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13/06/2021 às 08h02min - Atualizada em 13/06/2021 às 09h16min

A representação LGBTQ+ nos desenhos animados ocidentais

Diversidade nas séries animadas tem tido grande evolução nos últimos anos

Mayra Cardozo - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Cartoon Network / Reprodução: Google
Em junho, é comemorado o Mês do Orgulho LGBTQ+. Isso porque, no dia 28 desse mês, no ano de 1969, ocorreu a Rebelião de Stonewall, considerada o marco inicial do movimento LGBTQ+ contemporâneo.  Desde então, a luta dessa comunidade avançou muito, e um dos temas que entrou bastante em pauta foi a representação de pessoas LGBTQ+ em filmes, séries, jogos e, mais recentemente, desenhos animados.

No caso das séries animadas, a evolução da representatividade LGBTQ+ muitas vezes foi barrada pelo fato de muitos acreditarem (sem necessidade) que seria prejudicial incluir a temática em produções para crianças ou adolescentes. Por isso, mesmo quando se tentava incluir assuntos relacionados à comunidade LGBTQ+ nos desenhos, muitas vezes isso era censurado.

Porém, é importante que personagens LGBTQ+ apareçam nas séries animadas e sejam representados com cada vez mais naturalidade. Dessa forma, os jovens poderão aprender a respeitar a diversidade e aqueles que se identificarem como parte da comunidade LGBTQ+ conseguirão se ver na tela e entender que não há nada errado em ser quem são.
 
Confira abaixo um resumo da evolução da representação LGBTQ+ nas séries animadas ocidentais (nos animes, a história é um pouco diferente) nas últimas décadas:


Antes do anos 90
 
Antes dos anos 90, era muito difícil encontrar personagens LGBTQ+ na séries animadas e, mesmo quando eles existiam, isso não era dito de forma clara nos episódios. Além disso, muitas vezes personagens do gênero masculino se comportavam de maneira “mais feminina” ou “se vestiam de mulher” em algumas cenas apenas para fins cômicos (isso ocorreu, por exemplo, com Pica-PauPapa-Léguas e Coiote e, principalmente, o Pernalonga), ridicularizando assim a comunidade.

Porém, as pessoas pertencentes à comunidade, assim como qualquer outra, queriam se ver representados na tela. Por isso, elas adotavam certos personagens como parte da sigla LGBTQ+, mesmo que isso não fosse confirmado pelos criadores das séries animadas.

Esse é o caso, por exemplo, do Leão da Montanha, cujo desenho teve sua transmissão original em 1961. Ele falava de forma teatral e tinha uma personalidade masculina menos tradicional e, apesar de isso não ser algo que defina necessariamente a sexualidade ou a identidade de gênero de alguém, essas características fizeram com que ele fosse um desses personagens que a comunidade LGBTQ+ acolheu na busca por identificação na tela. Bem mais tarde, em 2017, o Leão da Montanha ganhou uma HQ na qual foi apresentado abertamente como homossexual.

Outra personagem que apenas recentemente foi confirmada como parte da comunidade LGBTQ+ é a Velma, da turma do Scooby-Doo, que apareceu pela primeira vez em uma série animada em 1969. Na época em que os episódios foram produzidos, a sexualidade da personagem nunca foi dita abertamente. Porém, em 2020, o produtor de diversos desenhos do Scooby-Doo, Tony Cervone, confirmou em suas redes sociais que Velma é lésbica, coisa que vários fãs já haviam percebido por conta de “pistas” nas séries animadas.

 
Anos 90 e década de 2000
Na década de 90, os desenhos animados começaram a ter uma maior liberdade do que tinham anteriormente, sendo que tanto seus traços quanto suas histórias se tornaram mais autorais. Além disso, fizeram sucesso nessa época vários desenhos adultos (Os Simpsons e South Park, por exemplo), que tocavam em assuntos geralmente proibidos nas produções animadas.

Porém, apesar de essas séries animadas para adultos terem apresentado alguns personagens da comunidade LGBTQ+, eles eram, na sua grande maioria, muito estereotipados, ridicularizados e tratados como piada. Assim, há vários casos de personagens dessa época que só tiveram a sua sexualidade discutida ou apareceram com parceiros do mesmo sexo nos anos 2000.
 
Essa situação ocorreu, por exemplo, com Patty, irmã de Marge em Os Simpsons. Apesar de estar na série desde o seu início, a personagem (que é lésbica) apenas apareceu com uma parceira em 2005, na 16ª temporada. Ainda nos anos 2000, surgiram desenhos como Ei, Arnold!, que conta com personagens da comunidade LGBTQ+, apesar de isso só ter sido confirmado recentemente.

A partir de 2010
A partir dos anos 2010, a representação LGBTQ+ nas séries animadas ocidentais teve uma grande evolução. No início da década, a maior inclusão da diversidade foi feita a partir da aparição rápida de personagens da comunidade ou do uso do subtexto.

Porém, mais para o final da década (e no início dos anos 2020), a representatividade LGBTQ+ nos desenhos começou a ser feita de forma mais natural. Além disso, os personagens da comunidade passaram a ter papéis de mais destaque nas tramas.

Há várias razões para essa evolução ter acontecido. Algumas delas são: a pressão da Internet para que houvesse mais representatividade nas produções; a insistência dos criadores dos desenhos para que essa diversidade fosse incluída; e a ascenção dos streamings (na TV, havia a necessidade dos anunciantes, que muitas vezes não queriam estar associados à temática LGBTQ+).

Foi assim que puderam acontecer diversos marcos na representação LGBTQ+ nas séries animadas, como: o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo em um desenho da Disney (2017), em Star VS As Forças do Mal; o primeiro casamento de um casal do mesmo sexo em uma série animada (2018), em Steven Universo; e a primeira personagem bissexual em uma série de animação da Disney (2020), a protagonista de A Casa da Coruja.

 
Também ocorreu, em 2018, o primeiro beijo entre Princesa Jujuba e Marceline, no último episódio de Hora de Aventura. Os fãs suspeitavam há muito tempo que as personagens já tivessem formado um casal - informação, inclusive, que havia sido confirmada por uma das dubladoras do desenho em 2014.
 
Além desses, muitos outros desenhos recentes têm trazido mais diversidade. Pode-se perceber, dessa forma, que a evolução que ocorreu nas últimas décadas foi muito significativa.
 
E, considerando-se a importância da representação LGBTQ+ nas séries animadas, é necessário que ela continue melhorando sempre (representando mais todas as letras da sigla LGBTQ+, não apenas as três primeiras, por exemplo). Dessa forma, essa representatividade nos desenhos poderá facilitar que a diversidade seja vista pelas pessoas de uma forma cada vez mais natural!
 
Confira outros personagens da comunidade no vídeo:
 

REFERÊNCIAS:
9 MOMENTOS em que personagens LGBTs de animações foram censurados na TV. Empoderadxs, 12 de jun. 2018. Disponível em: <https://empoderadxs.com.br/2018/07/12/9-momentos-em-que-personagens-lgbts-de-animacoes-foram-censurados-na-tv/>. Acesso em: 07 de jun. 2021.

CARMELO, B. Opinião: Por que os personagens gays da Disney incomodam, mas não precisariam incomodar. Adoro Cinema, 07 de mar. 2017. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-129227/>. Acesso em: 11 de jun. 2021.

CORAL, G. Disney faz história e revela seu primeiro personagem bissexual. Observatório do Cinema, 2020. Disponível em: <https://observatoriodocinema.uol.com.br/series-e-tv/2020/08/disney-faz-historia-e-revela-seu-primeiro-personagem-bissexual>. Acesso em: 11 de jun. 2021.

DEARO, G. Disney tem primeira personagem bissexual em desenho animado. Exame, 17 de ago. 2020. Disponível em: <https://exame.com/casual/disney-tem-primeira-personagem-bissexual-em-desenho-animado/>. Acesso em: 11 de jun. 2021.

FILIZOLA, R. Representação LGBTQIA+ nos desenhos animados. Cosmo Nerd, 07 de mai. 2021. Disponível em: <https://cosmonerd.com.br/opinanerd/representacao-lgbtqia-nos-desenhos-animados/>. Acesso em: 11 de jun. 2021.

GARCIA, R. Dez vezes em que personagens dos desenhos se vestiram de mulher. Veja São Paulo, 29 de nov. 2017. Disponível em: <https://vejasp.abril.com.br/blog/memoria/personagens-masculinos-se-vestiram-de-mulher/>. Acesso em: 11 de jun. 2021.

HELENA, L. Você sabe por que junho é o mês da Parada do Orgulho LGBT?. Cláudia, 20 de jan. 2020. Disponível em: <https://claudia.abril.com.br/sua-vida/voce-sabe-por-que-junho-e-o-mes-da-parada-do-orgulho-lgbt/>. Acesso em: 11 de jun. 2021.

KÖRNER, J. A História LGBTIA+ nos Desenhos Animados ️‍. Juliana Körner, 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tkbp7hQHFa0>. Acesso em: 07 de jun. 2021.

MARQUES, Mariana. Mais do que animações coloridas: animações em arco-íris. Jornalismo Júnior, 26 de fev. 2021. Disponível em: <http://jornalismojunior.com.br/personagens-lgbt-nas-animacoes/>. Acesso em: 07 de jun. 2021.

UMA resumida história dos personagens LGBTs em desenhos animados infantis. Dentro da Chaminé, 3 de dez. 2016. Disponível em: <https://dentrodachamine.wordpress.com/2016/12/03/uma-resumida-historia-dos-personagens-gays-em-desenhos-animados-infantis/>. Acesso em: 07 de jun. 2021.
 

 

 


 
 
 

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