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13/12/2019 às 16h36min - Atualizada em 13/12/2019 às 16h36min

A ascensão do K-pop na mídia mainstream e o tsunami da cultura coreana

Entenda como a Coreia do Sul ultrapassou fronteiras e dominou o mundo através da música pop em 20 anos

Rayane Fernandes - Editado por Mário Cypriano
Show de grupos coreanos no Brasil - Foto: Dennis Himura

Quando falamos de K-pop em qualquer roda de conversa, hoje em dia é comum que todos saibam, ou pelo menos tenha a mínima noção do que seja. A música pop coreana se tornou, na última década, um dos maiores fenômenos musicais a dominar o mundo. Mas você sabia que essa onda não é tão recente assim?

A primeira expressão de música pop na Coreia, o Trot, surgiu no início do século 20, durante a ocupação japonesa. Sua origem vem do Enka japonês, estilo que mistura os sons tradicionais aos ocidentais, principalmente a música americana. Com o propósito de preservar a cultura coreana e se afastar da influência japonesa, o estilo de música misturava o tradicional e o moderno, mesclando instrumentos e melodias tradicionais coreanas com elementos ocidentais. Com a chegada do rádio, a popularização desse novo gênero musical se tornou imbatível. Assim, o trot, avô do K-pop atual, se tornou o símbolo de cultura pop coreana por alguns anos. Na década de 80, no entanto, esse gênero teve um declínio com a popularização da música dance e pop americana, que dominava o mundo.

Foi nos anos 90, mais precisamente em 1992, que surgiu o grupo que deu início ao novo marco na música pop coreana: O Seo TaiJi and Boys, o primeiro grupo de Ídolos de K-pop. Com suas roupas peculiares, danças inspiradas no b-boys americanos e principalmente, com um estilo musical inédito no país que mesclava o hip-hop e pop dance quebrando o tradicionalismo, eles causaram estranheza no público geral, mas logo ganharam fama e caíram no gosto do público jovem, que queria consumir algo novo e moderno. Não demorou muito para que tudo que eles vestissem se tornasse popular, e assim, a música pop não era apenas música para se escutar, e sim, um estilo de vida. O grupo acabou oficialmente em 1996, mas o estilo perpetuou e continuou a crescer no país. 

Primeira boy band de kpop: Seo Taiji and Boys (foto: Reprodução/Banana Culture)

Primeira boy band de kpop: Seo Taiji and Boys (foto: Reprodução/Banana Culture)


Nessa época surgiu a SM Entertainment, criada pelo ex-cantor Lee Soo-Man, que viu nesse novo gênero a oportunidade de empreender, lançando o H.O.T. Logo depois surgiram a YG Entertainment, criada pelo ex-membro do Seo Taiji and boys Yang Hyun-suk, e a JYP Entertainment, criada pelo também cantor Park JinYoung, com o G.O.D. Essas três agências, conhecidos como o Big 3, fomentaram o que o K-pop é hoje. O crescimento desse estilo foi tão grande e imediato que não se conteve apenas à Coreia do Sul: o K-pop passou a fazer sucesso também em outro países da ásia, ganhando na China o apelido de Hallyu: Onda Coreana, que invadia e dominava inesperadamente onde quer que passasse. E essa onda não se resumia apenas à música; as pessoas começaram a ficar curiosas sobre toda a cultura coreana, o que beneficiou indiretamente a indústria cinematográfica coreana, que estava em ascensão nos anos 90. Logo, o governo coreano viu no K-pop a oportunidade de exportar a cultura da Coreia para outros países, impulsionando a economia nacional.

No início dos anos 2000, surgiu a segunda geração de ídolos, e o kpop começou a ganhar força fora da Coreia; países como o Japão e a China foram as primeiras paradas. À princípio, os grupos de ídolos começaram promovendo no exterior as músicas em seu idioma original, e na medida que foram firmando suas fanbases no estrangeiro, passaram a produzir músicas no idioma local. Isso contribuiu com o firmamento da Coreia do Sul como potência na indústria musical.

Com o surgimento do Youtube em 2007, as primeiras marolas começavam a alcançar limites fora do continente asiático. Ainda que muito restrito, aos poucos esse gênero começava o conquistar públicos inesperados. “Eu cheguei no Kpop quando tudo era mato” brinca Camila de Souza, de Natal/RN. “A gente não tinha muita informação traduzida [para o português], era tudo muito novo, quase inacessível sabe? Mas era tão empolgante esse mundo novo que eu nem me importava” conta a fã de DBSK desde 2009. Mas essas barreiras culturais - e linguísticas - aos poucos eram derrubadas.


Em 2011, as principais agências coreanas de entretenimento decidiram não apenas exportar a música, mas também os músicas, levando os shows e tours para fora da Ásia. Ainda que as tours mundiais se resumissem ao eixo Europa e América do Norte, esse avanço foi extremamente importante para aproximar os fãs de fora da ásia e seus ídolos, abrindo caminho para um avanço internacional. Assim, tinha início a segunda onda coreana.

Artistas da SM Entertainment na coletiva de imprensa, em 2011, antes do primeiro show em Nova York (foto: Reprodução/Soompi)

Artistas da SM Entertainment na coletiva de imprensa, em 2011, antes do primeiro show em Nova York (foto: Reprodução/Soompi)


Foi através dessa expansão que muitos dos fãs atuais começaram a conhecer o k-pop, e isso fortaleceu ainda mais o consumo da cultura coreana. O k-pop desperta uma curiosidade que não se limita à música, e assim como na primeira onda, as pessoas desejam consumir além da música, como os programas de entretenimento e novelas, que começaram a se tornar mais acessíveis. A culinária coreana também se tornou relevante. A Coreia do Sul não exporta apenas música, mas também tendências; na moda, no life style, e na internet. Tudo que se torna popular na Coreia, acaba tendo relevância internacional. Marylane Sarah, de Piracanjuba, no interior de Goiás, se tornou fã de k-pop a pouco mais de um ano, ressaltando que “acho que quebrou algumas barreiras, como a da linguagem, mas ao meu ver ainda sofre bastante preconceito por ser um gênero de um país fora do nicho eurocêntrico”, e completa afirmando que “de maneira geral vemos que o consumo de séries produzidas em países asiáticos aumentou bastante, basta olhar o catálogo da Netflix esse ano. Podemos observar também o crescimento de pessoas buscando aprender coreano e outras línguas pra ficarem um pouco mais próximas dos ídolos e até mesmo entender os costumes”.

É impossível falar de k-pop sem citar o grupo de maior destaque internacional atualmente: o BTS. Nascidos de uma agência fora do Big 3, desde 2013 eles garantem seu lugar ao sol no meio de milhares e milhares de ídolos, conquistando fãs e reconhecimento na Coreia, atingindo notoriedade internacional. Hoje, eles fazem colaborações com artistas como Halsey e Nicki Minaj, além de performances em premiações como VMA e Grammy. O alcance desse grupo é tão grande que eles conseguiram conquistar uma legião de fãs devotas, que proporcionam quebras de vários recordes, não só como boy band coreana, mas também como artistas no geral.

E assim, em pouco mais de 20 anos, a Coreia do Sul surfou na onda pop que a levou a conquistar os sete mares e além.
 

BTS no red carpet do Grammy em 2019 (foto: Reprodução/Reuters)

BTS no red carpet do Grammy em 2019 (foto: Reprodução/Reuters)


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