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03/04/2024 às 12h56min - Atualizada em 01/04/2024 às 17h54min

‘Segredos de um Escândalo’ satiriza o próprio sensacionalismo

Longa-metragem ocupa indicação da categoria ‘Melhor Roteiro Original’ do Oscar 2024

Felipe Nunes - publicado por Malu Figueiredo
Produção foi esnobada pelo Oscar 2024 (Foto: Reprodução/ Diamond Films)

Intitulado originalmente como “May December”, o filme “Segredos de um Escândalo” reúne indicações nas principais premiações cinematográficas da indústria, como Globo de Ouro, Critcs Choice Awards e Oscar. A produção se ancora em um dos casos de abuso infantil mais conhecidos na imprensa americana: Mary Kay Letourneu e Villi Fualaau.

Em 1997, Mary, com 36 anos à época, abusou do jovem Villi, que tinha 13 anos. Condenada, a mulher ficou detida por seis anos. No período de encarceramento, Letourneu engravidou e deu à luz um filho de Fualaau. Após ser solta, o casal teve outras três crianças.

A narrativa, contudo, opta por abordar o modo como o crime afetou a vida de ambos 24 anos depois do escândalo, que emplacou os mais diversos meios de comunicação dos Estados Unidos. O enredo central gira em torno de Gracie (Julianne Moore), Joe (Charles Melton) e Elizabeth Berry (Natalie Portman). Os dois primeiros personagens inspirados em Mary Kay Letourneu e Villi Fualaau.


A autocrítica 

Na trama, Elizabeth é uma atriz que interpretará Gracie nos cinemas. Decidida a mergulhar na personagem, a intérprete se aproxima do disfuncional casal e traz questões antes nunca debatidas por nenhum deles durante os mais de 20 anos em que ficaram juntos.

É com a personagem de Portman que a produção brinca, de forma assertiva, com a metalinguagem em uma proposta autocrítica. Isso porque mescla as questões éticas e deontológicas levantadas quando o assunto é adaptar uma história verídica para às telonas.

Do melodrama ao suspense, o filme se abre em nuances que são vistas no ótimo trio que conduz todo o fio narrativo. Gracie se despe da inocente mãe de família para mostrar as variadas facetas que assume, da manipulação à passivo-agressividade. Joe pondera os rumos que a vida tomou e como o crime do qual foi vítima moldou o homem que ele se tornou. Já Elizabeth decide não mergulhar, mas se afogar nas profundezas da complexa teia que liga o casal.

Nos dilemas crescentes entre os arcos do personagem, a direção de Todd Haynes se mostra madura e verossímil, sem apelar para as hipérboles que a própria história traz consigo. O mesmo é refletido na interpretação de Julianne Moore e Charles Melton, que vivenciam dúbias relações com a Elizabeth, defendida com afinco por Natalie Portman.

O destaque das atrizes veteranas beira a redundância, dado o extenso currículo que ambas possuem na indústria. Mesmo assim, seria impossível não citá-las. A interpretação dos diálogos verborrágicos são pontos altos, mérito do roteiro assinado por Samy Burch, e assemelham-se às personagens Emily Thorne (Emily VanCamp) e Victoria Grayson (Madeleine Stowe), de “Revenge” — seriado americano exibido entre os anos de 2011 e 2015.

Fora Portman e Moore, Melton se consagra na pele do adulto que revisita traumas da infância e juventude ao ver os anseios e dúvidas do próprio filho, fruto do problemático relacionamento com Gracie. Conhecido pelo público infanto-juvenil graças ao Reggie, de “Riverdale”, o ator chamou a atenção do diretor pela sensibilidade interpretativa, marca registrada do trabalho dele em “May December”.


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