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24/04/2021 às 22h36min - Atualizada em 24/04/2021 às 21h55min

Nordestino conquista prêmio internacional de fotografia por observar e absorver

Conheça a história de superação de Junior Imigrante, que retrata a vida em preto e branco

Paulo Victor Alves dos Reis - Isabela dos Santos
Foto: Junior Imigrante
O ato de observar faz parte do nosso cotidiano, está ligado ao conjunto de ações que acontecem ao nosso redor e pode ser notado por diversas óticas. Porém, não basta observar, é necessário absorver para entender o que está acontecendo ao nosso redor.

Observar e absorver é considerado uma arte, pois todo artista domina esse dom de interpretar o seu meio de maneira diferente. O fotografo nordestino
Junior Imigrante, por meio desta capacidade conquistou o prêmio 5° 35AWARDS 2019, na categoria Motion (fotografia em movimento), um dos maiores prêmios internacionais de fotografia, realizado em Moscou na Rússia. 
O artista este ano concorre em duas categorias do mesmo prêmio.



O fotógrafo por trás das lentes 

Junior Imigrante reside há sete anos na cidade de Bertioga, porém, é natural de Cajazeiras no sertão da Paraíba. Antes de conquistar o prêmio, o fotografo teve muitos obstáculos e barreiras em sua trajetória. Vem de infância e adolescência de grande superação, e de muito trabalho. Com seis meses foi para São Paulo com sua família, morando em uma casa de palafitas enfrentando diversas dificuldades. “Depois de um bom tempo conseguimos um terreno e construímos um barraco e as coisas começaram a melhorar”, conta Junior.

Com 12 anos retornou a sua terra natal, morando na zona urbana. As dificuldades fizeram com que seu pai retornasse ao sítio de seu avô, para morar em uma casa que foi passada em geração para sua família. Porém, ele decidiu voltar à zona urbana para trabalhar, pois, a seca na região era grande.

Já nesta nova jornada, as dificuldades aumentaram. Teve que abandonar os estudos, devido ao seu trabalho. “Passei fome, porém tive que falar para minha mãe que comia na casa do patrão para não voltar ao sítio. Cheguei a abandonar os estudos”.


   

Contato com as câmeras

Imigrante conta que sempre gostou de arte e tenta expressar poesias nas fotografias. "Poesia é tudo que fica depois que a arte passa, por isso que a poesia é marca registrada em minhas fotografias”. 

O contato com as câmeras surgiu por intermédio de um tio que fotografava o Nordeste. Esse tio fazia fotos para os moradores da região, com isso Imigrante foi criando conexão com as lentes.

Depois de um longo período de trabalho, finalmente ele conseguiu comprar a primeira máquina fotográfica, que não possuía lentes. Depois de muito esforço, conseguiu comprar os equipamentos necessários e dedicou-se a aprimorar suas fotografias, retornando ao estado de São Paulo para Bertioga. 





Fotografias e suas mensagens

 
O fotografo conta que em suas obras não podem faltar uma mensagem, poesia ou um motivo e sentimento por trás da fotografia.

“Antes de fazer um retrato de uma pessoa, eu preciso conhecer sua história, ter um dialogo. Geralmente, quando faço uma imagem com moradores de ruas, ter um bate-papo por horas para passar uma denúncia social carregada de uma poesia”.


As foto de Orlando Silva e de seu filho brincando com uma mangueira foram as mais marcantes para o nordestino, pois retratam diversas poesias e reflexões que podem ser compreendidas e analisadas de acordo com a visão de mundo do espectador. A técnica preto branco é utilizada para que os observadores construam o colorido em suas perspectivas.


                           

                                              

 

O reconhecimento internacional

A conquista do prêmio 35AWARDS 2019 fez Junior Imigrante se tornar o segundo brasileiro a ter vencido a categoria. “Essa premiação fez com que eu conseguisse chegar e mais lugares e espalhar minha arte para as pessoas e também alcançar mais lugares. Hoje tenho mais acesso para fotografar em diversos lugares”.

Para ele, o significado deste prêmio vai além de ter reconhecimento. “Eu já passei fome, sede e já passei despercebido”, ressalta bastante feliz com a conquista.

Neste ano, ele concorre em duas categorias do mesmo prêmio. Ele vem criando alguns projetos e recebendo convites para espalhar sua história e poesia para mais lugares.

Representação cultural

A Geografa Mari Barros é admiradora das fotografias de Junior Imigrante e conta que a característica marcante é a representação do Nordeste, tendo conexão com a poesia e um contexto histórico. “É como se as pessoas se sentissem à vontade, como se estivessem sem olhar a câmera. Passa uma mensagem de paz, equilíbrio, luta, e sobretudo representação cultural”. 

“Eu admito esse olhar voltado para o preto e branco tem traços marcantes. Parece que ele descreve a personalidade de cada pessoa. É como se cada foto tivesse uma mensagem, como chama-se para contar uma história. Acredito que isso seja a essência em um fotógrafo: fazer as pessoas se sentirem em casa diante de uma câmera. Acredito que isso torna mais leve. O trabalho em todas as fotografias é incrível. Todas as fotos são marcantes e significativas.”

 


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