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08/06/2021 às 13h40min - Atualizada em 07/06/2021 às 16h20min

"Viver é um rasgar-se e remendar-se": criatividade na pandemia

O isolamento social estimulou pessoas a produzirem arte. Dedicação alivia o estresse, a ansiedade e pode virar fonte de renda

Bianca Mingote - revisado por Jonathan Rosa
(Foto: Reprodução/ Freepik/ Dashu83)

A pandemia da covid-19 obrigou o mundo todo a se isolar em casa – como resultado de uma das principais formas de evitar a contaminação com o novo coronavírus. A mudança de rotina, imposta pelo isolamento social, estimulou pessoas de diferentes idades a se dedicarem à arte, uma forma de manterem a mente focada em algo que não fosse a doença.

 

“Viver é um rasgar-se e remendar-se", a frase do escritor brasileiro Guimarães Rosa 

demonstra a particularidade da vida humana em se construir e reconstruir. Durante a pandemia, não poderia ser diferente, a reinvenção cultural provocada pelo período estimulou novos artistas a se expressarem na produção artística.

 

O isolamento social provocou diversas mudanças de rotina, como: fechamento de escolas, de universidades, de estabelecimentos comerciais e, com isso, muitas pessoas foram obrigadas a ficar em casa em trabalho remoto, sem contar que algumas perderam seus empregos. Para fugir da monotonia e do ócio instaurado, desenvolver habilidades artísticas foi a forma mais acessível e prazerosa que algumas pessoas encontraram.

 

O período, além de ceifar milhões de vidas, também mexe com a saúde psicológica de quem está isolado. Segundo matéria publicada no site da CNN Brasil, em fevereiro de 2021, uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP), em 11 países, apontou que o Brasil é o país que mais tem casos de depressão e ansiedade, 59% e 63%, respectivamente.

 

Aquarelas que curam

 

A aquarela é uma técnica de pintura que consiste em dissolver na água as massas coloridas, ou seja, os pigmentos que serão utilizados para a pintura.
 
A técnica é mundialmente conhecida e apreciada por um grande público. Soraya Costa, 45 anos, professora, faz parte desse grupo. Ela se intitula como aspirante à aquarelista e já passou por várias experiências de produções culturais, pintura a óleo, artesanato e scrapbooking. Por conta de problemas pessoais, deixou de lado a dedicação à arte e o apreço ficou adormecido por quase 20 anos.

 

Antes da pandemia, a professora já era acometida por ansiedade e depressão. “As crises de ansiedade eram muito fortes e se intensificaram com o isolamento social. Procurei ajuda terapêutica e no processo de análise pude perceber o quanto eu sentia falta de pintar, de me expressar através das cores”, conta.

 


Uma das telas pintada por Soraya. (Reprodução: @sorayaacosta2020)



Os benefícios adquiridos por meio da dedicação à arte são inúmeros. Para ela, pintar funciona como uma terapia e possibilitou conhecer diversas pessoas de várias partes do País. Relacionado a este contato com diversas culturas, Soraya Costa ressalta a oportunidade de ter cursos online com renomados professores de aquarela. “Se não fosse a pandemia, nunca teria a oportunidade de estudar com esses mestres”, destaca a docente. 
 
A criatividade é explorada fora dos momentos em que está fazendo alguma atividade do curso. Por meio da internet, busca imagens que possam servir de inspiração para criar. “Nos momentos que estou muito ansiosa a aquarela me ajuda a focar e relaxar. Coloco uma música e esqueço do mundo ao meu redor, me concentro somente nos sentimentos, nas cores fluindo sobre o papel”, relata.

 

 

Escrita criativa: espaço de expressão

 

A linguagem escrita é uma forma de expressão humana, assim como a facial, corporal e vocal. A estudante de enfermagem Caroliny Victoria, participa de um projeto de extensão da Universidade de Brasília (UnB) da Faculdade de Ceilândia (FCE) chamado Leituras Literárias Compartilhadas. Com a pandemia da covid-19 o grupo decidiu escrever um livro. A obra intitulada Retratos e memórias de uma pandemia, foi publicada em outubro de 2020 e contou com a participação de 24 escritores. A estudante foi convidada pelos mentores do projeto para coordenar a escrita do livro. 

 

Foi o primeiro contato de Caroliny Victoria com a escrita literária, que antes só era possível por meio da leitura. Para ela, escrever traz diversos benefícios como a liberdade de expressão, autodescoberta e criatividade.

Vejo a escrita criativa como uma forma de expressão. É ter a liberdade de poder escrever e colocar nas palavras os sentimentos, as ideias e o mundo da imaginação. O isolamento social aflorou ainda mais a minha capacidade de imaginar. Ficar sozinha também é uma forma de autodescoberta!

Amigurumi: arte japonesa como fonte de renda

 

A pandemia instaurou o desemprego na vida de muitos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no final de abril deste ano, o trimestre de dezembro a fevereiro atingiu recorde de 14,4 milhões de desempregados. Entre essas pessoas está Jéssica Rodrigues, 30 anos, formada em Recursos Humanos e estudante de ciências biológicas. 

 

Em meio ao cenário do desemprego e se dedicando à filha recém-nascida, encontrou na arte de fazer amigurumis um alento para passar o tempo e focar a atenção em algo que exige dedicação, paciência, planejamento e concentração. 

Amigurumi é uma técnica japonesa de crochê, em que utilizam-se linhas e agulhas, para confeccionar bichinhos e bonecos. As criações são inspiradas em animais, mas também há aqueles inspirados em objetos do cotidiano, na natureza e em personagens de filmes. 

 

Sem experiência com crochê, por meio de pesquisas na internet e compra de materiais, Jéssica Rodrigues começou a se dedicar à técnica japonesa e logo viu ali uma fonte de renda, hoje, a única. As confecções são publicadas em uma página no Instagram

Fazer amigurumis tem me ajudado bastante. Me distrai, me aproxima de pessoas que confiam no que eu faço e acaba ocupando ainda mais o meu tempo”, afirma.

 

Como a confecção é a sua renda principal, a produção dos bichinhos é guiada pela disciplina. Ela leva em torno de oito a 12 horas no total para produzir uma peça. (O período citado não é em apenas um dia, pois isso pode causar lesões). 

 

Na internet é possível encontrar os padrões, chamados de receitas, em que artesãs criam as técnicas de como fazer as peças e comercializam a interessados como Jéssica Rodrigues. “A minha mania de perfeição ficou muito aflorada depois que eu comecei a confeccionar amigurumis. Eu busco muitas técnicas que vão deixar o meu o mais perfeito possível”, comenta. 

 

Criatividade na pandemia

 

O desgaste emocional ocasionado pelo isolamento social pode ser contornado pelo estímulo da criatividade por meio da arte. Com isso, o indivíduo pode cuidar da saúde mental com algo que sinta prazer.

 

Estimular a criatividade em uma atividade artística faz com que haja a liberação de tensões de emoções e isso pode auxiliar a enfrentar o período de uma forma melhor.

 

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