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24/11/2023 às 20h03min - Atualizada em 27/11/2023 às 22h12min

“Mussum, O Filmis” leva o espectador a conhecer a história de Antônio Carlos Bernardes Gomes antes dos holofotes

Ailton Graça interpreta Mussum em cinebiografia dedicada a trajetória de vida do eterno ator e humorista dos Trapalhões

Catharinna Marques - Revisado por Nildi Morais
(Foto/Reprodução: Acervo/Globo Filmes)

“Mussum, O Filmis” é uma cinebiografia que narra a história de vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum. O longa-metragem lançado dia 02 de novembro vai além de contar a trajetória do sambista e comediante de “Os Trapalhões”. A obra, de direção de Silvio Guindane, supera a figura de Mussum e embarca em uma narrativa que emociona o público ao defender a importância da educação e a chance de sonhar, sobretudo, para pessoas negras.

A produção é mais uma cinebiografia brasileira sobre personalidades negras lançada neste ano. O longa venceu seis Kikitos no Festival de Cinema de Gramado, maior premiação nacional do audiovisual no Brasil e se consagrou o maior vencedor do evento: Ailton Graça ganhou na categoria de “melhor ator”; Neusa Borges como “melhor atriz coadjuvante”; Yuri Marçal em "melhor ator coadjuvante"; “melhor filme” pelo júri popular e na categoria “melhor trilha musical”.

O longa-metragem tem como referência o livro “Mussum: Uma história de Humor e Samba” de Juliano Barreto. O filme aborda a vida do comediante antes da fama, remontando à sua infância, carreira nas forças armadas e sua inclinação para o universo da música, com a fundação do grupo “Os originais do samba”.
 
Os originais do Samba


 

A grande paixão de Antônio Carlos era a música, em especial o samba. No entanto, ao se pensar pelo contexto histórico-social da época entre os anos 50 e 60, o gênero musical popular ainda era marcado por muita estigmatização social. O samba, fortemente associado ao ócio e à vadiagem não era bem-visto. E esse foi um dos motivos que fizeram Mussum a esconder de sua mãe, Malvina, as aptidões e o seu amor pelo estilo. A matriarca da família – interpretada por Cacau Protásio enquanto adulta e Neusa Borges na velhice - tinha apreço e orgulho do filho por fazer curso para ser sargento da aeronáutica. A estabilidade financeira e o prestígio social por trabalhar na força aérea brasileira eram os principais motivos que fizeram Mussum se desdobrar em uma dupla jornada.
 
Cantor, compositor e ritmista, Mussum tocava reco-reco e era o grande nome do Os originais do Samba. O grupo originalmente se chamava Os Sete Modernos e era composto por sete integrantes. Contudo, em uma nova formação, agora com apenas seis, nascia então Os Originais do Samba. Grupo marcado pela autenticidade e descontração ao cantar samba raiz e de partido-alto. Com participações em festivais musicais, aparições em programas de televisão, Os Originais do Samba ganharam bastante visibilidade. Jorge Ben Jor, Elis Regina e Elza Soares são alguns dos cantores com que o grupo fez parceria ao longa da sua história.
 
Dessa forma, as agendas de shows eram lotadas. Tal fator, embora positivo no aspecto financeiro, apresentava-se como desafiador para Mussum, que primeiro teve que tentar conciliar o trabalho nas forças armadas com a música. E quando decidiu sair da aeronáutica, teve que tentar administrar o seu tempo como musicista com as aparições na TV.
 

Entre o samba e a comédia: os desafios da dupla jornada de Mussum


 

“TV pra mim é bico” diz Mussum em uma das cenas da trama. A facilidade do cantor de se comunicar e de provocar graça fizeram com que sua carreira como humorista nascesse de forma orgânica. Ao querer emplacar Os Originais do Samba no ramo da música, Mussum, considerado o porta-voz e a cara do grupo, se viu em uma ascensão solitária. Antes de formar Os Trapalhões com Renato Aragão, Zacarias e Dedé Santana, Mussum chegou a participar da Escolinha do Professor Raimundo, de Chico Anísio. Vale apena dizer que o nome artístico “Mussum” veio de um apelido que Grande Otelo atribuiu a Antônio Carlos, que a contragosto teve que o aceitar com o passar do tempo.  “Mussum” é um peixe, que tem como características principais ser preto e ágil. A comparação se dá pelo jeito de Mussum sambar ligeiro, que ninguém poderia segurar.
 
O legado de Mussum e sua relação com a Estação Primeira da Mangueira




“Mussum, O filmis” foi aclamado pela crítica nacional de cinema e revela a importância do protagonismo de Ailton Graça, um ator negro, ao estrelar o longa-metragem. Embora não aborde as questões raciais de modo explícito, o filme revela em tom emocionante que mais do que a prerrogativa da estabilidade financeira, a possibilidade de escolha deveria ser um direito de todo mundo, principalmente de pessoas negras nascidas e criadas em comunidades.
 
Em tom inspiracional, com um discurso voltado para crianças percussionistas da escola de samba Mangueira, Mussum, interpretado por Ailton Graça, traz a esperança nas próximas gerações. A aposta em educação, compromisso, responsabilidade e amor pelo que se faz parecem ser o caminho e o legado que o eterno sambista deixou para a cultura da sociedade brasileira.



 


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