziada. O meu trabalho é para aqueles que sabem ou estão  afim de saber, tentam entender, como hip hop transforma. 

Tenho um público que conta com muitas crianças e adolescentes. então não me permito esquecer da responsabilidade que tenho enquanto formador de opinião. eles também têm que se identificar com nosso lifestyle. Termina o rapaz.


Outro ceilandense, Eduardo Wellington de Sousa Costa, teve sua vida transformada por um projeto social que deu início à sua profissão. O cria da ONG Vila dos Sonhos, hoje colhe frutos do projeto social, após sua saída se tornou produtor, e educador através do rap e do beatbox: tinha por volta de 10/11  anos quando conheci a música, a arte,o esporte, e os fundamentos do hip-hop.  Isso pra mim teve um papel de pai, me educou, me ensinou, me mostrou o caminho. Descobri quem eu era, me deu identidade e autonomia.



 
Desde então venho buscando evoluir meus conhecimentos e talentos através da literatura marginal e livros. Também ações sociais.



( YouTube/Jonathan Rosa )Oficina de Rep no cef 27/ Brasiia 
 

 

Dudu teve a gentileza de contar um pouco mais sobre sua história de vida: Sempre vivi em comunidades onde a violência é cotidiano. Ceilandia Norte foi onde aprendi a viver a realidade da periferia. As regiões do Sol Nascente, P Sul,  P Norte, são vistas por mim, como minha escola na cultura.
Aos 26 anos, apesar de não ter uma educação superior na sua vida, Edu mostra respeito pela educação, e quando esta forma é apresentada nos fundamentos do rap, mais ainda:

  

Apesar de não ter faculdade, a música Rap me proporcionou um transformação de vida , e me deu oportunidades como profissional, estabeleci conexões com outros estados e culturas.
E com essas histórias e vivências muita coisa aconteceu com ele: Em 2016 comecei a batalhar nos duelos de rima ou batalha de mcs. Desde então venho participando colecionando vitórias e derrotas que fazem parte da carreira.  Mas tenho orgulho dos títulos que as batalhas me deram. Sou representante da cultura da ceilandia e do DF através do Rap e beatbox  e basquete de rua .


 
Conversando com ele também vemos que nem tudo são flores quando se escolhe este caminho. O jovem já passou por muitas. mas declara ainda todo o seu aprendizado com o que podia prender conhecendo esse mundo tão plural, que é o hip hop:
Já tive amores e perdi amores por conta da música. Tive que ter coragem para lutar por tudo que acredito.  Já fiquei empenhado por conta de ônibus. ‘nois‘ pegamos chuva, rimamos em lugares que talvez nenhum artista iria, mas o rap vai em qualquer lugar ou até qualquer pessoa.

Já que o professor falou que o rap chegou ou chega em qualquer pessoa, pedimos algum exemplo disso. Foi então que o MC nos deu algo que pediríamos para ser  uma mosquinha para ter visto: Recentemente estive cantando na Câmara dos Deputados e no Tribunal de Contas da União. Palcos relevantes com público de mais de quatro mil pessoas.

Aproveitando essa última deixa perguntamos o que ele achou da experiência e se faria de novo:

Sendo remunerado pelo trampo, sim. A experiência me deu sentimentos adversos. O julgamento que eu senti não foi bom. Ninguém sabia o que o palestrante faria, mesmo assim entre, tomei até café, mas assim que cheguei, percebi olhares de julgamento e reprovações. Até os olhares tortos para o que eu visto.
Quando subi no palco, vi muitas pessoas se retirando. Mas também muita galera que resolveu comprar o porquê deu estar ali mostrando meu trabalho.

Foi muito difícil fazer essa experiência sem remuneração. Eles não arcaram nem com o transporte. Mas foi foda. Jamais imaginei que eu cantaria na frente de juízas, policiais e doutores. Teve gente que ficou e refletiu a causa.

Dando margem para a reflexão, também perguntamos sobre a família do Eduardo, se seus pais o apoiavam, e o que que tem a dizer sobre sua própria escolha no caminho dessa cultura transformadora: Sou a favor de levar isso pra quem precisa. Da situação que eu contei, eles, os políticos no caso, mal entendiam o objetivo com o qual eu  estava me prestando ao papel estar ali. Contudo, acho necessário, que pelo menos com políticos, tente-se acabar com aquele discurso: bandido bom, é bandido morto. Ou que o hip hop é coisa de vagabundo.
Já meus pais, não me apoiaram de início, tive que lidar com vários estereótipos que eu escuto até hoje. Sei que talvez isso possa ser por preocupação ou talvez pode ser desinformação. Mas penso que ser quem nós somos é uma afronta aos costumes de leis, que inviabiliza o preto pobre.
Meus pais já disseram: rap não dá dinheiro, não dá futuro, não vai ser nada. Que essa gente que optou por esse caminho só anda com gente que não presta. Que eu podia trabalhar CLT, mas que só queria ficar com o negócio de rap.

Para esse tipo de comentário, o fundador da Batalha do Relógio, tem uma resposta poética:

Hoje somos a música e a cultura mais forte e atuante no mundo na luta por Justiça, equidade, e direitos. Acessos  pro povo que sofre com o extermínio, o genocídio, como se quisessem apagar nossa história e nossa origem.
 A nossa história é linda, mas é também de muito sangue, lágrimas e suor. Hoje somos patrimônio imaterial da cultura do Distrito Federal. Como a revolução e ocupação do hip hop no Brasil temos bastante história para contar.

Quem também tem bastante história para contar , é o nosso último entrevistado nessa matéria especial de comemoração.
Rivas é grafiteiro, começou a grafitar na década de 80, ao conhecer seu primeiro grupo de Break, ‘o reforços’.
Em entrevista, pedimos para significar o que é grafite, ele então deu a seguinte explicação:

O graffiti tem um significado muito forte pra mim, com ressocialização, transformação de ambientes,  autoestima, o graffiti é a arte, a linguagem das ruas, ele fala diretamente com a comunidade! Ele reflete a vida do artista de quebrada, trazendo sonhos, e realidades ao mesmo tempo.

Assim como os dos últimos responsáveis pela cabeça dessa matéria, Rivas também leva suas rima e canto aonde vai, espalhando arte do grafite por aí nos lugares que mais precisam ser levados em conta:
Já tive a oportunidade de trabalhar no antigo CAJE (Centro de Atendimento Juvenil Especializado) com oficinas de grafite pra a adolescentes e hoje já ministro oficinas de graffiti em todas as unidades de internação do DF, espero muito que essa arte faça parte da vida das crianças na escola porque entendo e vejo a força do graffiti nas periferias de Brasília.
Sobre rivalidade no trabalho o artista diz que é possivel relevar:

Viver da arte do hip hop também é conviver com as rivalidades. Ele também nos contou que quando estava no seu primeiro grupo, muitas pessoas se disperçaram, naquela década foi cada um para o seu canto: Então, nós éramos da Reforços Breaks e tivemos uma grande rivalidade com o grupo DF Zulu Breakers, apesar de termos criado a Zulu, quando saímos se criou a rivalidade, e essa rivalidade aumentou quando ou uma grande separação no rap de Brasília. Ficou Gog, Cambio Negro, DF Zulu de um lado e do outro Álibi, Cirurgia Moral e Reforços Breaks. Isso durou um bom tempo, mas hoje tá na paz. 


 


O grafite e a música sempre foram o motivo de continuar a fazer o que gosta, até o fim e alimentando seus sonhos:

Eu gosto de trabalhar o graffiti com temas de hiphop, mas entendendo o contexto aonde eu estiver, exemplo: se na área que eu for fazer um graffiti tiver problemas com violência, ou tráfico, minha arte estará contextualizada e passado alguma mensagem sobre essa problemática, se for uma área mais rural estarei colocando meus personagens contextualizado com o ambiente e passando a mensagem, sempre será assim, os personagens as frases ou partes de letras de rap que de alguma forma vai falar com alguém, vai alcançar alguém, uma idéia de Fé é sempre bem vinda e eu faço questão de passar positividade nas minhas  artes!


 





Essas entrevistas também me lembraram uma frase do YouTuber Meleca: a receptividade das culturas hoje são mais visadas, mas essas histórias, por não se  ter a visibilidade da mídia, acabam não sendo tão vistas.


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