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24/10/2023 às 11h32min - Atualizada em 14/10/2023 às 21h58min

Maranhão é terra indígena

Arte dos povos indígenas maranhenses ganha exposição no Centro Cultural Vale Maranhão

Marvio Araujo - editado por Malu Figueiredo
Foto: Marvio Araújo

Pintura corporal, cerâmicas, cestarias, máscaras, colares e pulseiras... a arte indígena é rica e diversa em cores, formas e funções, e reflete a tradição e a busca pela presevação cultural dos povos originários. É nessa perspectiva que o Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM) apresenta a exposição Maranhão: Terra Indígena. A mostra, que reúne um acervo de produção material abordando a cultura, rituais, mitos e heranças orais, além da vida cotidiana dos povos originários, fica em cartaz até 17 de fevereiro de 2024.

Os povos apresentados na exposição são: Awa Guajá, Canela Rankokamekrá, Canela Apanyekrá, Gavião Kykatejê, Gavião Pykopjê, Ka'apor, Guajajara Tenentehar, Tupinambá, Krikati, Tembé, Krepun Katejê, Akroá Gamella, Kreniê, Tremembé, Anapuru Muypurá e Warao.




 

De forma inédita, os povos indígenas habitantes do estado do Maranhão vão ser apresentados por meio de suas culturas materiais, cosmovisões, territórios e línguas. "A cultura material indígena é riquíssima e transcende em sentido, nos propondo olhar de outra forma para o mundo, repensar novas agências de produção e vivência do cotidiano, entender melhor o valor do território e a preservação da vida", afirma o diretor do CCVM e curador da exposição, Gabriel Gutierrez.

A expografia conta com instalações que apresentam instrumentos musicais, de caça, peças usadas em rituais de luto e festas, redes, cestarias, cuias e uma ala dedicada ao vestuário indígena, utilizado em diferentes momentos do dia a dia nas aldeias e feitas com tecidos, miçangas e palhas. O espaço também exibe colares, pulseiras, cintos, caneleiras, braceletes e testeiras. Gabriel Gutierrez explica que "o objetivo da exposição é banhar o visitante com a beleza das proposições estéticas indígenas, fazer com que compreendamos melhor o que é ser indígenas, conferindo profundidade à resistência que os povos mantêm há mais de 500 anos".




 

Representatividade

Repleto de elementos que carregam simbologias antigas e sabedorias sagradas que ultrapassam gerações, a arte indígena é rica e plural. Matérias-primas para tingimentos corporais e de objetos, o jenipapo e o urucum são extraídos da natureza. Por sua vez, os troncos são utilizados como base para instrumentos de caça e de música. 

A conservação da arte indígena é uma maneira de garantir e preservar as tradições culturais das diversas etnias indígenas existentes no Brasil, que já produziam arte antes da colonização portuguesa no país. Para o antropólogo e professor do Departamento de Sociologia e Antrologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Adalberto Rizzo, a exposição "contruibui de uma maneira importante para que a sociedade maranhense tome contato e conhecimento sobre a grande diversidade dos povos indígenas existentes no Maranhão, a situação específica que cada um desses povos vivencia, a contribuição cultural materializada em elementos da sua cultura material, além de uma vasta mostra fotográfica relativa a esses povos".

"Essa exposição valoriza muito a cultura dos povos indígenas do Maranhão, fortalecendo a nossa luta pelo nosso território. Os acervos culturais expostos na mostra são de recursos naturais, de materiais da natureza, como os cestos que são produzidos com talas de buriti. Então a gente tá mostrando que nós, povos indígenas, precisamos dos nossos territórios demarcados e homologados, precisamos dos nossos territórios legalizados, para continuar produzindo nossas culturas e festas culturais", afirma Letícia Awju, do povo indígena Krikati, localizado na região sul do Maranhão.



 

Indígenas no Maranhão

No estado do Maranhão, estudos arqueológicos apontam que a existência mais antiga de grupos populacionais foram a de caçadores-coletores, na área continental, em uma faixa temporal entre sete e nove mil anos atrás. Esses grupos viviam por meio da caça e da coleta, com conhecimento na fabricação de artefatos de pedra, bifaces e lascas. Também confeccionavam machados de mão, pontas de flechas e lanças.
 

Segundo dados do Censo do Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, o Maranhão possui 57.214 pessoas autodeclaradas indígenas ou índia. O número representa 0,84% da população total maranhense, que é de 6.775.152 habitantes, de acordo com o último Censo do IBGE, divulgado em junho de 2023. Ainda segundo o levantamento do Censo de 2022, o Maranhão é o 3° estado com maior população indígena do Nordeste, atrás dos estados da Bahia (229.103) e Pernambuco (106.634), possuindo mais de 72% vividendo dentro de territórios indígenas. 

De acordo com Adalberto Rizzo, há alguns anos, está ocorrendo um processo denominado etnogênese - surgimento ou ressurgimento de etnias. "No caso dos povos indígenas, alguns povos que tiveram a sua identidade apagada pelo processo histórico, pela perda territórial, pela disperssão populacional e pela mudança cultural imposta pela dominação colonial, agora retomam sua identidade, sua demanda e sua luta por recuperação dos seus territórios, da sua identidade coletiva e dos direitos inerentes a sua identidade indígena, como é o caso dos
Akroá Gamella, localizados atualmente entre os munícipios de Viana e Matinha, os Tremembé e os Anapuru Muypurá, tradicionalmente da região do baixo parnaíba, no Maranhão, que atualmente passam por um processo de reorganização étnica".

 


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