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04/06/2021 às 13h16min - Atualizada em 29/05/2021 às 01h06min

A leitura nacional contemporânea está sendo valorizada?

Fatores como pouca leitura de autores nacionais contemporâneos, aumento dos e-books e da pirataria mostram que não

Ingrid Silva - Revisado por Isabela dos Santos
Instituto Pró-livro: Pesquisa "Retratos da Literatura no Brasil"
Foto: Reprodução/ UOL

A leitura é uma forma de aumentar o nosso conhecimento cultural, imaginário e até mesmo ajuda na escrita. Quanto mais as pessoas lêem, mais elas aprimoram a própria escrita e vocabulário. Em relação a qualquer gênero literário, os livros podem nos ajudar de alguma forma. 

No Brasil, a literatura não é demasiadamente valorizada como deveria. De acordo com a quinta edição da pesquisa “Retratos da Literatura no Brasil”, de 2019, 56% dos brasileiros leram pelo menos um livro nos últimos 12 meses, enquanto este percentual em 2015 era de 62%. Na pesquisa, a maioria das pessoas relataram a falta de tempo para se dedicar à leitura.

É possível perceber também nestes dados que grande parte dos últimos livros lidos pelos entrevistados não nacionais. E isso acontece frequentemente, mesmo tendo obras incríveis de autores clássicos brasileiros como Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, os leitores se esquecem ainda de valorizar os autores contemporâneos. Pedro Chrysostomo, de 22 anos, é um leitor assíduo desde os 6 anos, quando foi orador da sua turma na formatura da alfabetização. Ele conta que consome mais livros internacionais, principalmente por conta do gênero que prefere, como terror psicológico, ação, suspense e aventura. 

Hoje em dia a literatura brasileira não se encaixa apenas em romances. Existem livros de aventura a terror, tanto em meios físicos quanto em virtuais, os e-books. É possível perceber que não é tão comum e fácil de encontrar, mas é possível. Como, por exemplo, a página Divulga Nacional, que ajuda bastante na valorização dos autores nacionais, propagando obras tanto físicas quanto digitais. O trabalho pode ser encontrado também no Twitter e TikTok.

Algo que cresceu bastante com o passar dos anos foi a adaptação aos e-books. A mesma pesquisa do Instituto Pró-livro mostra que, em 2015, 34% dos leitores consumiam livros digitais, enquanto em 2019 isso aumentou para 48%. Pedro, assim como diversos leitores, era bastante conservador em relação aos livros físicos, gostava de sentir o tato e o cheiro do livro, passar as páginas, mas depois resolveu aderir à nova forma de leitura. 
 

Como todo período de evolução, eu acabei aderindo aos e-books, tanto pela praticidade quanto pela organização que você tem em relação ao Kindle ou ao aplicativo do Kindle em aparelho móvel e é todo um processo de aceitação de uma nova mídia. Foi algo muito benéfico pra mim, pois agora eu consigo abranger uma grande quantidade de livros que eu gostaria de comprar e que, possivelmente, eu não teria facilidade em ter acesso”, conta.

Camila Cerdeira, que escreveu “A física do amor” e “A noite cai”, acredita que os e-books facilitaram os leitores terem mais acesso à obras nacionais contemporâneas, passando a consumir mais após esse avanço dos livros digitais. 


 

Além disso, Camila contou também da maior dificuldade de um autor contemporâneo, que é a de inserção no mercado. 

“É muito difícil entrar no mercado através de publicações tradicionais. As editoras geralmente focam em autores e títulos internacionais. Isso está começando a mudar, mas o número de autores nacionais publicados ainda é uma porcentagem muito pequena se comparada a quantidade de autores produzindo. E mesmo na publicação independente ainda é preciso muito trabalho de marketing e presença online para conseguir um público consumidor”, explica. 

Já existiram diversos casos de pirateamento de e-books, inclusive nacionais, o que causou uma revolta nos autores, que ganham apenas centavos em páginas lidas e no máximo 70% do valor da obra (e vale lembrar que os livros digitais custam menos do que os livros físicos). A página citada anteriormente,Divulga Nacional, sempre publica os livros que constam como gratuitos pelo Kindle Unlimited, mas mesmo assim decidem piratear e desvalorizar mais uma vez o trabalho do escritor. 

Além de Camila, outros autores e leitores lembram das formas de valorizar mais o trabalho deles não somente adquiririndo o livro, como por exemplo, fazendo a avaliação da obra no final da leitura no Kindle. Ou até mesmo publicar sobre o livro e indicar a leitura às pessoas. Tudo é uma forma de ajudar e valorizar o trabalho dos escritores brasileiros. 


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