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31/07/2019 às 13h38min - Atualizada em 31/07/2019 às 13h38min

Maurício de Sousa ganha exposição pelos 60 anos de carreira

Suas obras chegam a quase 500 personagens de sucesso

Tatiane Sampaio - Editado por Letícia Ágata e Mário Cypriano
Tatiane Sampaio
Quem não conhece a dentuça mais brava da história, o garoto que não gosta de tomar banho, o menino que “tloca” o R das palavras e tem o cabelo espetado, a menina que só pensa em comida ou o cachorrinho de pêlos azuis? Para alguns pequeninos é provavelmente uma descoberta, mas para quem tem mais de 20 anos e gosta de histórias em quadrinhos (HQ), os gibis, esses personagens fizeram e faz parte do aprendizado na leitura e conhecimento cultural, se tornando referência há seis décadas.

Estamos falando da Mônica, Cascão, Cebolinha, Magali e Bidu, da clássica Turma da Mônica, criada pelo maior cartunista de todos os tempos, Maurício de Sousa que, neste ano, completa 60 anos de carreira, contabilizando cerca de 500 protagonistas, entre heróis, mocinhos, vilões, celebridades e muitos outros. Com isso, o Centro Cultural FIESP, em São Paulo, irá homenageá-lo com a exposição “Olá, Maurício”, que teve início no dia 17 de julho e vai até 15 de dezembro.

“Gostamos muito do trabalho dele, dos desenhos e tudo mais. A exposição está muito bonita. Que pena que o Maurício não está aqui”, conta o casal de autônomos Alessandra Santos, 43, e Patrick Barbosa, 18.

Durante a exposição, o visitante visualizará um resumo da trajetória do cartunista em um mural, logo na entrada do espaço e, pelos corredores, encontrará diversas obras espalhadas. Alguns exemplos são os primeiros desenhos rabiscados em cadernos, utensílios, coleção oficial de miniaturas, réplica do escritório, quadros da nova coleção “Histórias em Quadrões”, que são releituras de pinturas de artistas consagrados, além de diplomas e troféus de muitas premiações nacionais e internacionais que ganhou ao longo da vida.

Segundo a curadora do evento, Jacqueline Mouradian, “Maurício é muito entusiasmado em realizar novos projetos e ações. Por isso ele aprovou o conceito da exposição com alegria e carisma, ao poder compartilhar com o público sua história e o surgimento de sua turminha e demais personagens”.

Jacqueline ainda destaca que, por causa da quantidade de obras e sua importância, é necessário esse período longo para mostra, proporcionando oportunidade para que todos possam visitá-la. Neste caso, vamos ler mais essa HQ?

Maurício de Sousa em...Conheça um pouco da história

Maurício Araújo de Sousa é um paulistano nascido em Santa Isabel, cidade do interior de São Paulo. Filho de dois artistas, Petrolina Araújo de Sousa e Antonio Maurício de Sousa. Sua mãe era poetista e letrista de música, e seu pai era nada menos que poeta, escritor, compositor, radialista, barbeiro, pintor e cronista. Nossa! Agora está explicado esse talento todo, não é mesmo?

A comunicação sempre esteve presente na vida do desenhista, já que foi criado em meio a livros e sua casa era bastante freqüentada por comunicadores, entre pintores, poetas e demais influenciadores. Nesta época, o garoto gostava de imitar essas pessoas, e sem dúvida foi uma grande influência para seu aprendizado e desenvolvimento da sua arte. Ainda pequeno, a família de Maurício mudou-se para Mogi das Cruzes, também no interior do Estado.

Logo começou a trabalhar ajudando seu pai na barbearia e vendendo doces para sua mãe, mas já demonstrava paixão por desenhos, o que realmente queria para seu futuro. Em uma entrevista para o programa The Noite (SBT), em 2017, o cartunista relata que fazia uma espécie de cineminha com seus desenhos criados por meio das histórias que ouvia de sua avó, Benedita. Entretanto, já com seu olhar visionário, cobrava de um a cinco palitos de fósforo para quem quisesse assistir.

O reconhecimento em...Perseverança e talento

A autonomia e a liberdade para criação de seus personagens também foram baseadas por meio de seu desenho preferido, Spirit, um super-herói inventado nos quadrinhos americanos em 1940, por Will Eisner. O gosto pelas animações só aumentava e o jovem começou a desenhar caricaturas dos professores da escola, para jornais e comerciantes da cidade. Ainda na adolescência trabalhou como recepcionista, datilógrafo e despachante, além de locutor, redator e outras funções em uma rádio da região.

Porém, aos 19 anos saiu do interior para morar na capital do Estado. Mas se engana quem pensa que o reconhecimento de seu talento seria imediato. Pelo contrário. Decidido a realizar seu sonho, o cartunista bateu de porta em porta nas redações de jornais para que publicassem suas obras. No entanto, ninguém aceitava, sendo muitas vezes incentivado a desistir.

Contudo, havia uma esperança quando foi contratado pelo jornal Folha de São Paulo. No início, Maurício começou como jornalista policial, à medida que aguardava uma oportunidade para mostrar o que realmente desejava fazer (desenhos). E foi em julho de 1959 que publicou sua primeira tirinha no jornal com a criação do Bidu, juntamente com Franjinha. Bidu foi inspirado em um cachorrinho que teve na infância, cujo nome era Cuíca.

A partir disso, o desenhista foi conquistando notoriedade e, logo após, inaugurou o estúdio Maurício de Sousa Produções, que atualmente alcança uma linha em torno de quatro mil produtos licenciados extraídos da Turma da Mônica, que vão desde itens alimentícios até roupas, sandálias, material escolar, longa-metragem e afins.

Admiração em...Personagens que inspiram

Cada criação feita por Maurício ganha uma grande proporção, pois são personagens elaborados do cotidiano, desde ilustrações de celebridades, sua família, amigos reais ou fictícios, além de tratar temas relevantes como educação financeira, cidadania, inclusão social, diversidade e outros.

Aliás, é lembrado que a Turma da Mônica é uma homenagem a uma de suas filhas, Mônica Spada de Sousa, visto que no início de sua carreira seus intérpretes eram somente do sexo masculino, sendo que além do Bidu e Franjinha, tinham Cebolinha, Astronauta, Piteco, Raposão, Horácio e Penadinho.

Mas ao longo dos anos foram nascendo tantos protagonistas, que não há como alguém não se identificar ou se apaixonar por algum. Inclusive, o desenhista homenageou, além da Mônica, os outros nove filhos que teve. Ou seja, com uma linguagem fácil de ser interpretada, é natural despertar bons sentimentos em centenas de brasileiros.

Por conta desse formato simples e descomplicado que leva para os quadrinhos, Maurício de Sousa ganha o coração de todos que tem, desde os primeiros passos, o incentivo à leitura.

“Comecei desde pequeno a gostar de desenhos, mas principalmente quando eu ia para o trabalho da minha mãe, e para eu ficar quieto, ela me dava cadernos, lápis e muitas histórias em quadrinhos. Os meus preferidos eram as do Senninha e Chico Bento. Adorava copiar eles”, destaca o desenhista Clodoaldo Almeida da Silva, de 35 anos, mas conhecido como Pixote Mushi.

Assim como Maurício, Pixote Mushi tem a consciência que suas obras são todas importantes, uma vez que sua temática é destacar histórias nordestinas, indígenas, afro, cultura pop, temas sociais e espirituais, especialmente as que foram produzidas nos últimos três ou quatro anos, devido ao contexto, resultado e impacto.

De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), em 2013, “as histórias em quadrinhos (HQ) podem ser uma ferramenta para formar leitores e auxiliar na educação de crianças e adolescentes, dado que todo tipo de leitura é importante”.

Serviço:
Horário: Terça a sábado, das 10h às 22h e domingo das 10h às 20h
Centro Cultural FIESP – São Paulo
Avenida Paulista, 1313, em frente à estação Trianon Masp
Entrada gratuita até 15 de dezembro

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