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14/03/2020 às 13h06min - Atualizada em 14/03/2020 às 13h06min

Atitudes Preconceituosas

O que acontece com as vítimas de preconceito?

Luís Mário Miranda - Editado por Alinne Morais
Fonte: Centro de Estudos.

Preconceito é o juízo prévio, que se manifesta numa atitude discriminatória perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. Trata-se de uma opinião formada sobre algo ou alguém, sem fundamentos ou análises críticas. Isso acontece de uma forma superficial, quando conhece pouco sobre determinadas coisas, ou, não conhece o que julga. Geralmente, o preconceito está ligado à: achar-se superior, aversão, intolerância, discriminação e ignorância. A partir dessas definições, nascem os estereótipos que são, basicamente, padrões pré-conceituados sobre um grupo de pessoas, países, regiões, religiões, línguas, raças, gêneros, etc.

Os tipos de preconceitos são: 

Preconceito com as mulheres: são três tipos de preconceito contra a mulher: machismo é a crença de que a mulher é inferior ao homem em vários aspectos (ambiente de trabalho, por exemplo). O sexismo é a discriminação baseada no gênero da pessoa, seja homem, mulher ou outros. Por fim, a misoginia, que se trata do ódio pelas mulheres, evidentes em casos de crimes bárbaros que são cometidos diariamente contra elas. A partir dessas opressões surgiu o feminismo que, ao contrário do que muitos pensam, não é um movimento contra os homens e sim, uma luta por igualdade; 

(Reprodução/Blog Quatro Linhas)

Preconceito racial: o racismo consiste na crença de que existem raças superiores e inferiores, onde a etnia com mais ‘poder’ causa opressão na outra. Temos como exemplo a escravidão, onde muitos negros foram tirados de suas terras e levados como escravos para outras. Ainda hoje existem casos de racismo, sendo praticado de forma velada na maioria dos lugares. O combate ao preconceito racial começa a partir da criminalização de atitudes de discriminação, das cotas raciais em universidades públicas, para dar mais oportunidades a jovens negros e pobres, e do empoderamento dos negros na mídia, na indústria musical dentre outros setores sociais; 

(Reprodução/Junião)

Preconceito com os LGBTQIAP+: muitos crimes são registrados diariamente contra a comunidade LGBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, e mais), podendo ser agressões psicológicas e/ ou físicas, que podem levar a homicídio. Essa forma de descriminação acontece pelo fato de que as diferenças de orientação sexual (indica pelo o que se sente atração. Mostra para qual lado a sexualidade está orientada) e de identidade de gênero (maneira como se enxerga, o gênero que se identifica), não serem aceitas socialmente, seja por questões religiosas, culturais ou sociais. Devido aos episódios violentos de homofobia contra a comunidade LGBTQIAP+ aqui no Brasil e, depois de muita luta do grupo, o STF (supremo Tribunal Federal) aprovou, em 2019, a criminalização da homofobia;  

(Reprodução/Laerte)

Preconceito com os pobres: nasce do pensamento de que os pobres são inferiores aos que têm mais poderes aquisitivos, criando uma hierarquia social. Muitas vezes, o inverso também acontece, quando os pobres taxam os ricos de esnobes arrogantes. A desigualdade social afeta as pessoas de ambas as camadas da sociedade, reforçando as atitudes discriminatórias; 

(Reprodução/Redação Online)

Preconceito linguístico: essa forma de preconceito, é motivado pelas diferenças de linguagem presente dentro de um idioma. É um fator muito presente no Brasil já que ele tem uma vasta extensão territorial, dando ao português falado aqui  sotaques que varia por região, estados e cidades. Claramente, atinge com mais força grupos com menor prestígio social, como nordestinos e interioranos que são taxados de caipiras. A grande variedade de dialetos, gírias, regionalismo e sotaques só enriquece a sociedade já que o código linguístico é mutável;  

(Mauricio de Sousa Produções)

Preconceitos com diferenças culturais: vem da aversão que se demonstra a pessoas de culturas, hábitos, religião e condutas diferentes. A xenofobia e a intolerância religiosa bons exemplos. Mais uma vez, um achar tolo de que uma cultura é superior a outra. Claro que não. Todas são peculiares aos olhos de quem a vê, mas não significa que são inferiores. Por exemplo: em algumas culturas é proibido o insesto, chegando até ser considerado crime, já em outras culturas, o ato do inscesto é permitido; 

(Charge de Carlos Ruas sobre etnocentrismo) 

Preconceito com os deficientes: seja deficiência física ou mental, a discriminação afeta a auto-estima e o desenvolvimento social das pessoas portadoras de necessidades especiais. Cerca de 10% da população brasileira é portadora de algum tipo de deficiência. O preconceito se reflete na falta de inclusão, preparo, acesso e oportunidades aos deficientes.  

(Charge de Ricardo Ferraz)

Preconceito com a aparência: não só existe como também influência no mercado de trabalho, onde a aparência não deveria pesar mais do que a competência profissional. Pessoas gordas são alvos mais visíveis, mas ele atinge também a: pessoas magras, baixinhas, altas, com tatuagens ou qualquer outras características físicas marcantes;  

Bullying e Cyberbullying: trata-se da intimidação, perseguição e agressão física e psicológica contra alguém. Acontece em todas as idades, porém, se manifesta constantemente entre crianças e adolescentes. O Cyberbullying segue no mesmo conceito, ele acontece na internet, com a difamação da vítima em redes sociais e aplicativos. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), metade dos jovens e crianças do mundo sofrem Bullying. Livros, projetos, programas, debates e coisa relacionadas, estão, atualmente, ajudando no combate ao bullying e ciberbullying.  

Todos os que praticam quaisquer que seja o tipo de preconceito, oprimem a vítima de forma psicológica ou/e física, causando desconfortos emocionais e psicológicos, fazendo com que as vítimas desenvolvam fobia social, depressão, ansiedade, dentre outros problemas. A simplícia ignorância da prática do preconceito é crime, já que pode chegar a homicídio e até, suicídio. A prevenção desse crime pode ser tomada a partir da comunicação, ensinando que as diferenças são o que nos tornam iguais. 

E como a justiça atua em casos de discriminação? a Dr. Kelly Alcantara respondeu algumas perguntas:

Doutora, como a justiça atua em casos de preconceito?

 “Inicialmente depende do tipo de preconceito a que se refere tendo em vista os preconceitos: religiosos, de raça, de gênero… Todos são passíveis de punição. Porém, o judiciário dificulta a aplicação das leis que regulam esses crime.”

Existem leis que pune a prática da discriminação? 

“Sim, existe a lei contra homofobia, racismo, religioso. Porém, como os procedimentos são inicialmente realizados pela delegacia, comumente não são aplicadas as leis corretas.” 

Aos olhos jurídico, o Brasil é um país preconceituoso? 

“Depende, o judiciário tem diversas leis para regular a discriminação. Mas, infelizmente não existe efetividade na aplicação das leis.”

Quais os casos mais graves de discriminação aqui no Brasil? 

“Racismo e Homofobia.”

O que devem fazer as vítimas de preconceito? 

“Denunciar.” 


A partir das formas de preconceitos, entrou em cena o empoderamento, que consiste na ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis, e os movimentos sociais, com o intuito de garantir os direitos de igualdades para todos. A mídia, embora ainda falte um pouco, tem contribuído com o combate à discriminação, usando a representatividade na imagem midiática, programas, documentários e debates voltados ao tema, inclusão, dentre outras ferramentas.

Convidamos algumas pessoas para participar de uma entrevista, contando suas experiências e opiniões em relação ao preconceito. 

 

Richard Aquilino, 18 anos. Estudante.

Você já sofreu algum tipo de preconceito? Como foi a experiência? 

“Ah! começar falando que tô muito feliz de está falando sobre esse assunto e saber que pessoas ainda abordam esses assuntos em prol da destruição do mesmo, me conforta. Já sofri sim, e como homem negro, isso tudo é bem maior. É super complicado, mas com o tempo aprendemos a lidar.” 

Então tu sofreu preconceito racial?

“Não só o racismo, mas por ser bixessual também. Principalmente por ser um homem que não se encaixa em alguns padrões masculinos. Isso era bem difícil na minha infância, mas agora enxerguei que não há nada de mal em ser fora desses tipos de padrões taxados pela sociedade como obrigação. Em relação à racial, no início fica difícil porque vem escancarado, e depois que você desconstrói algumas coisas em relação ao racismo, aquilo (racismo) vem de uma forma velada. Mas, a graça está em ver beleza na sua cor e nos seus traços, mas isso leva tempo e muito esforço psicológico ‘pra’ ser concluído.”

No teu ponto de vista, o machismo afeta também aos homens ou apenas as mulheres? 

“Não, muito pelo contrário, afeta diretamente as mulheres! Com certeza os homens são privilegiados. Alguns homens só são afetados pelo machismo quando não estão dentro dos padrões que os machistas exigem como realidade. Mas aí, entramos num outro contexto, né?!”

A representatividade negra na mídia, e em outros meios sociais, são suficientes?

“Eu acho que atingimos um patamar que é super gratificante. É super reconfortante vê homens e mulheres pretas “dando a cara pra bater” todos os dias por coisas que nós acreditamos, mas não é suficiente. Ainda estamos muito longe do que queremos e só sossegaremos quando vidas negras pararem de ser colocadas nas mãos de policiais, por exemplo… o genocídio é algo que cresceu bastante de um tempo pra cá e mesmo com a tamanha representatividade, ainda não é suficiente pra deixar claro que não precisamos morrer, “saca”?”

A segurança pública, ao teu ver, protege as vítimas prováveis a sofre racismo?

“Não, ela apoia. Recentemente houve de um Movimento Negro e muitos jovens foram vítimas da segurança pública e isso só acaba protegendo e fortalecendo um sistema altamente racista.”  

Você já presenciou atitudes racistas ou machistas com terceiros?

“Com certeza, na família e com conhecidos. Vinda de amigos é mais difícil porque não me envolvo com gente que faz esses tipos de comentários e sempre estamos tentando nos desconstruir ao máximo, mas já vi sim, e admito: não fico calado pra opressão.”

Já fosse um dos “que fazem esse tipo de comentários” antes do seu processo de desconstrução?

“Ah, foi bastante difícil porque ninguém nasce desconstruído, né? Eu não me recordo de algum comentário racista, mas eu me lembro de me sentir ameaçado vê outros negros perto de mim, como se eles fossem meus inimigos. Agora é diferente, os enxergo como enxergo a mim.”

O que tu tem a dizer sobre as cotas para negros nas universidades públicas?

“É triste saber que precisamos disso pra entrar numa universidade. Olhando por um lado é como se o governo nos subestimassem, acreditando que nossa raça é incapaz de conseguir qualquer vaga, como se fôssemos inferiores. No meu olhar como um homem preto, é necessário, sabe? Não só pelo fato da nossa sociedade estar perdida em relação à desconstrução, mas é questão de oportunidades.”

Tem alguém que tu admira ou se inspira?

“Ai, sim, minha amiga Yasmin, perfeita, sensata, tudo que há de bom numa mulher negra, e inclusive, futura cirurgiã pediatra da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).”

 Quer deixar alguma mensagem para as pessoas e para o mundo?

“Diretamente para meus manos e minhas minas pretas: O nosso sistema é duro, não os nossos cabelos, somos as pessoas mais fortes que nós já vimos é pra vê, é só preciso se olhar no espelho! Vocês são capazes. vocês são incríveis.”

 

Leticia Barbosa, 17 anos. Estudante. 

Você já sofreu preconceito? 

 "Sim, sofri bullying e ainda sofro" 

Como é conviver com isso? 

"Me sinto como se eu fosse um erro, um peso"

Sabemos que o bullying é um dos maiores causadores de depressão, ansiedade e outros problemas psicológicos entre crianças e adolescentes. O bullying que tu sofreu/sofre te levou a algum desses níveis extremo?

"Sim. Tenho ansiedade, TOC  e síndrome do pânico."

Tu faz algum tratamento pra ajudar a melhorar?

"Já frequentei psicólogo e psiquiatra, que me receitaram remédios e algumas atividades para fazer em momentos de crise."

Os padrões estabelecidos pela sociedade, te limita a se sentir bem? De que formas?

"Em partes sim. Me faz pensar que não sou boa o suficiente ou que não me encaixo nos padrões, como por exemplo, me sinto extremamente fora da minha zona de conforto quando entro em uma loja em busca de uma roupa e quando vou ao provador, ela não entra em mim e não tem um tamanho maior para se vestir."

No teu ver, há representatividade na mídia de quem está fora dos padrões?

"Para ser sincera, nunca vi."

A indústria da moda contribuí para a baixa autoestima de meninas e meninos como você?

"Contando como lojas específicas, sim, mas são muitos difíceis de encontrar. Principalmente em shoppings."

Tu já presenciou algum caso?

"Já presenciei um caso de racismo na escola, faz um bom tempo. Lembro apenas de ter argumentado contra o praticante do ato e ter exposto isso ao professor."

Tu como vítima do bullying faz algo para ajudar outras pessoas que  também são ou foram vítimas?

"Não exatamente, mas se estiver ao meu alcance, tento sempre ajudar de alguma forma."

É possível superar esses traumas?

"Superar é algo que leva tempo, possa ser que tenha a possibilidade, mas acredito que vai estar sempre ali, sabe? Tipo uma cicatriz."

Da pra tirar alguma "lição" de quem prática o bullying?

"Já fiz muitas pesquisas sobre, mas acho que o mais plausível para essa pergunta é o exemplo de Julian Albans, personagem do livro EXTRAORDINÁRIO, do autor R.J. Palácio. Julian é espelhado pelos pais, ou seja, ele é aquilo que ele vê em casa. Acredito que praticantes assim como o Julian, sejam aquilo que convivem sem seu meio familiar."

Você quer deixar alguma mensagem para as pessoas que assim como você sofrem discriminação?

"Primeiro quero indicar o livro citado anteriormente, acho que toda vítima de preconceito deva ler ele durante seu ciclo de vida. E quero dizer que mesmo que seja sufocante lidar com a sociedade de julgando por ser quem é, você nunca deixe ela tirar a sua essência, ela fazer com que você se torne outra pessoa para ser "aceito", seja você e mesmo que existam tempestades, no final o sol sempre aparece para iluminar e nos aquecer."


Que possamos aprender a respeitar as diferenças e desconstruir os  conceitos prévios que nos rodeiam. 

 

CONCEITO. Conceito de Preconceito - O que é, definição e significado. Disponível em:<https://conceito.de/preconceito>. Acesso em: 04 de Fev. 2020.

 POLITIZE. Empoderamento: o que significa esse termo?. Disponível em:<https://www.politize.com.br/empoderamento-o-que-significa-esse-termo/>. Acesso em: 05 de Fev. 2020.

 HIPER CULTURA. 10 Tipos de preconceitos que o mundo pratica. Disponível em: <https://www.hipercultura.com/tipos-de-preconceito/>. Acesso em: 05 de Fev. 2020. 

OBSERVATÓRIO IMPRENSA. Os movimentos sociais e a mídia. Disponível em:<http://observatoriodaimprensa.com.br/interesse-publico/os-movimentos-sociais-e-a-midia/>. Acesso em: 05 de Fev. 2020.
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