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15/08/2021 às 15h45min - Atualizada em 16/08/2021 às 16h26min

Cinema | Uma crítica sobre a série Halston

Uma produção que mostra a carreira de um dos personagens mais significantes da moda estadunidense, Halston viveu sua fama e sua queda.

Igor Guedes - Revisado por Isabelle Marinho
Reprodução: Netflix
A série documental Halston, baseada no livro Simply Halston de Steven Gaines, foi lançada em 14 de maio pela Netflix e conta a vida e carreira do estilista Roy Halston Frowick. Com um gênero dramático, roteiro de Ryan Murphy e a direção de Daniel Minahan, as cenas são bem intensas, mostrando uma conexão do sucesso ao fracasso de um ícone da moda.

Apesar da inteligência, talento e criatividade, o estilista perdeu algo essencial em sua jornada, o que o levaria à loucura e resultaria em um drama existencial na sua vida. O roteirista acertou com a dramaticidade e intimidade que levou ao público, considerando que em muitas cenas Halston tem flashbacks do passado até a fase adulta, onde carrega seus maiores medos e traumas.

A obra também revela uma relação muito intimista entre o estilista, interpretado por Ewan McGregore sua melhor amiga e cantora Liza Minnelli (Krysta Rodriguez), que é uma das musas que inspirou Halston a prosseguir na carreira.

Mesmo sendo uma obra que instiga o telespectador a assistir mais de uma vez, a série poderia ter mostrado em maiores detalhes alguns aspectos da vida profissional do estilista. Como, por exemplo: quando ele iniciou sua carreira em 1950 fazendo chapéus para mulheres. Além do momento em que o estilista foi chefe de modelagem na loja de departamentos Bergdorf Goodman, o que também não foi mencionado.

Algumas cenas que remetem à vida do estilista:

Uma das cenas destaque da produção ficou por conta de Jaqueline Kennedy, que em 1961 vestiu o famoso chapéu Pill Box na posse de John Kennedy como Presidente dos Estados Unidos. Assim, a primeira-dama foi responsável pelo reconhecimento do costureiro no mercado, porque após ser vista com uma peça de Halston, muitas mulheres tiveram o desejo de ter um chapéu desenhado por ele.

Outro momento marcante foi o primeiro desfile do protagonista com sua marca própria no verão de 1968. Para sua estreia, Halston contou com uma equipe excêntrica: o ilustrador Joe Eula (Dabid Eula), a modelo italiana Elsa Pretti (Rebecca Dayan) e o vitrinista Joel Schumacher (Rory Culkin). Um fato em comum no grupo é que todos eles foram rejeitados pelas suas famílias e decidiram "tomar as rédeas" de suas vidas.

A atriz Rebecca Dayan teve um desempenho excelente no papel de Elsa Pretti, modelo e designer de joias. Do começo ao fim é perceptível o amadurecimento da personagem, que se tornou uma mulher forte e independente. Entretanto, no momento em que sua estrela começou a brilhar e se destacar, seu relacionamento com Halston foi abalado. Na série é vista a intimidade que os dois tiveram e a aproximação, como se fossem grandes irmãos.



A Batalha de Versalhes, em 28 de dezembro de 1973, foi um marco na carreira do estilista, que teve apenas 2 semanas para preparar um desfile e exibir na França, no Palácio de Versalhes. Na época, designers americanos e europeus "duelaram" no evento para mostrar o que há de melhor na moda de cada país. Entre os americanos estavam: Halston, Bill Blass, Oscar de la Renta, Anne Klein Stephen Burrows. Enquanto a Europa contava com: Dior, Givenchy, Emanuel Ungaro, Pierre Cardin Yves Saint Laurent.

Nesse momento, quem se destacou, conseguiu impulsionar a moda e ganhou muito prestígio da imprensa internacional. Uma das principais motivações do evento, além de arrecadar fundos para a restauração do Palácio de Versalhes, era desconstruir a ideia de que apenas a moda europeia era significante, o que foi histórico para a época. Desta forma, Halston através de suas roupas fluídas com brilho, decote V e plissada colocou a moda estadunidense no reconhecimento e destaque internacional.

Com fama, sucesso, aclamado e um novo endereço para seu ateliê na Olympic Tower, o protagonista começou a desenvolver produtos para sua grife. Entretanto, as recordações da vida e sentimentos em memórias continuava muito presentes em sua vida, o que acabou o comovendo e desetabilizando bastante.

Os anos 70 chegaram e com a disco e o famoso Estúdio 54, Halston virou o "queridinho" da época. Apesar de fazer uma moda luxuosa, ele conseguiu utilizar ela de forma refinada: o ultrasuede (tecido sintético de microfibra) foi usado por muitas mulheres por ser uma peça prática para passear, levar os filhos à escola e utilizar no dia a dia. Os vestidos frente única também foram um sucesso, sua amiga Liza vestiu diversos desses modelos, o que viralizou na época.

 

A queda de Halston:


O seu amante Victor Hugo (Gian Franco Rodriguez) representou uma grande influência para o declínio de Halston. Após começar a ser um "fanfarrão" noturno, frequentar o Estúdio 54, e passar dias movido apenas por drogas, o investidor da marca, David Mahoney (Bill Pullman), demonstrou preocupação com as vendas e os negócios, além da reputação do seu grupo empresarial.

Com o psicológico abalado, falta de controle emocional, físico e mental, o estilista teve uma grande perda em sua vida. Seus relacionamentos começaram a quebrar: Joe e Elsa se afastam dele, pois estavam cansados de suas atitudes e de serem apenas uma sombra do estilista. A Lisa foi fiel e compreensiva e acompanhou Halston até o final da sua vida, mesmo diante de tantos erros e feridas que ele causou nas pessoas e em seu próprio nome.

Em 1984, viveu uma crise na carreira e vida pessoal e a imprensa considerou seus desfiles um fracasso. Estagnado, Halston vendeu seu nome para uma moda barata e sem prestígio, porque, nesse momento, o estilista não se importava mais com as críticas.

O designer de moda se perdeu de si mesmo. Seu único objetivo passou a ser o dinheiro e não mais a paixão na criação, e com uma carreira jogada no lixo e sem essência, quis apenas desaparecer, o que o levou a dizer: “sou um artista que só pensa em dinheiro” e isso o limitou para as possiblidades de trabalho.

Sobre a produção:

A série tem momentos importantes de reflexão e você pode ficar vidrado na tela. Mas, o diretor perdeu a chance de aprofundar e aumentar o número de episódios, visto que alguns passam de forma veloz. Com isso, certos fatos do enredo podem gerar dúvida no telespectador que deseja conhecer melhor o conteúdo, contexto histórico e cultural, além da vida pessoal de Halston.

A fotografia e os enquadramentos foram o ponto que deram toda a dramaticidade e alusão aos personagens e todo o contexto da história. Nas cenas marcantes e conflituosas, o diretor de fotografia usou o close, mas para garantir a emoção e proximidade, em algumas cenas foi usado o plano americano. Em momentos mais comuns, o diretor preferiu utilizar planos gerais para mostrar o requinte e a sofisticação da decoração nos ambientes, além do desfoque no fundo das imagens que destacou os protagonistas.

A iluminação deu um tom que combinou com todos os momentos da trama. Em muitas cenas, apareceu de forma mais escura, o que leva ao público a pensar que aconteceria um problema ou dilema, não necessariamente segue essa ordem. Foi genial a forma como conseguiram brincar e formar um verdadeiro jogo na iluminação, seja em uma apresentação musical, desfile, dança ou uma cena mais isolada.

 
Se após essa crítica você ainda não sentiu vontade de assistir à produção, confira o trailer da série:

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