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15/02/2021 às 00h17min - Atualizada em 15/02/2021 às 00h09min

A força da mulher

Por um longo tempo, a figura da mulher no campo da literatura e da poesia foi colocada apenas como objeto de inspiração para a construção de poemas

Isabel Dourado - Editado por Roanna Nunes
Foto/Reprodução: livro "A mulher grande" de Beatriz Rocha
“A mulher não escreve só sobre sua condição de mulher”. Foi assim que a historiadora e poeta Beatriz Rocha defendeu o ponto de vista da voz feminina na escrita da poesia. 

O gênero, que por tanto tempo foi marcado pela presença masculina, contempla hoje as palavras das mulheres se levantando e, assim, libertando-se do papel de objeto de alento das poesias, tornando-as protagonistas dos seus próprios versos.
 
As mulheres, sem dúvidas, participaram e participam da escrita literária, mas por um longo tempo estiveram relacionadas ao poder e foram usadas como forma de dominação e exclusão de determinadas vozes. 
 

No gênero da poesia, não é preciso ir muito longe para lembrarmos de nomes como Ana Cristina César, Pagu e Orides Fontela. Elas cumpriram o duplo papel de serem poetas e, ao mesmo tempo, musas inspiradoras. Há um movimento forte e constante de mulheres que escrevem no Brasil e no mundo, porém, há também um desaparecimento da mulher na literatura. Em 115 anos de existência, o prêmio Nobel de Literatura consagrou apenas 13 mulheres. 
 

Dados da Universidade de Brasília (UnB) apontam que o perfil de autores brasileiros segue o mesmo padrão desde 1965, com predominância de homens que conseguem um maior espaço para publicar nas grandes editoras. A pesquisa foi desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, vinculada à UnB. 
 
Beatriz 
escreveu aos 11 anos de idade o seu primeiro poema. A trajetória e a paixão pela escrita começou cedo, mas sem pretensão de publicar os escritos. A vida dela foi marcada pela leitura de livros clássicos e pela 'aventura' no gênero da poesia. “Na poesia há muitos caminhos”, declara. 

Segundo a autora, é preciso ter cautela para não rotular a escrita feminina. A mulher não escreve apenas sobre sua sexualidade, sua condição como mulher ou aspectos do cotidiano, ela escreve sobre diversos temas. É, portanto, necessário quebrar a ideia de que será debatido apenas esses assuntos. 
 

Aos 23 anos, Beatriz Rocha viu uma oportunidade de publicar os poemas que tinha escrito. A editora Urutau abriu, em setembro de 2020, uma chamada para o recebimento de originais para compor a coleção LGBTQIA+ intitulada "Mil tons de escrita". Como se tratava de uma coleção, e não de uma antologia, só puderam ser enviados livros inteiros. “O livro começou a ser escrito em 2018”, disse ela. A jovem poeta escrevia nos tempos livres, ora na biblioteca da faculdade, ora no caminho para o trabalho, sempre quando tinha tempo. É na parte da noite que ela prefere escrever os versos, como um ritual sagrado.

 

A coletânea de poemas originou o primeiro livro da poeta, chamado "A mulher grande", que tem como protagonista o corpo. O corpo é o personagem central da escrita. O eu lírico é muito biográfico, flerta com a cultura pop e com a cultura erudita. O livro é composto por  30 poemas.

 

Diversos autores iniciantes têm ganhado espaço para a publicação de livros através de editoras independentes e de pequeno porte, como é o caso da editora Urutau, que tem aberto amplo espaço para escritores contemporâneos e iniciantes. A internet e as redes sociais também são grandes aliados para jovens que pensam em iniciar a carreira de escritor.  


Meu peito é errante e não cabe no mar

nem na capa de um livro

um museu no centro da cidade

ou numa empresa qualquer

 

Meu peito é errante e não cabe nas margens de uma fotografia

de uma memória estática

e que não faça enlouquecer

 

Meu peito é errante e pertence ao universo

ao movimento das ondas e do vento

ao centro da terra

 

Quase nunca vejo o mar

mas sinto sinto sinto

que a essência dos meus cabelos ao vento

é o movimento das ondas

sopradas por ventos, deuses ou destinos

 

Vulcânica, sou magma fervido

ensaiando como gozar.

 
POEMA DE “A MULHER GRANDE” - BEATRIZ ROCHA
EDITORA URUTAU (SELO POLÍTICO HECATOMBE) - 2021
 

As poetas brasileiras Angélica Freitas, Alice Ruiz e Ana Martins Marques estão entre as inspirações de Beatriz no campo da poesia. 

 

A autora pretende se aventurar em outros gêneros da literatura, como contos, romances e diários. “Desde a publicação do meu livro, minha escrita tem mudado, agora é uma escrita pensada”, finalizou Beatriz Rocha. 

 

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