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03/02/2020 às 10h05min - Atualizada em 03/02/2020 às 10h05min

A Escolha de Elizabeth Bishop como homenageada da Flip 2020

A decisão dividiu opiniões

Vitória Messias - Editado por Alinne Morais
Elizabeth Bishop (Foto: Vassar College Library Archive)
A 18ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) chocou muitos escritores e causou indignação ao anunciar a homenageada da versão de 2020: Elizabeth Bishop. Escritora americana, nasceu em 1911 e é a primeira escritora estrangeira que será homenageada pelo evento desde sua criação, em 2003.

Na edição anterior Liz Calder, parte da equipe de criação do Flip, encerrou a grande festa com um poema de Elizabeth, deixando uma pequena pista sobre a homenagem deste ano. O diretor artístico Mauro Munhoz disse, inclusive, que a escritora já estava na lista de homenageados há 10 anos.

A autora se mudou para o Brasil em 1951 e a principal razão para essa mudança foi seu romance com a arquiteta e urbanista Lota de Macedo Soares. Elas se apaixonaram e viveram juntas até que a morte as separassem, literalmente, quando Soares morreu em Nova York. Quando esteve no Brasil, Bishop morou na  capital fluminense e em Petrópolis, na famosa Casa da Samambaia. Quando voltou ao Brasil, batizou sua propriedade como Casa Mariana, que se localizava na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais.


A escritora morou no Brasil por mais de 15 anos e inclusive, presenciou o golpe de 1964. (Foto: Vassar College Library Archive).


A literatura de Elizabeth é marcada por inspirações como como Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Mello Neto. Além de também contar com traduções dos autores Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Oswald de Andrade e Vinícius de Moraes. 

Por muitos anos a 
Flip sempre teve o objetivo de criar debates sobre arte, literatura e ainda mais as escolhas para homenageados. O que realmente acontece, já que a escolha de Bishop para a edição de 2020 aparenta ser totalmente desconexa.
 
Durante a vida da autora aqui no Brasil ela presenciou um dos marcos históricos mais violentos e anti-artísticos que já houveram no país. O golpe que nos colocou em uma ditadura militar, em 1964, aconteceu durante a estadia de Bishop em solo brasileiro. É o mais estranho comportamento enxergamos na mesma: apoio ao movimento.

De quebra, o incômodo permanece já que a Flip também se trata sobre nacionalidade e seus valores, quando comemora a pluralidade da literatura brasileira, ainda mais quando atualmente, o meio social tem se posicionado fortemente quanto a muitas questões políticas, sociais, econômicas e principalmente culturais. É até mesmo, carregando o pouco do real nacionalismo que nos resta.


O apoio de Elizabeth ao golpe de 64 foi descoberto em uma carta que ela mesma escreveu para seu amigo Robert Lowell. Após três dias do acontecido, ela o definiu como “revolução rápida e bonita”. A escritora era cheia de críticas à esquerda brasileira da época, e deixava isso implícito nas cartas que escrevia ao amigo. Ela denominava-nos jovens mimados de classe média alta. Sem contar que para ela, a revolução era algo impressionante que não existia de onde ela vinha.


Elizabeth Bishop e Robert Lowell, o amigo a quem ela escrevia suas cartas falando do Brasil. (Foto: Vassar College Library Archive).


A escolha para ser homenageada poderia ser relevante quando analisado que a escritora estrangeira teria uma perspectiva diferente sobre o Brasil, mas Elizabeth Bishop não era brasileira. Apesar de namorar uma brasileira e viver no Brasil, Elizabeth Bishop não era brasileira, e suas raízes nacionais com certeza fizeram com que ela criasse sua própria opinião sobre o país. Longe daquilo que a arte e a literatura oferecem, ela apresentou a perspectiva única, que bem se parece com uma perspectiva para únicos. Isso não a faz ser uma especialista sobre o país e nem sobre a literatura brasileira.

É muito difícil se posicionar diante dos fatos. De fato, literatura e arte andam juntas, de mãos dadas com a liberdade de expressão e também com a pluralidade que existe dentro do nosso país. Mas, há quem pense: Bishop foi uma confusa escolha, visto que talvez, tenha sido escolhida justamente pra gerar diferentes opiniões, argumentos e discussões entre aqueles que acompanham a Flip desde a sua criação.  

Mesmo diante deste fato, é importante que a sociedade brasileira não só contemple um autor pelas suas obras, palavras bem escritas ou poemas que tocam na alma. O artista deve ser contemplado em sua plenitude, como autor e pessoa. Se esse é o intuito da Flip, a homenagem a Elizabeth Bishop expressará tamanha discórdia com o momento que vivemos dentro de uma evolução nos pensamentos de uma sociedade. É também hora de analisar o completo, levar a sério a nossa literatura,  a quem nós homenageamos e principalmente a quem declaramos nossos influenciadores. É totalmente compreensível defender a ideia nacionalista diante do acontecido, prezo que pelo menos nesse quesito, possamos entender a plenitude não só do artista, mas do país em si. 



 
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