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19/05/2021 às 17h18min - Atualizada em 24/05/2021 às 16h50min

Arteterapia: a arte em função da saúde mental

Psicólogos e arteterapeutas desfrutam da arte como ferramenta de trabalho na área da psicoterapia

Julia Gomes - editado por Larissa Nunes
Foto: espacoterapeuticopsi.com.br

A arte está presente no dia a dia das pessoas desde o início da humanidade. As pessoas a utilizam para expressar os seus sentimentos, pensamentos e vivências, sendo possível comunicá-los de maneira consciente e inconsciente, através de pequenos detalhes que podem ser observados, como traços, cores, formas, entre outros. Por conta disto, é possível que profissionais como psicólogos e arteterapeutas possam adotar esta prática em seus trabalhos, analisando a mensagem presente nas artes feitas pelos seus pacientes, e assim auxiliando-os de forma cada vez melhor.

 

Atualmente, a prática não se encontra restrita apenas a consultórios, podendo ser praticada nas áreas da Psicologia social, escolar, organizacional e hospitalar.

 

A arteterapia pode ser praticada por todas as pessoas, desde crianças até idosos. No entanto, não é qualquer pessoa que pode se denominar como um arteterapeuta, visto que esta prática é uma forma de terapia, é necessário que o profissional seja um Psicólogo, podendo ele ter pós-graduação em arteterapia ou não, além disso, também existem cursos oferecidos pela União Brasileira de Associações de Arteterapia (UBAAT) e pelas associações de arteterapia regionais, estes cursos são feitos em universidades e podem ser achados no site da UBAAT e das associações.


Como e quando surgiu a arteterapia

O estudo referente à arteterapia foi iniciado por Freud (1856-1939), segundo ele, o inconsciente se expressa por imagens, como as originadas em sonhos, assim as imagens criadas na arte seriam uma ponte de acesso ao inconsciente, sendo ela livre das censuras das palavras. Contudo, Freud não chegou a utilizar a arte como processo psicoterapêutico.

Em seguida, seu discípulo, Jung (1875-1961) desenvolveu a Psicologia Analítica, foi ele quem começou a utilizar a linguagem artística associada à psicoterapia. Segundo Andrade (2000), Jung pedia aos pacientes para desenharem ou pintaram seus sonhos, sentimentos, vivências e depois analisava as imagens feitas como uma simbolização do inconsciente individual e coletivo.


Arteterapia no Brasil

A arteterapia surgiu no Brasil durante a primeira metade do século XX, sendo usada em conjunto com a psiquiatria, e com forte influência das vertentes psicanalítica e junguiana. Sendo representada pelos psiquiatras Osório Cesar (1895-1979) e Nise Silveira (1905-1999), estes adotavam a arte em seus trabalhos com pacientes em instituições de saúde mental. 

Desde 1923, Osório trabalhava como estudante interno no Hospital Psiquiátrico de Juqueri, em Franco da Rocha- SP e a partir de 1925 começou a trabalhar oficialmente como médico. Em 1925, ele criou a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri e em 1948 se tornou organizador da 1° exposição de Arte do Hospital do Juqueri, no Museu de Arte de São Paulo.

Nise trabalhava no Centro Psiquiátrico D. Pedro II, em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Em 1946, ela assumiu a Seção de Terapêutica Ocupacional, onde os pacientes realizavam atividades expressivas, como pintura e modelagem. Em 1952, ela criou o Museu de Imagens do Inconsciente, composto pelas obras feitas pelos internos, de acordo com Alice Casanova dos Reis, doutora em psicologia social e professora de psicologia do Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC), o acervo conta mais de 300.000 documentos plásticos, entre telas, papéis e esculturas,

Em 1980, Maria Margarida M.J de Carvalho implantou o primeiro Curso de Arteterapia no Instituto Sedes Sapientae, em São Paulo e em 1982, foi criada a Clínica Pomar, no Rio de Janeiro, onde se oferece curso de formação em arteterapia de orientação junguiana.

 


 

Luana Borges Vedovello, 26 anos, moradora de São José Dos Campos- SP, arquiteta e arteterapeuta, diz que com início da pandemia a modalidade online da Arteterapia se popularizou, mesmo com seus prós e contras. 

Ela afirma que não são todas as pessoas que se sentem suficientemente acolhidas através da tela do computador e além disso, muitas pessoas possuem dificuldades tecnológicas, financeiras ou práticas, que não permitem um momento a sós com o profissional, ou uma boa qualidade de vídeo para diminuir as interrupções. Entretanto, para outros, a possibilidade de realizar as sessões em sua própria zona de conformo pode ser algo muito positivo.

“Vale destacar também que com este momento inovador e digital, as tecnologias adentraram a Arteterapia com novas atividades por aplicativos, softwares e até óculos de realidade virtual”, complementa Luana.

A profissional que possui graduação em Arquitetura e Arteterapia e atua nas duas áreas, acrescenta: “Seja na mais concreta e sólida Arquitetura, como na simbólica expressão do inconsciente que ocorre na Arteterapia, a criatividade se mostra como a melhor forma de resolver problemas”.

 


Erika dos Santos Souza, 35 anos, habitante de Campos do Jordão, arteterapeuta especializada em Psicopedagogia, Neuropsicopedagocia e Educação especial, diz:
 

“A arteterapia tem grandes contribuições no trabalho da psicopedagogia, permite que o indivíduo expresse suas emoções e apresente um melhor equilíbrio emocional,  permitindo a integração do aluno, adquirindo um maior desempenho, superando suas dificuldades presentes no processo de aprendizagem.”


Erika frisa que no processo de arteterapia não se analisa a estética do processo criativo do paciente e aponta os principais cuidados que precisa tomar para analisar o processo criativo dele:

  • O profissional ter o conhecimento sobre a técnica expressiva que está aplicando para melhor compreensão dos símbolos apresentado pelo paciente;

  • Respeitar as limitações do paciente diante da sua produção, deixando o mesmo a vontade para falar ou não da sua arte;

  • Permitir que o paciente se expresse (escrever ou falar) como foi sua produção;

  • Analisar os elementos do processo criativo com  cuidado e sensibilidade;

  • Não focar na estética;


Artes trabalhadas na Arteterapia:


Pintura:

A análise é feita através das cores utilizadas, disposição das figuras na tela e os traços de cada pincelada, tais aspectos remetem as emoções que a pessoa está sentindo naquele momento.
 


 

Desenho:

O desenho trabalha a forma como a pessoa enxerga as coisas, sendo possível compreender conflitos internos pelos temas retratados no desenho.

 


 

Dança:

A dança pode expressar diversos sentimentos, tanto negativos, como positivos, ela é capaz de auxiliar no controle emocional.

 


 

Contação e histórias e poesias:

Permite trabalhar com as relações interpessoais, observando como a pessoa se identifica com os personagens e situações vividas por eles.
 


 

Escrita:

O objetivo é que a pessoa escreva tudo que vier em sua mente e aquilo que ela costuma pensar. Pode ocorrer que o paciente não se sinta confortável em dizer algo, nesses casos a escrita faz com que ele consiga se expressar melhor.
 


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